31/01/2006

Relatório do 3º Seminário Nacional sobre Inculturação da Liturgia no Meio dos Povos Indígenas

Dia 05 de março 2004


 


No dia 05 de março, às 14h, iniciamos o 3º Seminário Nacional sobre Inculturação da Liturgia no meio dos Povos Indígenas. Pe. Hernaldo Pinto Farias, SAC, animou a celebração de abertura com o salmo 141.


 


Dando encaminhamento ao seminário, Pe. Marcelino Sivinski acolheu os participantes. Apresentou depois a proposta de programa. Fez-se a distribuição de serviços de coordenação, secretaria, liturgia e ambiente.


 


Houve momento para a apresentação dos 36  participantes. Entre os participantes, os assessores: Pe. Paulo Suess, Fr. José Ariovaldo da Silva – OFM, Pe. Georg Lachnitt – SDB e Pe. Gregório Lutz – CSSP. Os bispos da Comissão Episcopal para a Liturgia: Dom Manoel João Francisco (bispo da diocese de Chapecó/SC), Dom Hélio Adelar Rubert, (bispo auxiliar de Vitória/ES) e Dom Joviano de Lima Júnior, (bispo da diocese de São Carlos). Participou também Dom Franco Masserdotti (bispo da diocese de Balsas/MA), presidente do CIMI.


 


Houve levantamento de quem iria relatar experiências. Organizou-se o tempo para a colocação das mesmas. Antes dos relatos, Irmã Rosirene do Nascimento fez uma breve reflexão, dizendo que o relato das experiências deve nos ajudar abrir pistas para avançar no processo da inculturação. E para isso precisa-se olhar por onde passa a vida e onde ela se manifesta nas culturas e na história do povo.


 


Em seguida, Ir. Rosirene contextualizou, brevemente, a história dos Kaingang, cujo contato com os missionários foi a partir de 1600, mais ou menos. Em 200 anos de contato (1840), os missionários, além da evangelização se preocupavam muito com a sobrevivência dos mesmos. O que caracteriza uma comunidade indígena é a ação e essa, normalmente, gira em torno de feitos ancestrais. Assim, se uma determinada ação não se fizer poderá ocorrer grandes males para a pessoa e, por vezes, para a comunidade.  Os batismos dos Kaingang se realizam: 1º em casa – quando a criança completa três dias. Neste dia dá-se o nome. É realizado pelos padrinhos (2) e por uma apresentadeira. Usa – se o sal, velas, três raminhos verdes e água. O 2º batismo (não são todos que fazem) é na água corrente – para livrar a criança das doenças, sobretudo da garganta. O 3º é o batismo nas Águas do Monge São João Maria de Agostini. Esse Batismo é realizado, não somente porque os antigos faziam, mas porque, se não leva o filho à fonte, algum mal pode acontecer à criança, e essa terá dificuldade de integração na comunidade. E o 4º é realizado na Igreja e, normalmente, os padrinhos são pessoas influentes na sociedade.


 


Na sexta-feira, à noite, o grupo promoveu uma hora de trabalho para organizar melhor os relatos das experiências, acertando que as mesmas e as  reflexões passariam pela temática dos ritos de iniciação entre os povos indígenas. Os ritos matrimoniais ficariam para um outro encontro.


 


Dia 06 de março


 


No dia 06 de março, sábado, iniciamos com a celebração do  Oficio Divino das Comunidades. Após a oração recebemos a visita de Omina Macuxi que fez um relato da luta de seu povo pela terra indígena em Raposa Serra do Sol, em RR.


 


O primeiro relato da manhã foi feito por Pe. Justino Sarmento Rezende, SDB, que fez considerações sobre a cultura Tikuna e o trabalho de inculturação que está sendo realizado desde o ano 2000.


 


Relato pe. Justino Sarmento Rezende


 


Antes de falar em celebração é necessário entender o que se passa nas comunidades do diversos povos. Por exemplo, levar em conta: Parentesco – Benzimentos – Nome.


 


A preparação para o Batismo, Crisma e Matrimônio é realizada com os casais. Estes são assuntos para serem tratados com adultos que já tem maturidade  – a partir de 9 a 10 anos.


 


Alguns assuntos podem ser falados só com os homens outros só com as mulheres.


