Povo Xakriabá resiste em terra retomada há um mês em MG
As 35 famílias Xakriabá que retomaram, no início de maio, parte de seu território tradicional permanecem acampadas sem uma resposta para sua reivindicação. A Funai ainda não se manifestou sobre a situação, mas a comunidade já acionou a Justiça para pedir que órgão continue o processo de demarcação desta terra, que está parado de 2005. A Terra do Morro Vermelho, como é chamada a área ocupada fica próxima ao município de São João das Missões, em Minas Gerais.
Ainda não ocorreu nenhum incidente com os posseiros que ocupam a área de cerca de mil hectares reivindicada pelos Xakriabá. Ainda assim, as famílias estão passando muita dificuldade, pois faltam alimentos e água. A prefeitura de São João das Missões, administrada por um Xakriabá, está fazendo o abastecimento de água por meio de um caminhão pipa. Apesar dos problemas, o grupo continua bastante animado e com perspectiva de continuar na terra.
Esta área teve um relatório preliminar – que indicava a demarcação da terra tradicional – rejeitado pela Funai em 2005, com o argumento de que não havia presença tradicional na área. O antropólogo Marcos Paulo Schettino, autor do estudo, garante que a contestação da Funai não tem base. Ele, inclusive, já encaminhou ao Ministério Público uma resposta aos argumentos apresentados pela Funai, mas a Fundação também não se manifestou sobre isso.
Além disso, dia 26 de maio, os Xakriabá enviaram uma carta para o Ministério Público Federal de Montes Claros – MG e para a 6ª Câmara da Procuradoria Geral da República, solicitando que a Advocacia Geral da União exija uma ação da Funai e acompanhe a instalação de um grupo de trabalho para a demarcação da área retomada.
A comunidade também encaminhou à Justiça Federal de Montes Claros um pedido preventivo de manutenção de posse, para evitar uma ação de desapropriação do território ocupado.
Histórico
O grupo que fez a retomada era conhecido como Xakriabá “desaldeados” e residia na sede do município de São João das Missões. Desde 2000, ele solicita da Funai um estudo para revisão de limites da área. A terra retomada fica a quatro quilômetros da cidade e está invadida por 17 propriedades, entre fazendas e sítios.
Hoje, parte do povo Xakriabá vive em duas terras. Uma delas foi registrada com 46.400 hectares há vinte anos e a outra foi homologada com cerca de seis mil hectares em 2003. No entanto, a terra reivindicada pelos que viviam na cidade ainda não teve sua identificação concluída.
Em agosto de 2005, lideranças de várias aldeias e o cacique se reuniram e definiram lutar conjuntamente para recuperar suas terras. Dada a dificuldade de articulação entre as lideranças, o grupo de Missões tomou a iniciativa da retomada. A ação está servindo de incentivo para outros grupos retomarem as outras áreas pretendidas.
O território Xakriabá tem um limite identificado desde 1728. A região ocupada hoje por este povo equivale um terço da área definida naquela época. Os títulos de terras para não índios foram emitidos em meados do século passado.