Carta de apoio à luta dos Mapuche por justiça e liberdade
Sra. Presidente da Republica do Chile, Michelle Bachelet
Acompanhamos com preocupação a greve de fome que vem sendo realizada pelos quatro acusados – Patrícia Troncoso, Juan Marileo, Juan Carlos Huenulao, Florêncio Marileo – pelo incêndio no campo Poluco Pidenco, atualmente sob a posse da empresa Forestal Mininco, mas que faz parte da Terra Tradicional do Povo Mapuche.
Os indígenas questionam as provas utilizadas no julgamento; questionam o embasamento sobre o qual foram proferidas as sentenças que os condenaram a dez anos de prisão e questionam o uso, para sua condenação, de uma lei antiterrorista, criada durante aquele período tenebroso, que foi a ditadura militar do general Augusto Pinochet.
No Brasil, também vivemos dias de verdadeiro terror e de repressão, quando o país esteve dirigido por uma ditadura militar, e podemos entender bem o que significa o uso de uma lei antiterrorista, criada no regime militar para um julgamento como este, que envolve questões de luta social.
A Senhora Presidente, que também, com sua família, foi vítima de atos brutais da ditadura, deve entender a importância de os países da América Latina superarem estas leis injustas.
Aqui no Brasil, diversos povos indígenas lutam contra empresas que invadem suas terras para produzir celulose ou explorar madeira. Os povos Tupinikim e Guarani, no estado do Espírito Santo e o povo Pataxó, na Bahia, possuem centenas de histórias de contaminação ambiental de suas terras por agrotóxicos; de invasão de terras; de atrasos de anos nos processos de reconhecimento de suas terras pela pressão das poderosas empresas de produção de celulose e de extração de madeira; da pressão que sofrem para assinarem acordos ilegais; de expulsões violentas realizada pela polícia com apoio das empresas de celulose e madeira. Experiência parecida vivem os trabalhadores rurais sem terra, criminalizados pelas empresas que têm muito poder econômico e nenhum respeito à vida das pessoas. São também essas mesmas empresas que hoje protagonizam um grave e perigoso incidente diplomático entre Uruguai e Argentina, na localidade argentina fronteiriça de Frai Bentos.
É por saber de tudo isso que nos solidarizamos com os quatro Mapuche, que há 53 dias estão em greve de fome, colocando em sério risco a sua vida, na busca de serem ouvidos.
Pedimos a revisão da sentença por “incêndio terrorista”, a liberdade dos presos e a anulação da “lei antiterrorista”, que foi injustamente utilizada para a sua condenação.
Queremos que os problemas referentes aos direitos humanos, assim como aos direitos sociais e políticos possam ser resolvidos dentro dos nossos países, aprimorando nossas democracias, sem que os cidadãos precisem apelar para as Cortes Internacionais.
Nos unimos àqueles que se encontram injustamente presos e clamamos para que seja respeitado o direito do povo Mapuche a seu território; para que termine o saque de suas riquezas pelas empresas transnacionais; para que tenha fim o desmatamento e a contaminação das águas e das terras.
As pessoas e entidades que assinam este documento pedem pelo direito do povo Mapuche à vida e à liberdade, pedem o fim da repressão às suas justas lutas.
Sra. Presidente da República do Chile, está em suas mãos a vida desses quatro jovens, que lutam dignamente pela sobrevivência de seu povo.
Respeitosamente,
Respeitosamente,
Cimi – Conselho Indigenista Missionário
CEPIS – Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientiae – S.Paulo – Brasil
Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
CEDAPP- Centro Diocesano de Apoio ao Pequeno Produtor
ASEVI – Ação Social Esperança e Vida
PODE – Portadores de Direitos Especiais
Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Serra – Estado do Espirito Santo
COMIN
ONG ARUANÃ – Simões Filho – Bahia
Pe. Bernardo Lestienne sj, IBRADES – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
Alfredo Peña-Vega – Professor-pesquisador do CETSAH-EHESS/CNRS – França
Fabio Alves dos Santos – Advogado
Ricardo Gebrim – Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo
Carlos Toseli – Missionário no Chile
José Benjamim Pereira Filho – Professor de História e Ouvidor Geral da UEPB – Universidade Estadual do Estado da Paraiba
Pe. Marconni Barboa- Diocese de Pesqueira PE
Ariovaldo Ramos, pastor evangélico
Araci MAria Labiak, brasileira, antropóloga, residente em Curitiba/Pr.
Helio Kotler
Prof. Dr. Paulo Moreira da Rosa – Maringá – Paraná
Rosane Cunen
Eré Kayoá Pataxó
Hãpe Pataxó
Urumã Pataxó
Ana Gabriela Chaves Ferreira
Amanda Kássia Chaves Ferreira
Pedro Henrique Chaves Ferreira
Josefina Gonçalves Ferreira
Maria das Graças Ferreira
Maria da Piedade Ferreira
Tadeu Magela Ferreira
Jorgino Nicolau Ferreira
Virginia Ferreira
Araci MAria Labiak, brasileira, antropóloga, residente em Curitiba/Pr
Jose Scussel
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