 


Parentesco:


– a Kawererã = mesma etnia – família;


– a Kasaorã –  diferentes etnia – nosso irmão (não se  pode casar);


– Peyarã – diferentes = primos podem casar;


– Família = homem e mulher (útero materno – dessa união nasce o Filho. Tem uma linha de vivência religiosa).


 


Benzimentos:


Benze-se o útero materno, onde é o lugar que o filho está sendo formado e é bom que ele esteja num lugar bom. Quem benze é alguém da 1ª etnia, na ausência pode ser alguém da 2ª ou 3ª etnia. Quem procura para benzer deve ser a mulher ou algum parente dela.



O benzedor não pode se oferecer – pode ser interpretado como maldição.


 


Quando a criança nasce – sai do mundo materno é um momento de (dores, parto), a parente chama o benzedor = benze o espaço e o torna bom. A vida nova precisa do espaço bom. Os males que  estão presentes – a morte, vão respeitá-lo como irmão da natureza.


 


Elementos para benzer: Breu (queima) cigarro para espalhar a força.


 


O novo ser não é um estranho – é um ser importante por isso ele tem um nome. Ele o recebe quando nasce. Quem o batiza é o benzedor.


 


O nome vem da etnia – por isso eles vão repetir sempre, por ex. Justino = Besû – dtppo = 1º filho homem. Tem um sentido = o 1º filho é o possuidor, tanto do mal como do bem.


 


Receber o nome – eherípor baserô = alma.


 


Concepção de Mundo:


 


O mundo é divido em 4 partes: Força de cima = força da vida.


 


Força de baixo. Nos dois lados, há duas portas abertas. O benzedor benze para fechar as portas contra o mal.


 


Banho: a água é boa, mas também há vida que prejudica, por isso o benzedor benze a água para não fazer nenhum mal a criança.


 


Alimento: Benze com o mesmo sentido o leite materno.


 


Perguntas do grupo: O benzedor é sempre homem? Normalmente é, mas se a mulher tem um marido ou pai que é o benzedor ela pode se tornar benzedeira.


 


O Batismo está ligado ao nome, em que sentido? – O nome (Vamê) tem o sentido de alma – ao nascer já recebe o nome indígena = nome sagrado do batismo. Não se fala o nome – só se diz: meu avô, meu tio…


 


Qual a relação com Deus – vida após a morte? – Os mortos não vão embora, eles ficam através do vento… se tornam vivos, estão aí.


 


Na pastoral, qual o maior desafio que você encontra, nesse aspecto da inculturação?


 


Há tensões entre  mim com os índios – entre mim e a instituição. Os padres indígenas deveriam ser a ponte.


 


A maioria de seu povo é batizado na  Igreja Católica? Sim.


 


Como adotaram o nome cristão? O nome, como já falei é sagrado = sentido de vida – bem e mal.


 


Quando se fica doente – o benzedor vai perguntar qual o nome: ex. esse nome é o mesmo que vem do – ttá – piro – pona (A cobra da origem)


 


Pedra cobra filhos.


 


O benzedor vai desde a origem, vai ver onde ele adquiriu essa doença  – foi na cachoeira na (briga com a outra cobra).


 


Diante da variedade de culturas, como agir?


 


O Batismo em casa das crianças Terena.2


 


O batismo em casa é um costume muito antigo entre os Terena. Até agora ninguém fala quando começou este ritual, sabe-se que se  usa o batismo para as crianças não ficarem pagãs, pois, se ela não for batizada, o saci pode brincar com ela e até levar para o mato, e quando fica doente fica impedida de receber a benção (a cura).


 


O batismo em casa se faz assim: Os pais da criança procuram os padrinhos para seu filho, reúnem-se em casa dos pais ou dos padrinhos para fazerem o batismo, vão até à frente do altar onde já está preparado uma vela acesa, um copo de água, um pouco de sal e três brotinhos de laranjeira. O batismo tem que se realizar na parte  da manhã e nunca pela tarde.


 


O rito: A madrinha pega a criança em seus braços. Juntos, pais e padrinhos, fazem o sinal da cruz, rezam um Pai-Nosso e cinco Ave-Marias. O padrinho pega um brotinho molha na água e pergunta para a criança:……você quer ser batizada? A madrinha responde pela criança: eu quero! Então os padrinhos dizem: Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, fazendo com o broto de laranjeira um sinal da cruz na cabeça da criança, repetindo por três vezes, usando um broto de cada vez.


