03/05/2005

Defensores dos direitos indígenas são ouvidos no Senado

(Murilo Caldas)


 


Depois do momento da tensão na manhã do dia 28 quinta-feira, em que cerca de 600 indígenas tiveram acesso ao Congresso Nacional negado, 20 lideranças indígenas participaram de uma audiência na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal. Os temas foram à desnutrição indígena e a questão da falta de terra para os Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul (MS). A Comissão foi também uma oportunidade dos antropólogos e parlamentares da Frente em Defesa dos Direitos Povos Indígenas debaterem essas questões e firmarem o compromisso de buscarem soluções para os problemas que afligem os 30 mil Guarani no MS.


 


A audiência foi realizada para se garantir o direito de defesa às acusações feitas em 1992, pelo índio Adair Gonçalves Sanches, ex-vereador e ex-presidente do conselho da aldeia de Amambaí, registradas em cartório, de que PT daquele Estado e os antropólogos Celso Aoki e Paulo Pepe, da extinta ong PKÑ (Projeto Kaiowá Ñandeva) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) teriam incentivado indígenas a mentir sobre o tempo em que ocupavam fazendas para garantir a sua posse.


 


Egon Heck, do Cimi, apresentou um panorama da história do Povo Kaiowá Guarani e ressaltou importância da reconquista da terra deste povo como única alternativa para se reverter a situação de desnutrição que já matou 32 crianças indígenas na região. Ele criticou o atual modelo de desenvolvimento ecológico, econômico e social. “Os cinco milhões de toneladas de soja colhidas este ano certamente não estarão matando a fome das crianças Kaiowá Guarani”, desabafou.


 


Celso Aoki acrescentou que a desnutrição de crianças indígenas no MS não é novidade. “Há mais de dez anos a imprensa denuncia casos de tuberculose infantil entre os Kaiowá. Esta doença na verdade é fome”. Sobre as acusações, ele esclareceu que sua participação naquela época foi por meio de portarias da Funai e que se sente orgulhoso de ter contribuído com a demarcação de Terras Indígenas naquele Estado. Em 1992, nove áreas foram demarcadas, pelo menos seis delas contaram com o trabalho de Aoki.


 


O deputado Pedro Kemp (PT-MS) considera que o problema da pobreza e mortalidade entre os Kaiowá é, além da falta de terra, fruto da ação desarticulada do Governo Federal e Estadual. “São idéias mirabolantes criadas em gabinetes, mas que não são discutidas com as comunidades”. Ele criticou os atuais programas do Governo, como a distribuição de cestas básicas. “A história nos mostra que no passado esses povos viviam da sua produção e hoje vivem de cestas básicas”.


 


Sobre o fato dos índios terem sido barrados na porta do senado, a senadora, Ana Júlia (PA), pediu desculpas e disse se sentir constrangida com o ocorrido. “Infelizmente, nesta casa, basta a pessoa estar com terno e gravata para entrar sem ser questionada, já os mais pobres são sempre mal tratados”, afirmou Júlia que se comprometeu a pedir esclarecimento para chefia da segurança no senado.


 


 


 


 


 


 


 

Fonte: www.trabalhoindigenista.org.br
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