Diversidade marca os acampamentos de São Gabriel
A diversidade de línguas, culturas e rituais é o fator marcante das atividades que marcam os 250 anos de morte de Sepé Tiaraju em São Gabriel, no Rio Grande do Sul. De um lado, quase 2 mil índios guarani, kaingang e charrua de todo o Brasil e de outros países como Paraguai, Uruguai e Argentina trazem em seus rituais e danças a luta pelo direito de viver. De outro, jovens – campesinos ou urbanos – e quilombolas discutem suas realidades em reuniões. Apesar das diferenças, a reivindicação desses povos passa a ser mesma: a posse de suas terras e moradias e o acesso aos seus direitos, na construção de uma sociedade mais igualitária e não-excludente.
Instalados no Parque Tradicionalista de São Gabriel, os cinco mil participantes estão divididos em quatro acampamentos: o indígena, da juventude, da Via Campesina e dos Quilombolas. A juventude foi o primeiro a iniciar suas atividades, no dia 03. Na manhã de sábado, 4, os 700 jovens presentes assistiram a uma palestra sobre a história dos Sete Povos das Missões e de Sepé Tiaraju, dando prosseguimento com grupos de estudos durante a tarde. A organização do Acampamento da Juventude é um dos pontos altos da estrutura: os participantes são divididos em sete grupos, remetendo às sete reduções que formavam as Missões. Essa divisão é a que organiza desde os grupos de estudo e de discussão até as refeições.
Cada acampamento tem a sua organização e comunicação próprias, com exceção da limpeza e da segurança do parque, que são feitos por todos os participantes do encontro. No parque também há um posto de pronto-socorro mantido pelo setor de saúde da Via Campesina com ervas medicinais. Agricultores vendem produtos coloniais e livreiros comercializam livros, revistas e jornais.
No entanto, são os povos indígenas que se destacam no parque. Em todos os caminhos estão eles vendendo artesanato, cantando e falando em diversas línguas. Além de índios dos povos Guarani, Kaingang e Charrua, do Rio Grande do Sul, também foram ao encontro os Guaranis-Kaiowá e Nhandeva, do Mato Grosso do Sul, e os Guarani do Espírito Santo. Atualmente os Kaiowá sofrem processo de despejo de suas terras e os guaranis, do Estado capixaba, enfrentam um confronto histórico com a multinacional de celulose Aracruz. Do Paraguai e da Argentina vieram guarani e, do Uruguai, os Charrua.
Mesmo sendo de locais diferentes, as situações se mostram bem parecidas. A falta de políticas públicas voltadas à saúde e educação nas aldeias, a demarcação das terras e a inexistência de projetos que desenvolvam a independência das aldeias despontam como os principais problemas enfrentados pelos índios. Nas conversas com os indígenas, são recorrentes as histórias de muitas crianças morrendo de fome e desnutrição nas aldeias. Assim como a reivindicação pela terra e melhores condições de vida – o que eles tinham antes da invasão européia.
A diversidade também acompanha a programação cultural. Músicas e danças nativistas, camponesas e indígenas, constituem as atrações.
Raquel Casiraghi – Via Campesina