 


O padrinho coloca um pouquinho de sal na língua da criança. Os padrinhos acedem a vela e seguram na mão da criança e rezam um credo, um Pai-Nosso e cinco Ave-Marias.


 


Para finalizar o batismo, a mãe pega a criança, junta as mãozinhas dela e a faz pedir a benção para os padrinhos presentes. Os pais e padrinhos se cumprimentam com muito respeito como novos compadres.


 


O choro copioso de crianças, que foram batizadas, à noite, deve ser motivo para procurar o benzedor. Que pode declarar ou não se o batismo foi válido ou se precisa ser refeito. Se o batismo não foi bem feito, a responsabilidade recai sobre os padrinhos por não terem rezado juntos.


 


O Povo Terena assumiu o catolicismo como religião própria. Por essa razão na Paróquia local se faz os ritos católicos para iniciação cristã. Esse mesmo ritual ainda é feito em algumas famílias Terena. Hoje esse ritual é complementado com a benção do óleo, que é feito pelo sacerdote católico quando vai para as aldeias. Necessariamente, não precisa fazer um novo batismo na Igreja católica. O batismo em casa não é aceito por confissões evangélicas, que realizam novamente o batismo para substituir o batismo indígena.


 


Uma experiência missionária na região de Oiapoque – AP


 


Uma experiência missionária de diálogo inter-religioso e inculturação da liturgia a partir da situação dos Povos Indígenas da região de Oiapoque-AP.3


 


Os povos desta região, assim como grande parte dos índios no Brasil, já não praticam os ritos de iniciação originários.Não se pode falar do rito (celebração) sem contextualizá-lo dentro da conjuntura, história e cultura de um povo.


 


1. A parte inicial da exposição foi dedicada a apresentar a situação histórica e conjuntural dos povos da região em contato com a sociedade envolvente há séculos. Frisou-se a situação de desconhecimento dos direitos, do não assumir a própria identidade, do isolamento geográfico, fato que evitou os conflitos até então.  Frisou-se também que além de duas línguas indígenas uma do tronco aruak e a outra do tronco karib, estes povos falam uma língua indígena geral que é o kheuol, um patoá de influência francesa falada pela grande maioria. Aliás, dois destes povos são povos mesclados que reconstruíram a sua cultura e esta é a língua deles.


 


2. Quanto à cultura explicou-se que tem um aspecto que perpassa o econômico, o social, o religioso que é o aspecto da retribuição. Na dimensão sócio-econômico, manifesta-se no trabalho em mutirão, principalmente no mutirão do plantio que o pessoal chama de maiuhi ou convidado.  O trabalho é feito por grupos de família que retribuem, ao longo do tempo, a ajuda que recebem dos outros. Também no âmbito sócio-religioso temos a cura pelo pajé e a religião herança do período colonial. Na festa do turé, traço cultural característico de todos eles, provavelmente de origem palikur, todas as pessoas curadas pelo pajé preparam a dança e oferecem bebidas (caxiri) para agradecer os espíritos que curaram as doenças. Também na festa do padroeiro os festeiros desempenham a mesma função e pela mesma razão, mas em agradecimento “ao santo” pela graça recebida. Neste catolicismo herança colonial além da festa do padroeiro/a, das festas de outros santos e de costumes transmitidos ao longo dos séculos, tem o batismo das crianças, pedido geral e constante de todos os índios católicos.


 


3. Na terceira parte abordou-se o diálogo. Este começou pela realidade em vista de sua transformação. Partimos do respeito e reconhecimento mútuos de nossas culturas e  conscientes dos limites e em seguida, tendo como base comum os valores reconhecidos por ambos como a vida, dignidade, Deus Pai e Mãe. A partir da realidade sempre presente na reflexão e celebrações começamos a lutar pela demarcação da terra, saúde, educação própria bilíngüe e pluricultural, economia a serviço de todos, organização política. 


