04/04/2006

Os Kaiowá Guarani e a violência no Mato Grosso do Sul

A morte de dois policiais no acampamento indígena Porto Cambira do tekoha Passo Piradju, município de Dourados, na noite do dia 1º de abril, trouxe à tona a realidade de violência que envolve o povo Kaiowá Guarani por séculos e com maior intensidade nas últimas décadas.


 


Criou-se em torno do fato um estado de comoção que certamente estimulará o preconceito, a discriminação e o ódio, alimentado contra esses povos há séculos. E uma das conseqüências mais imediatas será a utilização desse fato contra as lutas desse povo por seus direitos, especialmente a terra. Estranhamente autoridades têm feito coro às afirmativas generalizantes que visam criminalizar os povos indígenas e a luta pelos seus direitos.


 


Contexto e conseqüências das violências


 


No relatório do Cimi sobre a violência contra os povos indígenas nos últimos três anos, o Mato Grosso do Sul foi o campeão em praticamente todos os itens. Esse quadro tem sido considerado por cientistas da área política e direitos humanos como uma situação de genocídio.


 


Nas últimas décadas dezenas de lideranças indígenas foram assassinadas no Mato Grosso do Sul ficando praticamente todos os responsáveis impunes. Isso tem estimulado uma onde de violências sem precedentes configurando uma das situações de maior  brutalidade contra os povos indígenas na história recente do país.


 


Ao nos colocarmos contra todas as formas de violência, lamentamos as mortes ocorridas esperando que se caminhe para a solução definitiva da raiz e causa principal de todas essas violências que é a negação da terra aos índios, aos quilombolas, aos trabalhadores rurais sem terra.


 


As preocupações dos índios


 


“Veja o que tem acontecido com o nosso povo. Foi uma história de violências, massacres, assassinatos, expulsões o tempo todo. E muitas dessas violências foram praticadas com a participação da polícia. Então o que se esperar?” Perguntou uma das lideranças do povo Kaiowá Guarani do Mato Grosso do Sul.


 


Já os mais de 40 participantes desse povo presentes em Brasília na programação do Abril Indígena e Acampamento Terra Livre, mostraram-se extremamente preocupados com as possíveis conseqüências do fato, inclusive temendo pela vida e integridade de algumas pessoas da comunidade, especialmente lideranças e as pessoas que foram presas.


 


Historicamente se tem estimulado estados de comoção para justificar as maiores crueldades, matanças, extermínio de comunidades inteiras. Hoje os sobreviventes desses massacres esperam do Estado e da sociedade brasileiras, respeito a seus direitos para que possam viver em paz e com dignidade.


 


Campo Grande (MS), 4 de abril de 2006.


 


Cimi – Regional Mato Grosso do Sul


 

Fonte: Cimi - Regional Mato Grosso do Sul
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