28/08/2005

Yvy Katu: Querem nos matar?

“Então venham. Vamos ser mais de cinco mil Guarani Ñandeva que estaremos aqui esperando. Podem vir com máquinas grandes, porque daqui não vamos sair vivos. Pode dizer isso para as autoridades”. Com essas palavras um dos caciques da Terra Indígena Yvy Katu, no município de Japorã, no cone sul do Mato Grosso do Sul, externa em poucas palavras a dimensão da tragédia anunciada caso forem mobilizadas as polícias federal e militar para tirar os índios de sua terra tradicional. 


 


Yvy Katu é a única terra indígena que teve sua portaria declaratória assinada neste ano pelo governo Lula. Mas não demorou um mês e o ato do Poder Executivo foi liminarmente suspenso pelo Poder Judiciário. Uma questão que para os índios soa como absurda, pois “parece que estão brincando conosco. Um reconhece que a terra é nossa e logo depois vem outro e diz que não é. Nós não somos boneco e nossa terra não é um negócio. Esperamos que as autoridades nos levem a sério e respeitem nossos direitos. A terra é nossa e nós fazemos parte dessa terra…” Falas semelhantes a essa, com tom indignado e embasado nas convicções profundas da cultura e vida Guarani, são ouvidas com freqüência quando se está nas aldeias e comunidades desse povo.


 


Acompanhamos com perplexidade as freqüentes notícias de mortes de crianças Kaiowá Guarani no Mato Grosso do Sul neste no primeiro semestre desse ano. Foram registradas mais de 40 mortes por desnutrição. Se juntarmos a esse número quase 30 suicídios, especialmente de jovens, e outro tanto de homicídios e mortes por atropelamentos, teremos pelo menos uma centena de mortes, revelando um quadro dramático, como jamais se imaginaria.


 


E o que se está fazendo para reverter esse triste quadro? Cestas básicas estão matando a fome momentaneamente, mas infelizmente essas ações não são acompanhadas com medidas efetivas que restituam aos índios suas terras e sua capacidade de voltar a produzir seus próprios alimentos.


 


Parece que no Mato Grosso do Sul continua vigorando o caráter genocida de negar a terra aos índios. As freqüentes ações de reintegração de posse, anulação de atos do Executivo, como no caso da homologação do Ñanderu Marangatu, aliado à morosidade do governo em fazer avançar os procedimentos de reconhecimento e regularização das terras indígenas são sinais de que aos índios resta confiar e lutar por seus direitos contando com a solidariedade de amigos de sua causa no mundo inteiro.


 


Campo Grande, 28 de agosto de 2005.


 


Egon Heck / Cimi – Regional Mato Grosso do Sul


 

Fonte: Cimi - Regional Mato Grosso do Sul
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