01/08/2005

Barril de Pólvora

 


O Cone sul do Mato Grosso do Sul está há cada dia mais explosivo. Na semana que passou a situação ficou ainda  mais tensa, afigurando-se um clima de “guerra”, conforme externou o capitão Rosalino, da Terra Indígena Yvy Katu, no município de Paranhos, na fronteira  do Brasil com o Paraguai. Os mais de mil índios Kaiowá Guarani estão ameaçados de expulsão de sua terra pela confirmação da liminar de reintegração de posse expedida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim. Neste mesma semana ele havia confirmado liminar de suspensão temporária da homologação da Terra Indígena Nhanderu Marangatu, no município de Antonio João. Esta terra foi homologada dia 28 de março pelo presidente da República.. Léia, professora Indígena desta área, que estava em Brasília, não conteve sua dor e revolta ao saber da notícia. Chorou. Esperava exatamente conseguir informações sobre o indenização e retirada dos invasores. Enquanto foi anunciado a presença da polícia federal e estadual na região de Sombrerito para expulsar os índios deste tekoha, onde foi assassinado dia 26 o cacique Dorival Benites.


 


Portanto estamos numa das regiões de menor índice de terras para os índios, não chegando em média a um hectar por pessoa, com altíssimo índice de violência, suicídios e mortes por desnutrição. A pergunta que fica no ar, a partir das ações judiciais, das iniciativas antiindigenas no Congresso e da omissão e morosidade do governo federal no reconhecimento das terras indígenas, é se não está em curso uma decretação de morte lenta dos Kaiowá Guarani, que fundamentalmente dependem da terra para sobreviver. A única resposta contrariando essa percepção será através da urgente demarcação e reconhecimento das terras Guarani.


 


CPI e Fórum


 


Enquanto a CPI estadual que apura as mortes de crianças indígenas por desnutrição – já foram mais de 40 neste ano, continua seus trabalhos e em Campo Grande se realizará um Fórum dos Povos Indígenas do Estado, teremos também uma semana de muita apreensão, tensão e expectativa na região da fronteira com o Paraguai. Caso as ações antiindígenas continuem violências de proporções incalculáveis poderão ocorrer com derramamento de sangue.


 


Quando Dorival Benites, naquela manhã de domingo do dia 26, foi ao encontro dos fazendeiros e pistoleiros fortemente armados, dançando e fazendo ressoar seu mbaracá (maracá), ele tinha a convicção firme de que a terra do Sombrerito, em que nasceu, finalmente seria de novo o local de vida e esperança de seu povo. O som pausado de seu mbaracá foi silenciado pelo ruído feroz das escopetas e outras armas de fogo. Seu sangue foi derramado e seu corpo enterrado nesta terra.  Milhares de mbaracas voltarão a soar nas mãos e almas dos nhanderu e guerreiros Kaiowá Guarani, até que a terra que Tupã lhes deixou volte a ser espaço de paz e de vida para seu povo.


 


O mbaracá  e a escopeta


 


Semana de angustia


Apreensão e revolta


Para os Kaiowá Guarani


Da fronteira do Brasil,


No  cone sul do Mato Grosso do sul!


 


Em Brasília, o presidente do


Supremo Tribunal Federal,


O mesmo que em tempos passados


Disse fazer lei para acelerar as demarcações,


Agora apressa o não reconhecimento


Dos direitos indígenas,


Anulando, temporariamente


A homologação de Nhanderu Marangatu


E dando reintegração aos fazendeiros


Na Terra Indígena de Yvy Katu.


E ali próximo a polícia estava se posicionando


Para retirar do tekoha de Sombrerito


As centenas de índios que ali  estão.


 


Os nhanderu agitam seus mbaracá,


Acreditando na certeza de que vencerão,


Pois as escopetas podem apenas


Matar o corpo, porém não a alma e os sonhos,


Que estão no profundo do ser Guarani.


 


Quando os fazendeiros e pistoleiros


Fortemente armados,


Se postaram frente aos índios no Sombrerito,


Dorival com seu mbaracá da esperança


Foi ao encontro deles, dançando,


Alegre por ter voltado à terra em que nasceu!


Aquele som e gesto atormentou os agressores


Que não duvidaram em sacar suas armas


E disparar sobre o confiante cacique e sua gente.


As balas da escopeta abateram Dorival,


Como quem elimina um animal,


Mas a prepotência da escopeta


Não calará o som do mbaracá,


Que continuará sendo vibrado


Por milhares de guerreiros e nhanderu Guarani,


Pois de cada sangue derramado surgirão


Multidões de destemidos lutadores,


Armados com sonhos e a força dos mbaracá!  


                                           


Egon Heck – Cimi MS


Fonte: Cimi Regional Mato Grosso do Sul
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