22/06/2005

Zapatistas em estado de alerta

 


 


Desde o último domingo (20) os escritórios e repartições públicas se encontram fechados nas comunidades zapatistas de Chiapas. O único equipamento público que funciona são clínicas de saúde, mas não há nenhuma presença militar. Está se cumprindo, assim, ao alerta vermelho geral decretado no domingo pelo Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN). Analistas avaliam que esta ação é devido ao rompimento das Juntas de Bom Governo com o Governo Estatal, uma vez que este não indenizou, nem regularizou, nem fez justiça nos poucos casos que lhe foram encaminhados.


 


Em um comunicado com data de 19 de junho, difundido esta segunda-feira, o sub comandante Marcos confirmou que o Comitê Clandestino Revolucionário Indígena (CCRI) do EZLN mantém um alerta vermelho em todo o território rebelde. O alerta decretado pelo Exército Zapatista é o primeiro registrado nos últimos 5 anos, lodo depois de ter mantido uma trégua com o Governo Federal depois do intento frustrado do Exército de capturar o sub comandante Marcos, em fevereiro de 1995.


 


No comunicado, os insurgentes dizem:”que estavam sendo chamados às fileiras todos os homens de nosso EZLN que se encontravam fazendo trabalho social nas comunidades zapatistas e que foram aquarteladas nossas tropas regulares. Da mesma forma, está suspenso por um tempo indefinido todas as transmissões da Rádio Insurgente, “La Voz de los sin Voz”, na freqüência modulada e em onda curta”.


 


No documento de sete pontos, o EZLN desresponsabiliza a todas as pessoas e organizações civis, políticas, culturais, cidadãs, ONG´s, comitês de solidariedade e grupos de apoio que estejam próximos, “de qualquer de nossas ações futuras”.Marcos disse ainda em seu texto que, comando geral zapatista ordenou o fechamento dos ‘caracoles’ (postos de serviços) e escritórios adjuntas das sedes de Bom Governo, localizados nas comunidades de Oventik, La Realidad, La Garrucha, Morelia y Roberto Barrios.


 


Disse, também, que estão realizando um levantamento dos membros das várias Juntas de Bom Governo e das autoridades autônomas para colocá-las em segurança, porque agora, e por um tempo indefinido, realizarão seu trabalho de forma clandestina e nômade “Tanto os projetos como o Governo autônomo se manterão trabalhando, ainda que em condições distintas às que tem havido até agora”, afirma Marcos no texto.


 


Ao mesmo tempo os ‘caracoles’ se manterão funcionando e os serviços básicos de saúde comunitária com pessoal civil. O EZLN exorta às entidades da sociedade civil nacionais e internacionais que se encontram em trabalhos de acampamentos de paz e em projetos em comunidades, para que abandonem o território rebelde ou, se é sua decisão livre e voluntária, permaneçam por sua própria conta e risco, concentrados no  ‘caracoles’. No caso de menores de idade, a saída é obrigatória.


 


A movimentação política


 


Os deputados e senadores que formam parte da Comissão de Concórdia e Pacificação (Cocopa) se reuniram para analisar as implicações dos comunicados zapatistas e discutir uma proposta de mediação que evite “uma situação violenta”. Deputados do PRD e PT integrantes da Cocopa consideraram que o alerta deve preocupar a classe política mexicana, que deve tomar medidas não só para impedir um novo levantamento armado no sudeste mexicano, se não resolver as demandas do zapatismo. Eles querem de imediato estabelecer uma via para o diálogo, a efeito de desativar qualquer ação dos zapatistas.


 


Até o momento, acrescentou, não há sinais de destensionamento pacífico nem de um compromisso para incorporar os indígenas aos processos de transição no país. “Não podemos avaliar uma decisão de caráter militar do EZLN, mas tampouco a surdez do governo federal. Esta é uma verdadeira chamada de atenção para que o Congresso e o governo federal tomem medidas como desmilitarizar o estado de Chiapas”, comentou um deputado da Cocopa, Berbardino Ramos


 


O governo do estado de Chiapas se absteve de opinar sobre o alerta vermelho emitido pelo EZLN, com o argumento de que ainda não teria elementos suficientes para avaliar a ação. Logo depois da difusão do comunicado do comando zapatista, funcionários estatais encabeçados pelo governador Pablo Salazar Mendiguchía, mantiveram uma reunião de trabalho “urgente“; de toda forma, ao término da mesma extra-oficialmente se informou que esperariam até que a Secretaria de Governo emita sua postura a respeito, por tratar-se de um assunto de caráter federal.


 


O governo do Presidente Vicente Fox recomendou às comunidades indígenas de Chiapas “a seguir atuando com ordem e civilidade, no marco da lei”. O comissionado para o Diálogo de Negociação em Chiapas, Luis H. Alvarez, afirmou “categoricamente” que a zona fronteiriça dos Altos e da Selva deste estado do sudeste mexicano se encontram em plena normalidade.


 


 


 


 

Fonte: Adital
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