10/04/2006

Carta da XVIII Assembléia Nacional da CPT

Goiânia, Páscoa de 2006


 


São tantos os nossos mortos!


Homens e mulheres que morreram na luta pela terra no Brasil. Tornados invisíveis pelos poderosos, eles e elas estão presentes na 18ª Assembléia da CPT.


Dorothy, Josimo, Margarida, Sepé Tiaraju, Adelaide, os 19 de Eldorado dos Carajás, Francelmo, e tantos mais… “Firmes como alguém que enxerga o invisível” (Hebreus, 11,27).


 



São tantos os nossos vivos!


Homens e mulheres da terra e das águas, das lutas camponesas, variadíssimas e necessárias, na construção de um Brasil livre e solidário: indígenas, quilombolas, ribeirinhos, sem-terra, pequenos agricultores e agricultoras, extrativistas, pescadores, assalariados rurais, gente de todos os nossos sertões.


“Firmes como alguém que enxerga o invisível”


 


 


Animados e animadas pelos recentes acontecimentos da luta camponesa em todo Brasil e pelo pronunciamento de bispos e pastores sinodais através do documento “Os pobres possuirão a terra” (Brasília, 30 de março de 2006), continuamos fiéis à nossa missão de denunciar os pecados da idolatria, da propriedade e do poder, na forma do capitalismo na agricultura brasileira – o atual agro-hidronegócio mancomunado com o velho latifúndio. Não reconhecemos o agronegócio como modelo para o campo brasileiro. A reforma agrária continua sendo urgente e necessária.


 


 


Eram muitas as nossas esperanças, construídas com anos de resistência, luta e criatividade, que acreditávamos poderem se concretizar num governo popular, autenticamente democrático. A combinação entre o tradicional caráter anti-popular e violento das elites brasileiras, a prepotência e falta de ética de dirigentes partidários e a dificuldade nos mecanismos de participação e controle de nossos representantes resultaram numa grave crise política que, contudo, deve ser entendida como um episódio do conflito de classes no Brasil. Têm sido doloroso, mas necessário, o processo de crítica e auto-crítica que reafirme e reconstrua as motivações, as utopias e, principalmente, as práticas das lutadoras e lutadores do povo. Frente a atual conjuntura político-eleitoral, queremos criar espaços de debate e denúncia profética visando a reinvenção da política de modo a efetivar formas mais participativas que representativas de exercício do poder popular.


 


Para nós da CPT, essa força e lucidez vêm do Evangelho revolucionário de Jesus.


“Firmes como alguém que enxerga o invisível afirmamos nossa fé”.


 


 


Junto aos camponeses e camponesas, aos seus movimentos, organizações e articulações, reafirmamos nossos compromissos de ação, em 2006/2007, priorizando o trabalho de base e a formação, radicalizando o enfrentamento ao agro-hidronegócio, contribuindo na construção coletiva e solidária de um Projeto Camponês alternativo ao modelo atual, baseado na reconquista dos territórios tradicionais, na autêntica reforma agrária e na agroecologia. Junto às nossas igrejas, para comprometê-las mais com os anseios e as lutas dos pobres do campo, propomo-nos divulgar, estudar, celebrar e aplicar o documento “Os pobres possuirão a terra”, como testemunho de fé e instrumento de unidade.


 


“Firmes como quem enxerga o invisível” convocamos a todas as pessoas de boa vontade que assumam conosco estes compromissos de fidelidade aos mais pobres da terra e das águas, dos campos e das florestas para que possamos ter vida, e vida abundante, até o dia em que, pela força do Espírito da Vida e pela ação de nossas mãos, haja novos céus e nova terra, uma “terra sem males”.


 


Goiânia, 7 de abril  de 2006.


 

Fonte: CPT Nacional
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