Poemas de Vicente Cañas sobre a vida dos Enawenê-nawê
Destruição Cultural
Nômade Salumã*
Navegando quer estar
Quereis matar a curiosidades
Ma jamais a vais saciar
A destruição vossa lentamente chegará
(*como os Enawenê-nawê eram conhecidos)
Suave despertar
Suave despertar flautas e entoar
Suave despertar cantos a cantar
Suave despertar louvando ao criador estão
Suave despertar cuias de queterá*
Suave despertar fogo a iluminar
Suave despertar homens a dançar
Suave despertar crianças a espiar
Suave despertar cultura a escutar
Suave despertar resto do dia vivem em paz
Suave despertar mulheres água a procurar
Suave despertar pilões a escutar
Suave despertar crianças a chorar
Clarear o dia cada um ao seu lugar
Clarear o dia vão a trabalhar
Ao cair do dia alimentos trazem
À noite dormem em paz
(*bebida à base de mandioca)
Morte Carinhosa
Kayiko, morte da tua mulher
Que tristeza dá
Quantos choros
Quantos carinhos que faz a gente pensar
Quantos preparativos para a mulher enterrar
Que linda casca para a defunta enrolar
Que quente o fogo para os pertences queimar
Morte tranqüila que faz pensar
Linda a vida a mulher a levar
Triste separação que faz chorar
Um dia não muito longe encontrarás
E eternamente não separar.
Latifúndios desgraçados
Latifúndios desgraçados
Perambulando estais
Querendo tomar as terras dos Salumã
Maldito imóvel que cria mal estar
Dinheiro do povo que roubando estais
Destruição das matas para nada criar
Dinheiro em abundância fazendo gente matar
Jagunços e gatos a contratar.
Latifúndio que oco e bichado estás Políticos no meio para os animar
Harmonia do universo chorando vai.