“São as causas que importam”
Dom Luciano Mendes de Almeida foi homenageado ontem, dia 17 de maio, em Brasília, através de uma Sessão Especial na Câmara dos Deputados. Arcebispo da Arquidiocese de Mariana, MG, há 16 anos, Dom Luciano foi presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil do Brasil (CNBB) entre 1987 e 1994.
Nascido no Rio de Janeiro, ordenado em Roma, Dom Luciano teve intensa atuação com moradores em situação de rua e na Pastoral do Menor, pela qual ficou conhecido especialmente durante sua estada na Zona Leste de São Paulo, e quando foi bispo auxiliar da diocese de São Paulo.
O bispo teve atuação decisiva no episódio das acusações do jornal O Estado de S.Paulo contra o Cimi. Em 1987, na época da Constituinte, o jornal publicou “reportagens” sobre a suposta atuação de missões religiosas como fachada de interesses de mineradoras estrangeiras. Após seis dias de matérias que acusavam diretamente o Cimi, e através da atuação da CNBB, o jornal O Estado de S. Paulo foi obrigado pela Justiça a publicar o direito de resposta da entidade.
Durante a homenagem em Brasília, com uma fala tranqüila e pausada, Dom Luciano afirmou que encontrou nas causas populares o sentido para a solenidade, que durou quatro horas. “Estava pensando no sentido do que estamos aqui fazendo. E eu vi são as causas que importam: terra, trabalho, as populações indígenas, os quilombolas”, disse o bispo.“Neste momento, sou alguém que ajuda para que estas causas estejam presentes nesta casa”, concluiu. Cerca de 200 trabalhadores rurais Sem Terra ligados ao MST participaram da Sessão. Também estiveram presentes fiéis e políticos da região de Mariana, Minas Gerais.
“A presença de vocês me deu uma alegria muito especial e também suscitou um compromisso mais forte”, afirmou o bispo, agradecendo a presença dos participantes. Dom Luciano lembrou de amigos e militantes ausentes, entre eles o operário Santo Dias, o índio Guarani-Kaiowá Marçal de Souza e irmã Dorthy Stang. Quando lembrou do menino Joilson, “morto a ponta-pés em São Paulo”, dom Luciano emocionou-se e chorou. “Estas pessoas nos incentivam a acreditar que, se nós somos destinados à felicidade, podemos experimentar um pouco disso aqui”. Para o bispo, no entanto, chegar à felicidade “exige de nós mudanças comportamentais, alterações no nosso modo de vida, e um outro regime sócio-político-econômico”.
Quando a Sessão Solene foi encerrada, as pessoas que estavam na mesa da Câmara ao lado de Dom Luciano levantaram-se e foram saindo da mesa. Neste momento, os Sem-Terra entoaram uma música sempre presente em suas marchas (“este é o nosso país, esta é a nossa bandeira, e é por amor a esta pátria Brasil, que a gente segue em fileira”). Dom Luciano levantou-se, mas não virou para trás para cumprimentar os colegas da mesa. Parado, em pé, ouviu o canto dos Sem Terra até o fim.