Movimentos Sociais do Mato Grosso do Sul
Ao tomarmos conhecimento da eminência de mais um ato de violência contra os direitos dos índios de Nhahnderu Marangatu à sua terra já homologada pelo presidente Lula, queremos não apenas manifestar nossa solidariedade aos índios pela permanência em suas terras, como queremos transformar nossa indignação em gestos e ações concretas para que não aconteça esse “massacre” previsto para os próximos dias.
Diante de mais essa violência anunciada a Coordenação dos Movimentos Sociais do Mato Grosso do Sul quer externar sua indignação
1. É revoltante o fato do Poder Executivo ter concluído praticamente todo o processo de regularização dessa terra, e a agora vem outro poder e manda expulsar os índios desta mesma terra. Para os índios isso é uma espécie de terrorismo totalmente descabível. Por isso queremos dizer que nós do movimento social não só reconhecemos esse direito dos índios à terra, como exigimos que se cumpra a Constituição e que o governo se empenhe efetivamente para o mais breve possível os índios possam estar de posse efetiva de sua terra.
2. Achamos lamentável, que nesse dia em que comemoramos o 57 aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, se viva aqui em nosso Estado uma situação de afronta total ao direito mais sagrado de uma comunidade indígena: o direito à sua terra tradicional. E como dizia um procurador do Ministério Publico Federal de Brasília, ao visitar uma área indígena no MS, no início da década passada, “aqui uma vaca tem mais terra para viver do que um ser humano”. É gritante essa concentração de terra nas mãos de uns poucos enquanto a grande maioria dos trabalhadores rurais, quilombolas e índios estão à beira da estrada em lonas pretas, ou confinados em espaços ínfimos de terra. Ao reconhecermos o direito dos índios às suas terras exigimos também uma agilização nos processos de uma efetiva e ampla reforma agrária e o reconhecimento das terras dos quilombolas.
3. Os índios são as principais vítimas de toda sorte de violências a que estão submetidos. Especialmente os Kaiowá Guarani, que só neste ano já tiveram mais de cem assassinatos, tendo praticamente todos sua origem principal na falta de terra: são assassinatos, suicídios, homicídios, atropelamentos, além das inúmeras mortes por desnutrição e fome. Dentre as mortes de índios no Brasil neste ano, mais da metade ocorreram aqui no Mato Grosso do Sul. Essa situação gritante poderá estar sendo agravada ainda mais com as violências da expulsão anunciada no Nhanderu Marangatu.
4. O movimento social deste estado tem manifestado sua solidariedade aos povos indígenas em diversos momentos e de diferentes formas, desde a denúncia indignada até a presença solidária nas áreas de conflito. O mesmo estaremos fazendo com nossos irmãos de Nhanderu Marangatu. Estamos prontos a estar com eles lá, caso seja anunciada qualquer ação de violência e expulsão.
Neste dia de celebração mundial dos Direitos Humanos, queremos nos unir à heróica resistência histórica e atual do Povo Guarani e juntamente com Sepé Tiaraju, Marçal de Souza, Marcos Veron e Dorival Benites, unir todas as forças guerreiros dos povos indígenas e de todos os seus aliados no Brasil e no mundo inteiro.
Campo Grande, 10 de dezembro de 2005.
Coordenação dos Movimentos Sociais do Mato Grosso do Sul