Desnutrição se vence com terra
Nós da Comissão de Direitos Indígenas Kaiowá Guarani, reunidos na aldeia de Amambai para preparar mais uma Aty Guasu, queremos expressar nossa preocupação pelo que continua acontecendo com nosso povo. Depois de terem divulgado muito a situação de fome, a desnutrição e a morte de mais de quarenta crianças nossas nos primeiros quatro meses deste ano, de muitas comissões, visitas, investigações e algumas medidas, especialmente cestas básicas e bolsas diversas, agora parece que tudo está resolvido.
Só aqui em Amambaí foram registradas a morte de oito crianças neste último mês de maio. Além disso não foram tomadas medidas efetivas para resolver a questão das terras. A única terra homologada ultimamente, o Cerro Marangatu, continua quase totalmente nas mãos dos fazendeiros, sem que a Funai realize a indenização para que fiquem livres dos invasores.
Nossos parentes estão querendo ajudar para que esse processo das terras avance. Por isso discutiram e estão retomando pequenas porções das terras tradicionais (tekoha). Essa é uma das formas de contribuir para que a Constituição seja cumprida, uma vez que ela determina que todas as terras indígenas estivessem demarcadas e garantidas, até 1993.
Nos perguntamos se de fato o governo está decidido a contribuir para acabar com a fome, a violência, os suicídios e de nosso povo. Isso para nós só acontecerá na medida em que demarcar, desintrusar, recuperar nossas terras tradicionais.
Também estamos preocupados pelo fato de alguns políticos estarem investindo na divisão do nosso povo, favorecendo alguns grupos que não representam nossas lutas, e que apenas estão confundindo a sociedade, enfraquecendo a luta pelos nossos direitos, e gerando disputas e tensões em nosso meio.
Que depois de ações “emergenciais” e pontuais, da vinda de tanta gente nas nossas áreas, esperamos que, finalmente, o governo comece implementar políticas e programas mais articulados e integrais, começando pela terra e produção de alimentos, e que levem à nossa autonomia e auto-estima de nosso povo.
Amambaí, 13 de junho de 2005.
Anastácio Peralta, Zenildo Isnard, José Bino Martins, Rosalino Ortiz, Nito Nelson, Elda Vasque Aquino, Rodolfo Ricarte
Comissão de Direitos Indígenas Kaiowá Guarani