27/10/2006

JUSTIÇA – PUNIÇÃO OU IMPUNIDADE

“É impossível rememorar Vicente sem todo aquele calor humano que irradiava dele: é de certa forma a minha homenagem póstuma pessoal a um amigo querido e a um ser humano insubstituível na história e vida dos Enawenê  e do indigenismo.


É a minha gota de orvalho nessa falta de memória histórica e impunidade assombrosa deste país.


Para mim, Vicente continua bem vivo, e ter continuado no indigenismo por todos esses anos faz parte faz parte da contribuição e do exemplo de sua vida”


(Rosa Cartagenes, trabalhou com Vicente logo antes de seu assassinato)


 


 


Cuiabá amanheceu quente. As manchetes estampam as novas (e velhas) informações sobre sanguessugas e dossiês. Espaço acanhado para o julgamento dos responsáveis pelo assassinato de Vicente Cañas que entra na sua reta final. O veredicto está próximo. Já entramos no quarto dia de julgamento.


 


A estratégia até agora manifestada pela defesa do réu é de desqualificar os depoimentos dos índios, no qual ele é apontado como quem teria agenciado e pago os pistoleiros, com dinheiro recebido pelo dono da fazenda Londrina.


 


Na celebração da memória, em que é pedida a intercessão de Vicente e de todos os mártires, o Pe. Luiz lembrou: “ainda bem que a justiça divina não tem as mesmas amarras da justiça humana…”. Foram feitas preces pedindo que na justiça humana não prevalecessem os interesses e privilégios de alguns, em detrimento da verdade e da justiça. Para que a justiça divina ilumine esse julgamento.


 


A vez dos índios


Após terem sido ouvidas quatro testemunhas de acusação, nesta manhã iniciou-se a tomada do depoimento do índio Rikbatsa Paulo Tompeba, que vive na aldeia Santa Rita, que é uma das 32 aldeias daquele povo. Ele está sendo ouvido sem a presença do réu, ex-delegado de Juína, Ronaldo Osmar. Ele preferiu o depoimento na ausência do réu porque já recebeu ameaças, pelo fato de ter informações a respeito do assassinato do Irmão Vicente.


 


“A gente não é Deus para adivinhar as coisas” disse Paulo, respondendo a uma das perguntas do juiz sobre a narrativa que ele ouviu em Castanheira, próximo da estação rodoviária.Paulo Tompeba explica que Tompeba é seu apelido que recebeu de pequeno. Com voz forte e decidida vai respondendo às perguntas do juiz Jéferson Schneider, que está presidindo o julgamento.


 


Após o depoimento de Paulo, será inquirido o outro Rikbatsa que ouviu a história do envolvimento, Adalberto. Esses depoimentos são considerados decisivos para o resultado do julgamento.


 


Depois de 19 anos, o fim da impunidade dos assassinos de Vicente Kiwxi está mais próximo!


 


Egon Heck

Cuiabá, 27 de outubro de 2006

Fonte: Cimi
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