 


O diálogo abrangeu o religioso como a pajelança e a religião católica tradicional e os seus agentes como o pajé e o cantor de ladainhas. Ao mesmo tempo em que nos despojávamos de esquemas teológicos, morais, litúrgicos e canônicos também abrimos o diálogo quanto ao feitiço, à motivação para o batismo das crianças; falamos de um Deus de bondade que gosta de crianças, que gosta de cada povo com sua cultura, da necessidade do trabalho de cada um para realizar o bem comum. O Evangelho  encontrou um terreno propício nas comunidades indígenas pelo fato que a vida gira em torno da coletividade. O que regula o relacionamento é a retribuição. A boa nova do Evangelho acrescenta de forma mais visível a gratuidade. Deus nos amou primeiro e sem nós merecer. Partir para esta prática exige uma passagem, um pulo de qualidade, uma experiência de fé. A palavra de Deus encontrou terra fértil nestes povos. Eles se tornaram evangelizadores dos próprios missionários na experiência evangélica da gratuidade, na prática do perdão. O que é mais difícil é o assumir da cruz como vitória sobre a morte e portal para vida nova.


 


4. O diálogo não foi restrito a uma dimensão da vida, mas sempre a partir do conjunto como é característico das comunidades indígenas.  Partimos da reflexão sobre o fazer, da análise e constatação dos frutos das iniciativas tomadas, para saber se era bom para a comunidade. Nós incentivamos e introduzimos o culto como momento novo de celebração e reflexão que tinha como balizas a realidade, a Bíblia, a cultura.


 


5. Como metodologia incentivamos sair da aldeia para conhecer diretamente outras realidades  seja no âmbito da conjuntura seja no âmbito eclesial. Vários representantes participaram de inúmeras assembléias indígenas, encontros, visitaram outras aldeias e organizações. Participaram também das assembléias  paroquiais, diocesanas, dos intereclesiais das CEBs e COMLA V. Foi importante a participação mas principalmente o envolvimento das comunidades na escolha e preparação dos representantes e na partilha no retorno destes.


 


6. O ponto norteador do trabalho da inculturação que se reflete sobre a inculturação litúrgica é o protagonismo indígena. Protagonismo indígena quer dizer que o povo indígena é quem decide, dirige e gerencia as mudanças. Para este fim na região as assembléias e encontros em todos os níveis foram o pressuposto de todas as iniciativas em qualquer campo: educação, saúde, religião, economia, política, organização… Dentro do protagonismo onde fica a tarefa do missionário? Além do pressuposto de convivência, apreciação, solidariedade achamos importante fornecer aos indígenas instrumental que favorece o seu protagonismo: o conhecimento e domínio dos mecanismos de nossa sociedade, capacidade de análise crítica, inclusive análise de sua própria sociedade tornando-se mais conscientes dos valores inerente nela; habilitação nos vários campos que precisam dominar para não depender de pessoas de fora.  Daí a necessidade e a multiplicação de cursos visando os dois objetivos


 


7. Ao mesmo tempo o processo de inculturação litúrgica passa pelo protagonismo indígena a partir de sua cultura (como ela é hoje) e da nossa. Também da capacidade de distinguir os aspectos essenciais dos acidentais, os valores do que atrapalha o projeto do povo e de Deus. Confessamos que, no entanto que estes povos indígenas já estão num caminho bem avançado de autonomia em outros campos, no campo religioso-litúrgico a caminhada é mais devagar. É  mais difícil neste campo ter o ministério do sacerdócio, por exemplo. Também os ministérios do batismo e casamento deveriam passar pelo diaconato o que não nos estimula, devido aos limites e contradições que a introdução na hierarquia eclesiástica traz.


 


8. Hoje o batismo é sim uma celebração de alegria e não de medo. Incentivamos o batismo em casa, que não todos praticam. A celebração do batismo é anual e é o momento do agradecimento pela vida da criança e a entrada oficial na comunidade, tanto indígena como povo de Deus. É um momento também de compromisso coletivo do povo para a educação das crianças em vista do bem comum. A escolha de padrinhos fora da vida da comunidade é uma exceção.  No ritual podemos destacar três momentos além do momento do batismo na água em nome da Trindade e da tradição do povo: 1) a apresentação das crianças por parte do pai e da mãe 2) o compromisso de ensinar profissão, costumes, habilidades por parte de pessoas da comunidade na liturgia catecumenal 3) a invocação comunitária do Espírito Santo com a unção depois do batismo.


