E a Terra florescerá
O sangue Guarani de Dorival se espalhou pela terra Guarani de Sombrerito naquela madrugada de domingo dia 26. A dor e o choro ecoaram forte, pela morte , pelos feridos e espancados. Mais uma cena de brutalidade contra o milenar povo desta terra. Para quem resistiu há séculos, essa é apenas mais uma demonstração de desumanidade dos invasores. Mas todo sangue derramado fará da terra brotar vida e esperança. Eis que está plantado mais um dos mártires da terra, herói da resistência secular, arauto de um novo mundo, Brasil e Mato Grosso do Sul, possíveis, necessários que estão começando a ser construídos com sangue, sacrifício e dor. Vencerá o amor, não prevalecerá o mais forte. A terra será dos que a amam e dela sempre cuidaram, com o mesmo carinho e gratidão que se tem pela mãe. A terra não mais será de forasteiros, de pistoleiros, de fazendeiros…A terra Guarani, voltará a ser de seu povo. E a terra florescerá…
Neste mesma semana, as lágrimas não foram em vão. A pressão do mundo inteiro fez com que não apenas se instaurasse logo o inquérito para identificar e punir os assassinos, mas animou os índios a permanecer em sua terra reconquistada. Além disso, saiu a portaria declaratória para demarcação dos 9.400 hectares da Terra Indígena Ivy Katu nesta mesma região da fronteira com o Paraguai, no município de Japorã. E a esperança Guarani volta a florescer!
Ao mesmo tempo, a Comissão de Direitos Kaiowá Guarani ultima os preparativos para mais um Grande Encontro, a Aty Guasu na aldeia de Teyi’Kue, na região de Caarapó. Apesar das greves e do mar de lama em que se agita o país, mais de 500 Guarani estarão celebrando a memória dos que tombaram, invocando Tupã e os espíritos guerreiros, a sabedoria dos anciões, com a paciência histórica transformada em flecha do futuro. Será mais um grande momento político e religioso, onde os Guarani Kaiowá estarão analisando suas lutas e traçando suas estratégias, contando com o apoio de seus aliados, dentre os quais o Cimi, que sempre se fez presente.
Em Dourados, uma centena de seguranças particulares foram contratados por fazendeiros para evitar que os Guarani Kaiowá, confinados e submetidos à fome, desnutrição e violência, reocupassem uma pequena parte de sua terra, para oxigenar um pouco suas vidas sofridas e sem horizonte.
Justa alegria da terra que voltará a ser honrada, não com “gado de elite”, colonião, braquiara ou outras pragas, mas com diversidade de vida e gente que sabe respeita-la.
Egon Heck