24/10/2006

Poemas de Vicente Cañas sobre a vida dos Enawenê-nawê

Destruição Cultural


Nômade Salumã*


Navegando quer estar


Quereis matar a curiosidades


Ma jamais a vais saciar


A destruição vossa lentamente chegará


 


(*como os Enawenê-nawê eram conhecidos)


 


Suave despertar


Suave despertar flautas e entoar


Suave despertar cantos a cantar


Suave despertar louvando ao criador estão


Suave despertar cuias de queterá*


Suave despertar fogo a iluminar


Suave despertar homens a dançar


Suave despertar crianças a espiar


Suave despertar cultura a escutar


Suave despertar resto do dia vivem em paz


Suave despertar mulheres água a procurar


Suave despertar pilões a escutar


Suave despertar crianças a chorar


Clarear o dia cada um ao seu lugar


Clarear o dia vão a trabalhar


Ao cair do dia alimentos trazem


À noite dormem em paz


 


(*bebida à base de mandioca)


 


Morte Carinhosa


Kayiko, morte da tua mulher


Que tristeza dá


Quantos choros


Quantos carinhos que faz a gente pensar


Quantos preparativos para a mulher enterrar


Que linda casca para a defunta enrolar


Que quente o fogo para os pertences queimar


Morte tranqüila que faz pensar


Linda a vida a mulher a levar


Triste separação que faz chorar


Um dia não muito longe encontrarás


E eternamente não separar.


 


Latifúndios desgraçados


Latifúndios desgraçados


Perambulando estais


Querendo tomar as terras dos Salumã


Maldito imóvel que cria mal estar


Dinheiro do povo que roubando estais


Destruição das matas para nada criar


Dinheiro em abundância fazendo gente matar


Jagunços e gatos a contratar.


Latifúndio que oco e bichado estás Políticos no meio para os animar

Harmonia do universo chorando vai.

Fonte: Cimi
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