 


9. As celebrações da Eucaristia e Crisma marcam nas comunidades a entrada dos jovens na vida adulta (Eucaristia) e seu comprometimento na comunidade através dos ministérios (Crisma).  (Os comentários sobre os ritos, não foram feitos por completo na exposição.)


 


10. O matrimônio é o momento de proclamar publicamente o compromisso já assumido pelos casais e suas famílias. A comunidade afirma este compromisso e promete a ajudar a nova família. Assim também nos outros sacramentos, a comunidade inteira participa, pois assume compromisso público com as pessoas recebendo o sacramento.


 


Rito de iniciação entre os Xavante/MT.


 


Iniciação dos Xavantes:


 


Estes foram batizados a partir 1795 até 1840 pelos  Capuchinhos, em Mato Grosso. Em 1840, os Xavantes fugiram do exército e foram  até perto da Ilha do Bananal. Atravessam o rio com balsas de tronco de bananeiras. Alguns conseguiram e outros se assustaram do boto e voltaram. Daí a divisão entre Xavantes e Xerentes. Os que fugiram deixaram tudo para trás, inclusive o batismo.


 


Em 1950, procuram os missionários que trabalhavam com os Bororos. Sua contactação é recente (50 anos), mais ou menos, antes do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965). O processo de inculturação teve início em 1967/68 e, mais nos anos 80. A 1ª Missa rezada na língua Xavante foi Natal.


 


Os catequistas são os próprios xavantes e a formação se realiza através do diálogo. O xavante tem três estágios de iniciação. A iniciação dos jovens dura 5 anos.


 


Rito de iniciação religiosa se dá a cada 15 anos, também em 3 etapas. Só aos 55 anos o xavante é maduro, pronto na iniciação religiosa. Os ritos de iniciação envolvem toda a comunidade.


 


A iniciação cristã também se dá em 3 etapas:  1ª etapa – catecúmenos – sua função é cantar nas liturgias. Não podem proferir a palavra. Só os padrinhos e catequistas que a proclamam.


 


A 2ª etapa – são os neófitos


 


Na 3ª etapa – ele ou ela se torna padrinho ou madrinha de novos catecúmenos.


 


Os padrinhos devem ser da facção oposta = troca simbólica. A ornamentação nos rituais é muito importante. São batizados, mas não são completamente iniciados.  A idade para batizar: é o pai que pede e decide. O conteúdo da catequese é baseado na Bíblia e do ano litúrgico. A catequese se dá a partir dos critérios do xavante.


 


Sobre os Bororos: (Pe. Ochôa)


 


Há grupos com 100 anos de catequese. Outros grupos conservam seus rituais. A pessoa do missionário precisa se tornar da cultura, caso contrário não é do povo. É importante conhecer o sistema de parentesco, de nominação e o funeral. Descobrir os seus valores, e a língua. Há o resgate do ritual da nominação. Experiência de juntar este ritual com o batismo cristão. O ritual do funeral é muito valorizado. Através da morte surge a nova vida. O funeral dura 2 a 3 meses, nos últimos 3 dias é mais forte.


 


O canto “grande” para o funeral só pode cantar se o mais velho dá a ordem.


 


O jovem José Mário disse que no tempo da Páscoa – quaresma (6ª feira maior) cantam um canto para Jesus que é cantado no funeral. Rezam a Via – Sacra.


 


CONTRIBUIÇÕES DOS  ASSESSORES.


INCULTURAÇÃO E LITURGIA


Paulo Suess


 


Estamos assistindo, durante este seminário, um rito de iniciação eclesial. Iniciari, do latim, quer dizer: abrir portas. Procuramos saber em que direção abrir as portas (para dentro ou para fora), para que possa acontecer um encontro com os povos indígenas.


 


1) Um processo complexo


 


Pode-se considerar a inculturação da liturgia cristã na vida dos povos indígenas como um processo de iniciação para a própria Igreja. Este processo passa por rituais de dor, de morte e ressurreição. A inculturação não é opcional. È um imperativo do seguimento de Jesus, como diz o documento de Santo Domingo (n. 13). A inculturação responde à primeira colonização e à segunda colonização, hoje presente, no neocolonialismo dos meios de comunicação e do mercado.


