12/09/2006

Onze de Setembro, nossa memória

Yo pregunto a los presentes


si no se han puesto a pensar


que esta tierra es de nosotros


y no del que tenga más.


 


Yo pregunto si en la tierra


nunca habrá pensado usted


que si las manos son nuestras


es nuestro lo que nos den.


 


¡A desalambrar, a desalambrar!


que la tierra es nuestra,


tuya y de aquel,


de Pedro, María, de Juan y José.


 


Si molesto con mi canto


a alguien que no quiera oír


le aseguro que es un gringo


o un dueño de este país.


 


(A desalambrar, Victor Jará)


 


Há mais de três décadas o povo chileno vai às ruas dia 11 de setembro para celebrar, comemorar, fazer memória! Lembram o herói que teve a ousadia de enfrentar o império. Pagou com sua vida. Salvador Allende foi o único presidente eleito, na Abya Yala, assassinado por defender princípios que contrariavam as perspectivas capitalistas de dominação do mundo.


 


Allende resistiu às forças e interesses imperialistas, até o último momento. Foi friamente assassinado no palácio de La Moneda pelas forças militares que ali instauraram uma das ditaduras mais cruentas, onde foram sacrificados no altar do capital mais de 3 mil chilenos, dentre os quais figuras inesquecíveis como cantor o Victor Jará, voz de uma geração de lutadores.


 


Ao defender os princípios socialistas, numa época em que o “comunismo” era o pretexto para prender, torturar, espancar e mandar “al paredón”, milhares de militantes da justiça e igualdade do continente, Allende se transformou, ao lado de outros lutadores e revolucionários como Che, em um símbolo de resistência e inspiração de luta para construção de um novo continente baseado na pluralidade dos povos e culturas, na justiça e igualdade entre seus habitantes.


 


Os povos indígenas do Chile, em especial os Mapuche, que tem uma população de mais de dois milhões, dos quais quase um milhão vive na capital Santiago, também foram vítimas da ditadura militar implantada com mão de ferro do general, Augusto Pinochet. Neste tempo a política de Pinochet provocou um “desplazamiento” dos Mapuche sobre suas terras, que gerou a situação atual, na qual praticamente todas as terras estão tomadas por fazendeiros e mineradoras.


 


Ainda recentemente, o povo Mapuche tem demonstrado sua decisão de não desistir de lutar por seus direitos. Assim, enfrentando uma greve de fome de mais de 50 dias, mostraram ao mundo o quanto foram e continuam sendo saqueados, desrespeitados e explorados.


 



E em todo o continente, os povos indígenas tem demonstrado sua força para transformação, seja elegendo um presidente como Evo Morales, seja destituindo neoliberais corruptos como no Equador, ou seja lutando por espaços de autonomia, justiça e liberdade, como em Chiapas e Oaxaca, no México, ou na Raposa Serra do Sol, em Roraima.


 


Enquanto novas luzes de insurgência com chamas nativas começam a se acender no continente, o heróico povo cubano segue resistindo ao boicote imposto desde a já distante guerra fria e, ainda, da Venezuela sopram ventos incômodos ao mercado. Assim, os movimentos sociais e populares vão forjando um novo amanhã para Ameríndia.


 


Enquanto o império lembra o 11 de setembro como pretexto para continuar destruindo povos e produzindo mais miséria e exclusão no mundo, celebramos a memória de Allende, irmanados pela utopia e esperança a Abya Yala reconstruída na raiz plural de seus povos.


 


Dourados (MS), 12 de setembro de 2006.


 


Egon Heck e Cristiano Navarro


Cimi Regional Mato Grosso do Sul


 

Fonte: Cimi - Regional Mato Grosso do Sul
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