17/09/2006

Estamos enterrando nossos lutadores

Ainda impactados com a ausência de Dom Luciano, somos agora surpreendidos pela dolorosa notícia da morte de nosso companheiro e irmão Franco. Quando a morte chega assim de repente, surpreendendo todo mundo, ficamos perplexos, a perguntar – será verdade? No instante seguinte a dor da ausência começa se aninhar na gente e aos poucos como um filme editado às pressas, vão desfilando as imagens do amigo e companheiro de tantas jornadas e lutas.


 


Para nós do Cimi a dor é redobrada.  Não sentimos apenas a perda do companheiro que, com sua sabedoria e sorriso, alentou tantas lutas pelos direitos dos povos indígenas e pela missão neste mundo afora, mas sentimos a súbita partida do pai, do irmão mais velho, do amigo, do animador da missão e da mística que anima nossas lutas pela vida e pelos direitos dos povos indígenas e dos excluídos. Mais do que isso, nos sentimos privados de quem tão profundamente acreditou e impulsionou nosso plano de pastoral.


 


Enquanto o coração vai pulsando ao ritmo dolorido da ausência, não podemos deixar de lembrar as belas e corajosas imagens do Franco, em seu batismo na questão indígena, como ele costumava afirmar, quando em Coroa Vermelha, por ocasião da Conferência Indígena 2000, quando as elites celebraram 500 anos do início da invasão, ele enfrentou a repressão comandada pelo coronel Muller. Muitos índios ficaram feridos e D. Franco ficou retido por algum tempo. Foi um momento forte em que o presidente do Cimi soube estar ao lado dos povos indígenas e dos missionários que ali estavam. Não se ausentou do confronto. E por ocasião da celebração dos 500 anos de Evangelização, teve a coragem de, juntamente com um pequeno grupo de bispos, registrar sua discordância com tais comemorações.


 


Ainda sob o impacto da morte ocorrida há poucas horas, fica difícil de expressar o turbilhão de sentimentos que toma conta da gente. O que de melhor podemos fazer e dizer nessa hora é nossa profunda e eterna gratidão ao amigo e irmão D. Franco, pelo testemunho sincero, franco e profético que ele nos deixa.


 


Neste clima de partida de representantes de toda uma geração de lutadores, dos quais D. Franco talvez fosse um dos irmãos mais novos, lembramos o que repetia recentemente um companheiro de fé e luta: “estamos enterrando nossos lutadores de uma geração de bispos testemunhos proféticos na luta pela vida, justiça e solidariedade”.


 


Campo Grande (MS), 17 de setembro de 2006.


 


Egon Heck


Cimi Regional Mato Grosso do Sul


 

Fonte: Egon Heck
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