 


Se a Igreja declarar que a finalidade da inculturação não é criar novos ritos, mas adaptar o Rito Romano à compreensão dos povos indígenas, então não se trata de inculturação. Por outro lado, a diversidade entre os povos indígenas é muito grande e pode chegar ao ponto de impedir a comunicação.


 


2) Como comunicar-se com o diferente?


 


O diferente é um valor que está ligado ao surgimento da vida. A vida humana é resultado de uma permanente diversificação das primeiras células primitivas.


 


O diferente pode ser eliminado pela integração na cultura dominante. A adaptação é uma tentativa de encontrar-se no meio caminho. A inculturação que se inspira na encarnação de Jesus de Nazaré. A inculturação é um ato permanente de despojamento (kenose) que visa o protagonismo dos povos indígenas, com a sua identidade fortalecida. Não podemos defender, politicamente, o projeto histórico dos povos indígenas, e prejudicá-lo no campo simbólico. A alteridade indígena aponta para a alteridade do Reino de Deus que gira em torno de uma outra lógica.


 


A unidade da Igeja não é resultado da uniformização dos sinais e ritos. Mesmo ritos iguais podem sempre ter um significado diferente. A leitura do sentido vai sempre muito além de coreografias rituais padronizadas. A unidade da Igreja emerge da articulação de sua diversidade. O diferente é sempre uma possibilidade do divino entre nós. Essa possibilidade exige nossa abertura e compaixão. O diferente não nos faz indiferentes, mas particularmente sensíveis.


 


A comunicação ritual (litúrgica) com o diferente aponta para a possibilidade de celebrar em dois ritos: Um rito particular, específico, do respectivo povo e outro rito mais universal para a con-celebração com outros grupos. No campo das línguas fala-se do bilingüismo, o que neste contexto significa, falar a própria língua e falar uma língua geral. O bilingüismo é a condição para que ninguém seja oprimido pela cultura ou língua do outro, mas também para que haja comunicação e compreensão além da própria tribo.


 


3) Diversificar os ministérios e decentralizar as estruturas


 


Trabalhar com essa grande diferença cultural dos povos indígenas exige não só diversificar os ritos, mas também decentralizar e diversificar os ministérios. A diversidade dos ministérios na Igreja obriga distinguir entre ministérios cuja ênfase está na inculturação micro-estrutural (equipe de base) e ministérios que priorizam, por sua estrutura funcional, a articulação mais ampla (secretariado nacional das pastorais; ministério episcopal).


 


Nós, agentes de pastoral, que passamos pelas estruturas da Igreja e vivemos culturalmente perto da classe média, temos muitas dificuldades para conviver com os povos indígenas ou outros setores sociais. Às vezes, por não conseguirmos a inculturação na aldeia, gastamos muitas energias para legitimar a não-inculturação. Atrás de muitas “desculpas” está simplesmente a impossibilidade psicológica de a classe média abrir mão de seus privilégios e, com isso, a impossibilidade de se inculturar num determinado ambiente social.


 


Como fica então a evangelização? O evangelho deve ser anunciado em todos os grupos sociais. Se não conseguimos a inculturação em determinados ambientes, talvez consigamos descobrir os evangelizadores que já estão no respectivo grupo, onde não conseguimos fincar pé. Porque Aquele que depois de sua ressurreição precedeu seus discípulos na Galiléia dos pagãos, precedeu também hoje seus evangelizadores em todas as Galiléias do mundo. O primeiro evangelizador, que é o Espírito Santo, pai dos pobres e protagonista da evangelização, já está entre eles. Deus suscita em todos os grupos sociais evangelizadores. Falta descobrí-los, acolhê-los, confirmá-los e acompanhá-los. Quem impediu os povos indígenas no Brasil de terem seus próprios protagonistas da evangelização?


 


4) Trabalhar com o cultural e historicamente disponível


 


Como a cultura de nenhum povo é normativa para um outro povo, Jesus de Nazaré não padronizou sua cultura para viver e testemunhar a experiência de Deus. Jesus interveio em sua própria cultura – dentro dos limites da consciência possível de sua época -, quando se tratava de estruturas de pecado no interior do seu povo (crítica do farisaísmo). Para explicar

Fonte: Cimi/CNBB
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