11 povos participam de mobilizações pelo rio São Francisco
Uma dança do toré (cerimônia indígena, onde os participantes buscam encontrar-se com seus antepassados e encontrar forças para enfrentar suas lutas) e uma manifestação na ponte sobre o Rio São Francisco, que separa a aldeia indígena dos índios Truká e a cidade de Cabrobó, marcaram o encerramento, na tarde desta sexta-feira, das mobilizações dos povos indígenas nos Estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe pela revitalização do rio São Francisco e contra os projetos de transposição. Representantes de 11 povos indígenas, da Igreja Católica, quilombolas, trabalhadores rurais e organizações não-governamentais (ONGs) também participaram das manifestações.
Os manifestantes pretendiam realizar, após as cerimônias na beira do Rio São Francisco, uma passeata pelas ruas da cidade de Cabrobó, mas acabaram desistindo por causa do clima de animosidade na região.
Os protestos contra a transposição começaram desde o dia 4 de outubro, data do aniversário do Rio São Francisco, em toda a região do Submédio e Baixo São Francisco, onde vivem 11 povos indígenas, e lembraram também um ano da greve de fome do bispo de Barra, dom Luís Flávio Cappio, entre 26 de setembro e 4 de outubro de 2005, na pequena Capela de São Sebastião, na entrada da cidade de Cabrobó, a 180 km de Juazeiro Estado da Bahia.
Atos e acampamento contra transposição marcam semana
Um acampamento aconteceu até o dia 6, dia em que, há um ano, frei Dom Luiz Cáppio iniciou uma greve de fome, interrompida dez dias depois.
No acampamento, a discussão girou em torno de um projeto Popular para unificação de luta e projeto para uma verdadeira revitalização da bacia e de convivência com o semi-árido.
Embora Dom Frei Luis Cáppio não tenha podido participar, seu assessor Adriano esteve presente e trouxe a alegria que o D. Cáppio sente em saber que os movimentos populares estão dando continuidade a essa articulação, que visa acima de tudo garantir vida em abundância para todos.
Nesse encontro foi construída, por todos os participantes, uma proposta conjunta de projeto popular para a revitalização do Rio São Franciso, que tem como bases o respeito à s terras indígenas, quilombolas e de outras populações tradicionais, que precisam ser demarcadas e regularizadas; revitalização do que já fora destruído do Bioma Caatinga, dando possibilidade a essas populações de praticarem sua medicina tradicional; uma reforma agrária ampla; ação eficaz no combate a poluição da bacia do São Francisco; programas de recuperação das matas ciliares.
Instituições e os povos indígenas presentes assumiram compromissos concretos de como vão atuar, exigindo do governo que par com esse discurso de que aqueles que são contrários à transposição estão sendo egoístas, pois esse comportamento é uma prática antiga, de se livrar de um problema jogando as organizações e o povo uns contra os outros.
Participaram também o Ministério Público da Bahia, através da Dra. Luciana Khouri;os Movimentos dos Pequenos Agricultores (MPA – AL, SE, PE, BA, PB e coordenação nacional), dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e dos Atingidos por Barragem (MAB); Comissão Pastoral da Terra (CPT); Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP); Articulação do Semi-Árido (ASA), IRPAA, Universidade Estadual da Bahia (UNEB), Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME), Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e Coordenação nacional da Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), entre outros.
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Roberto Saraiva (Cimi NE), com informações do Conselho Pastoral dos Pescadores e da Comissão Pastoral da Terra