Informe nº 713: Indígenas do Brasil e ativistas fecham entradas da multinacional Procter & Gamble, na Alemanha
– Indígenas do Brasil e ativistas fecham entradas da multinacional Procter & Gamble, na Alemanha
– Povo Xakriabá retoma terra no norte de Minas Gerais
INDÍGENAS DO BRASIL E ATIVISTAS FECHAM ENTRADAS DA MULTINACIONAL PROCTER & GAMBLE, NA ALEMANHA
Dois indígenas e cerca de 20 ativistas da ONG alemã Robin Wood bloqueiam desde a manhã de hoje, 4 de maio, a entrada da fábrica da multinacional Procter & Gamble, na cidade de Neuss, Alemanha.
A multinacional compra celulose da Aracruz, empresa invasora das terras dos povos Tupinikim e Guarani, no Brasil, e com a matéria-prima produz lenços de papel da marca Tempo, uma das mais conhecidas na Europa.
“Nosso nariz está cheio”, diz a faixa colocada na entrada da fábrica de Procter& Gamble. A expressão, na Europa, significa algo como “Estamos cansados, irratidos”.
Desde as 11 horas da manhã (7h no Brasil), Paulo Henrique Vicente de Oliveira, Tupinikim da aldeia Caieira Velha, e Wera Kwaray, Guarani da aldeia Boa Esperança e mais dois0 ativistas bloqueiam três entradas da fábrica. Os caminhões da empresa estão esperando em um estacionamento no outro lado da rua. Quatro carros da polícia estão no local.
“As pessoas na Alemanha devem saber que nós, Tupinikim e Guarani, fomos brutalmente expulsos por causa da matéria-prima para o Tempo“, diz o Tupinikim Paulo Henrique Vicente de Oliveira, coordenador da segunda maior organização indígena no Brasil, a Apoinme. “Procter & Gamble também tem responsabilidade que Aracruz roubou nossas terras, que ela destruiu nossas matas e envenenou nossos rios com agroquímicos“, diz Wera Kwaray, Cacique da aldeia Guarani Boa Esperança. “Aracruz impacta negativamente nossa cultura“.
A manifestação foi organizada pela ONG Robin Wood, que trabalha com meio ambiente, e está preocupada com a situação no Espírito Santo, onde os Tupinikim e Guarani foram expulsos de suas terras pela Aracruz que, através de pressão política e com um acordo inconstitucional, conseguiu que a terra indígena fosse homologada com um tamanho menor do que o previsto nos estudos antropológicos realizados para a demarcação da terra.
Os dois indígenas estão na Alemanha com o objetivo de pressionar a fábrica para que a mesma pressione Aracruz Celulose a devolver os 11.009 hectares de terra indígena ocupados no estado do Espírito Santo. Eles entregarão à Procter & Gamble uma declaração, na qual exigem o cancelamento dos contratos com a Aracruz, enquanto a empresa não resolve seus conflitos de terra com índios, sem terra e quilombolas.
Pesquisas de Robin Wood mostram que a celulose da Aracruz é utilizada para os lenços de papel “Tempo”, para as marcas de papel sanitária Charmin e Bess, produzidas pela multinacional Procter & Gamble (P&G).
Sobre a invasão da Aracruz
Aracruz Celulose, a principal produtora mundial de celulose branqueada, desmatou mata atlântica no Brasil para fazer suas plantações de eucalipto. Segundo a própria empresa, ela tem 247.000 hectares de plantações de eucalipto. Durante a ditadura militar brasileira, a empresa expulsou comunidades originárias das suas terras para implantar as plantações.
Até hoje, a Aracruz se recusa, usando de violência e artimanhas jurídicas, a devolver os 11.000 hectares de terras no Espírito Santo aos Tupinikim e Guarani. A Funai já declarou que os índios são os legítimos donos dessas terras. Em janeiro deste ano, o conflito escalou. Tropas armadas entraram, com a colaboração da Aracruz, nas aldeias Córrego de Ouro e Olho de Água, atiraram nos índios com balas de borracha e perseguiram os índios que estavam fugindo com seus pertences. Durante o ataque da polícia, Paulo Tupinikim teve seu braço quebrado.
A luta pela terra dos Tupinikim e Guarani não é a única que enfrenta a Aracruz. Na última semana, 200 famílias sem terra ocuparam 8.700 hectares da Aracruz Celulose, próximos ao complexo industrial da empresa no Espírito Santo. Eles a acusam de ocupar ilegalmente terras devolutas. Também comunidades quilombolas exigem dezenas de milhares de hectares de terras da Aracruz de volta.
Veja aqui o histórico das disputas entre indígenas e Aracruz
POVO XAKRIABÁ RETOMA TERRA NO NORTE DE MINAS GERAIS
Aproximadamente 35 famílias do povo Xakriabá retomaram nesta terça-feira, 02 de maio, parte de seu território tradicional. O grupo, que desde o ano 2000 busca a demarcação desta porção de sua terra, estava vivendo na zona urbana do município de São João das Missões, norte de Minas Gerais, a cerca de 750 km de Belo Horizonte. Segundo o cacique Santo Caetano Barbosa, a situação na região é tranqüila, apesar da reação dos fazendeiros que ocupavam a terra retomada.
Acampados, os indígenas têm hoje uma reunião com o administrador regional da Funai, Waldemar Krenak. “Queremos segurança e o direito de continuar na terra. A Funai tem que rever suas decisões, porque nós viemos pra ficar”, afirma o cacique.
A terra Krenak teve um relatório preliminar – que indicava a demarcação da terra tradicional – rejeitado pela Funai em 2005, com o argumento de que não havia presença tradicional indígena na área. A área reivindicada pelos indígenas, no entanto, faz parte da porção de terra que foi destinada ao povo Xakriabá em 1728, por Januário Cardoso, filho de Matias Cardoso, um dos primeiros bandeirantes a entrar no Vale São Francisco.
Os Xakriabá contestaram a recusa do relatório pelo Departamento de Assuntos Fundiários da Funai, mas não obtiveram resposta. A comunidade pede urgência nos encaminhamentos para a demarcação e homologação de suas terras.
Segundo informações da equipe do Cimi na região, está prevista para amanhã a chegada da administração regional da Funai.
Contexto
A terra reivindicada atualmente tem aproximadamente 7 mil hectares e é denominada Terra do Morro Vermelho. A região foi invadida por posseiros, que vinham ameaçando os indígenas mesmo antes da realização da retomada, nesta madrugada.
Hoje, parte do povo Xakriabá vive em duas terras. Uma delas está registrada com 46.400 hectares, desde as mobilizações dos anos 1980, e outra foi homologada com cerca de 6 mil hectares em 2003. No entanto, a terra reivindicada pelos indígenas que viviam na cidade ainda não teve sua identificação concluída. A região hoje ocupada por este povo equivale a cerca de um terço da área destinada aos indígenas em 1728. Os títulos de terras para não índios foram emitidos em meados do século passado.
Brasília, 4 de maio de 2006.
Cimi – Conselho Indigenista Missionário