07/03/2006

Nota à Imprensa: Situação dos Suruaha pede solução urgente do Poder Público

Em vista dos últimos acontecimentos envolvendo o povo indígena Suruaha, relacionados ao tratamento de duas crianças fora da aldeia e ao papel assumido pelos órgãos públicos para o enfrentamento dessa situação que envolve também a presença na área do Cimi – Conselho Indigenista Missionário e da JOCUM – Jovens com uma missão, consideramos oportuno os seguintes esclarecimentos:


 


1. O Cimi, alertado sobre a iminência de um massacre dos Suruaha por sorveiros exploradores da terra indígena, deslocou uma equipe para a área em 1978 que estabeleceu o primeiro contato com este povo em maio de 1980. Avaliando que a qualidade de vida do povo Suruaha era melhor do que a das demais populações da região, a atuação da equipe se deu junto aos ribeirinhos com objetivo de esclarecer a população envolvente sobre os direitos indígenas e, junto a Funai, para que fossem tomadas as providências para a demarcação do território indígena e sua proteção.


 


2. Em 1983, sob a alegação de fazer o “contato oficial” com os Suruaha,  a Funai abriu um varadouro (picada) desde o rio Cuniuá – habitado pelos ribeirinhos – até o centro das malocas Suruaha. O Coordenador da expedição, Sebastião Amâncio, questionado sobre a responsabilidade da Funai na construção dessa via de acesso direto a área indígena, expondo a população Suruaha a toda sorte de doenças,  garantiu que já havia feito contato com um grupo missionário que possivelmente poderia se transferir para a região. Dois anos depois chegou o Jocum que se estabeleceu na boca desse varadouro.


 


3. A postura do Cimi desde o primeiro momento foi a de garantir que o povo Suruaha tivesse assegurado seu direito à terra, cultura e liberdade de decidir seu futuro. Como tem feito historicamente em relação a todos os povos indígenas do país, o Cimi também solicitou providências dos órgãos públicos quando a integridade física e cultural do povo Suruaha estava ameaçada. Por isso, em 2000 informou o Ministério Público Federal sobre as tentativas do Jocum de interferir no mundo simbólico Suruaha motivado pelas suas convicções religiosas.  Preocupado com as repercussões negativas desse fato sobre a organização social desse povo  Igualmente informou ao MPF sobre a retirada em abril de 2005 pelo Jocum das crianças e de seus familiares para tratamento em Porto Velho e, posteriormente para São Paulo.


 


4. A intervenção do MPF e a repercussão desses fatos resultaram numa atuação maior da Funasa que assumiu a responsabilidade com o tratamento das crianças e está buscando organizar sua presença na área evitando as ações pontuais de saúde feitas somente de helicóptero.


 


5. O Cimi, em diferentes espaços e momentos, forneceu ao poder público informações sobre a real situação do povo Suruaha para embasar as providências que devem ser tomadas, favorecendo uma avaliação criteriosa sobre o papel dos diferentes atores envolvidos.


 


6. Considerando a delicada situação em que se encontra o povo Suruaha, nesse momento fragilizado por um aumento no número de suicídios e submetido a enormes transtornos decorrentes de interferências externas agressivas a cultura, o Cimi – que desde o primeiro contato assumiu um compromisso com a vida desse povo – manterá o seu papel de aliado, pois está em jogo o futuro de todos os Suruaha. Espera que este povo tenha seu modo de ser respeitado e possa ter o controle sobre sua vida, inclusive para estabelecer as alianças necessárias para assegurar seus direitos fundamentais.


 


Manaus (AM), 07 de março de 2006.


 


Conselho Indigenista Missionário


Regional Norte I – AM/RR


 

Fonte: Cimi - Regional Norte I
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