29/10/2004

Guarani-Kaiowá denunciam devastação na terra indígena Nhande Ru Marangatu, MS



         



Os Guarani-Kaiowá teriam motivos para comemorar, pois a demarcação física da terra indígena Nhande Ru Marangatu (Cerro Marangatu) foi concluída no último dia 12 de outubro. Entretanto, durante a colocação dos marcos em parte de seu território tradicional, este Povo constatou o aumento da devastação de suas terras, realizado por fazendeiros.


Apesar do andamento do processo para a homologação da terra ndígena, a comunidade ainda não detém a posse da terra. Preocupados com a degradação ambiental, os Guarani-Kaiowá encaminharam aos ministérios da Justiça e do Meio Ambiente, à Funai, ao Ibama e ao Ministério Público Federal um documento formalizando as denúncias e pedindo providências. 


 


O documento enviado pelos indígenas segue abaixo:


 


 


Terra Indígena Nhande Ru Marangatu, 25 de outubro de 2004


 


Ministro da Justiça Dr. Marcio Thomás Bastos


Ministra do Meio Ambiente Marina Silva


Presidente do IBAMA Dr. Marcos Barros


Presidente da FUNAI, Mércio Gomes


Ministério Publico Federal, 6ª Câmara,  Débora Duprat


 


Nós indígenas da Aldeia Nhande Ru Marangatu, no município de  Antônio João, MS, estamos nos dirigindo aos senhores para dizer que por um lado estamos contentes porque nossa terra foi demarcada neste mês. Por outro lado estamos muito preocupados e revoltados porque os fazendeiros estão destruindo o que resta de mata e envenenando nossas águas.


Por isso estamos denunciando estes graves fatos, esperando urgentes providências:


1.       Várias fazendas, mesmo depois da demarcação continuam e até aumentam a derrubada de árvores nativas, do pouco de mata que ainda resta, e plantas importantes para cobrir nossas casas, como é a palmeira  bacuri. Tem uns cinco tratores de esteira derrubando a mata. Além disso estão jogando veneno que impedem as sementes de brotarem, como as de ipê, dentre outras. Na fazenda Fronteira tem uma serraria funcionando, com madeira da nossa terra, entrando e saindo vários caminhões com cargas cobertas, impedindo até a identificação do que está sendo transportado.


2.       Também estão envenenando os nossos rios e fontes, matando os peixes e colocando em risco nossa saúde.


3.       Estão lavrando e gradeando grandes extensões de nossa terra, jogando veneno, mesmo próximo às nossas casas.


4.       Nossos professores e alunos estão sendo impedidos de transitar dentro da nossa terra, sofrendo ameaças por parte dos trabalhadores das fazendas citadas acima. desrespeitando nossa Constituição e a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, recentemente ratificada por nosso país.


Esses fatos são muito graves por que estão acontecendo dentro da nossa terra demarcada, sendo não apenas uma violência e destruição da natureza e do meio ambiente, mas também uma ameaça à nossa vida e sobrevivência, e um desrespeito aos nossos direitos tradicionais e constitucionais.


            Já temos sofrido demais cercados dentro de 26 hectares, dos 9.300 que acabaram de ser demarcados, e nos pertencem.


Diante dessa realidade pedimos medidas urgentes por parte do governo, impedindo imediatamente a continuidade da destruição de nossas matas, envenenamento das terras e rios, homologação da terra, retirada dos não índios, garantindo nosso direito de ir e vir e utilizar nossa terra demarcada para viver em paz e com dignidade.


Caso essas medidas não sejam tomadas com urgência seremos obrigados a defender com nossas forças aquilo que Deus nos deu e a Constituição do Brasil nos garante.


 


Esperamos ser atendidos prontamente, pois isso faz parte do cumprimento das promessas do governo Lula de resgate com as dívidas históricas com os povos indígenas.


           


 


Fonte: Cimi - Conselho Indigenista Missionário
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