20/01/2005

Informe nº. 647

EM MANAUS, INDÍGENAS DE TODA A AMAZÔNIA DISCUTEM POLÍTICAS PARA A REGIÃO



 


O Fórum Social Pan-Amazônico (FSPA) acontece desde o dia 18 de janeiro, em Manaus, e reúne principalmente representantes de países que têm, em seu território, a floresta amazônica. O evento é uma manifestação, em escala regional, do Fórum Social Mundial, e envolve movimentos populares, organizações indígenas, sindicatos de trabalhadores urbanos e rurais, organismos eclesiais e entidades ambientalistas, com finalidade de fortalecer alianças e a solidariedade entre os povos da Pan-Amazônia.


 


Diversos debates abordam temas ligados aos povos indígenas. Aconteceu ontem (dia 19) a conferência “Descolonização e autodeterminação: Uma nova geopolítica para a Amazônia”. Na atividade, destacou-se a necessidade de que as decisões políticas para a região amazônica sejam orientadas pelas realidades das populações locais e para o atendimento de suas necessidades de sobrevivência e de crescimento.


 


Durante a conferência, foram questionados os atuais processos de ocupação territorial e de organização econômica da Amazônia.  Chamados de neocolonização, esses processos se baseiam em visões de desenvolvimento que permitem a destruição do solo e dos territórios onde vivem as populações tradicionais.


 


Outro ponto levantado durante o debate foi a forma como tem se dado a presença militar na região, o que está ligado à resistência de setores militares à homologação de terras indígenas em faixas de fronteira. As dificuldades criadas para a homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol são exemplos de como esta visão afeta os povos indígenas. “Não se pode tratar os povos indígenas como empecilhos à segurança”, afirmou o indígena Manuel Mura.


 


Hoje (dia 20), este tema volta a ser tratado na conferência “Resistência e Lutas dos Povos da Pan-Amazônia contra as estratégias de ocupação militar”, com participação de Egon Heck , do Cimi, e de Joênia Wapichana, advogada indígena.


 


Segundo José Rosha, da organização do Fórum Social Pan-Amazônico, participam do evento indígenas que vivem na cidade de Manaus e em regiões próximas a ela, além de cerca de 200 representantes vindos de outros locais da Amazônia. Há também um grupo realizando uma ocupação da Funai de Manaus. Já houve uma ocupação do órgão há duas semanas, e os indígenas continuam reivindicando a saída do administrador regional da Funai, Benedito Rangel Moraes.


 


O FSPA está organizado em conferências, oficinas e encontros de movimentos sociais. Os encontros acontecem no último dia do Fórum, 22 de janeiro, e serão organizados por temáticas (afro-descendentes, ambientalistas, ativistas contra a militarização, comunicadores, mulheres, juventude, povos indígenas, trabalhadores rurais, trabalhadores urbanos e agricultores familiares e ribeirinhos, entre outros). As reuniões pretendem ser um espaço para que os movimentos tracem linhas de ação em comum.


 


Para os participantes indígenas, os encontros trarão a possibilidade de costurar alianças entre os povos que vivem na região amazônica e que são afetados por temas semelhantes, entre eles a militarização e a expansão do agronegócio.


 


EM PORTO ALEGRE, AUTONOMIA, IDENTIDADE E TERRAS INDÍGENAS SERÃO TEMAS DE DEBATE



 


“Identidades étnicas, territorialidade e construção de projetos de autonomia indígena” é o nome da atividade que será realizada pelo Cimi durante o V Fórum Social Mundial. O debate, que acontecerá na manhã do dia 28 de janeiro, terá indígenas e acadêmicos discutindo caminhos para a afirmação das identidades étnicas e para o respeito à autonomia dos povos. Estará em pauta também sobrevivência física e cultural dos povos indígenas.


 


Palestrantes indígenas irão socializar experiências de autonomia no Brasil e em outros países da América Latina. Entre os debatedores, estarão o indígena mexicano Eleazar Lopez, o padre paraguaio Bartomeu Meliá e o antropólogo Alfredo Wagner.


 


O Fórum Social Mundial acontece na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, entre 26 e 31 de janeiro de 2005. Espera-se a presença de mais de 400 indígenas do Brasil e de toda a América Latina nesta quinta edição do evento, que terá um espaço específico para os representantes indígenas, o Espaço Puxirum de Artes e Saberes (Puxirum significa mutirão, em tupi-guarani).


 


O espaço indígena será formado por três tendas, onde serão tratados temas como propriedade intelectual, produção, território e direitos indígenas. A iniciativa tem como objetivos fortalecer as articulações entre os povos e colocar em evidência a diversidade indígena, suas riquezas culturais, artísticas e religiosas.


 


Uma das primeiras atividades do FSM será a cerimônia de inauguração do Puxirum, organizada por sábios dos povos Guarani e Kaingang, que vivem na região sul do Brasil. A cerimônia, que terá rezas de proteção e rituais, acontece às 6 horas da manhã do dia 26 de janeiro.


 


Brasília, 20 de janeiro de 2005.


 


Cimi – Conselho Indigenista Missionário


Fonte: Cimi - Assessoria de Imprensa
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