14/09/2006

Informe n.º 732: Missionários estudam religião dos Munduruku em Santarém, no Pará

Como missionários e religiosos podem atuar com povos indígenas respeitando a religião deles? Como uma missão com quase 100 anos pode mudar os rumos de seu trabalho e passar a fortalecer a religião do outro?


 


Para começar, é preciso entender a religião alheia e compreender de que forma ela tem sido transformada, seja pelas mudanças no conjunto da vida indígena, seja pela presença da própria missão. Com estes desafios, 20 religiosos e leigos estão reunidos desde terça-feira (12/9), em Santarém, Pará, estudando a religião do povo Munduruku, que vive nas proximidades do rio Tapajós, no sudoeste paraense.


 


“Não estudamos uma outra religião para acreditar nela, mas para compreendê-la”, sintetiza Lucia Rangel, antropóloga que assessora o encontro. “Em geral, as religiões indígenas têm concepções diferentes das crenças ocidentais sobre a vida e a morte, o corpo e a alma, a ligação entre religião e trabalho. Estas são atividades que não acontecem fragmentadas. Enquanto trabalham, os povos rezam. Enquanto comem e bebem, transcendem. É um mundo integrado”, afirma Rangel.


 


Da mesma forma, as instâncias da vida social Munduruku são profundamente relacionadas. A caça é atividade econômica, mas tem também valor social, pois as habilidades necessárias para ela são as mesmas necessárias para a guerra, e esta é uma sociedade tradicionalmente guerreira. A caça está relacionada a atividades religiosas porque sua realização precisa ser preparada de forma ritual, já que os animais também possuem espíritos. E os espíritos dos bichos são femininos: cada animal tem um espírito-mãe. Assim, a caça é uma atividade masculina, mas cabe às mulheres proteger a caça. São papéis distintos e complementares.


 


Até sexta-feira, o grupo pretende compreender melhor as formas espirituais deste povo que foi guerreiro, agricultor e caçador durante muitos séculos, e que vem convivendo com outras formas de produção, como a extração do látex, a criação de gado, e o garimpo. Estas atividades trazem mudanças para o cotidiano e, portanto, para as relações sociais entre os Munduruku, o que leva a reordenamentos de seus elementos religiosos.


 


Missão reavaliada


 


Construída pela Igreja Católica há cerca de 100 anos, a missão francisclariana que atua com os Munduruku passa, desde o ano 2003, por um intenso processo de avaliação. As mudanças começaram pelo reordenamento interno: o trabalho que antes era desenvolvido em paralelo por frades franciscanos e por irmãs do Imaculado Coração de Maria passou a ser coordenado conjuntamente pelos grupos, através de uma Aliança Francisclariana. Todas as dimensões do trabalho da missão – em saúde, educação e evangelização – têm sido revistas. Eles pretendem que a escola da missão seja, no futuro, administrada pelos indígenas e, desde antes da avaliação, já vinham buscando uma educação bilíngüe, respeitando o idioma aprendido em casa pelas crianças. Agora, seguem o trabalho construindo materiais didáticos indígenas.





 


Funai envia documentos ao MJ comprovando que Aracruz Celulose ocupa terra indígena no ES


 


Com 22 dias de atraso, a Fundação Nacional do Índio (Funai) enviou no dia 12 de setembro ao ministro da Justiça os documentos que comprovam que áreas do município de Aracruz, no Espírito Santo, são território dos povos Tupinikim e Guarani e devem ser demarcadas. O parecer se refere às áreas de Comboios, Caeiras Velha e Pau Brasil.


 


O prazo legal para o envio dos documentos era o dia 20 de agosto. Agora, segundo o Decreto 1775/96, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos tem 30 dias (até 12 de outubro), para assinar a portaria declaratória corrigindo os limites da terra de 7 para 18 mil hectares. Caso não concorde com o parecer, ele também pode retornar o processo para a Funai, pedindo mais informações, ou arquivá-lo.


 


Desde a semana passada os indígenas cobravam uma atitude da Funai. Entre os dias 6 e 12 deste mês, cerca de 200 indígenas ocuparam a área reivindicada, que está ocupada por plantação de eucaliptos da empresa Aracruz Celulose. Eles derrubaram árvores e queimaram as toras como forma de protesto. Os indígenas interromperam a derrubada, mas ainda estão na área e só sairão quando o ministro da Justiça assinar a portaria declaratória.


 


Segundo Winie Overbeek, da Ong Fase, a Aracruz está fazendo uma campanha de difamação aos Tupinikim e Guarani. A empresa tem distribuído panfletos em escolas e faculdades onde divulga os mesmos argumentos que usou na contestação enviada à Funai. Alega que a região nunca foi ocupada por estes povos e diz que os atuais representantes dos Tupinikim e dos Guarani não são indígenas.


 


A assessoria do ministro da Justiça informou que o parecer enviado pela Funai está sendo analisado pela Consultoria Jurídica do Ministério.


 


Brasília, 14 de setembro de 2006.


 


Cimi – Conselho Indigenista Missionário


 

Fonte: Cimi - Assessoria de Imprensa
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