17/09/2004

Governo de Misiones provoca morte de crianças Mbya Guarani

Indígenas Mbya Guarani deixam pela primeira vez as aldeias nas selvas da província argentina de Misiones para protestar contra a morte de 10 crianças da etnia e as medidas interventoras da administração provincial. São 60 crianças, 40 mulheres e mais de 200 homens, integrantes de 38 comunidades que ocupam há 15 dias uma praça da cidade de Posadas.


 


Os indígenas pedem a renúncia do diretor de Assuntos Guaranis, Arnulfo Verón, por corrupção e desvio de recursos públicos, que provocaram a morte por desnutrição de 10 crianças Mbya. Enquanto padeciam as crianças indígenas “o governo de Misiones mantinha parados desde janeiro três milhões de pesos que o governo nacional enviou como parte do Programa Nacional de Emergência Alimentar”, declara Lorenzo Ramos, reconhecido líder Guarani.


 


No entanto, o problema de carência alimentar dos Mbya não possui apenas caráter contingencial. “A maior parte das tragédias e sofrimentos que passa o povo Mbya Guarani ocorrem porque os brancos tiraram-lhes os territórios e com isto a possibilidade de viver com a sabedoria ancestral, e os numerosos recursos que obtinham da selva”, destaca Raúl Montenegro, presidente da Fundação para a Defesa do Ambiente (FUNAM).


 


Desestabilização das comunidades


 


E, além do descaso, as lideranças Mbya afirmam que Verón está introduzindo instituições estranhas à organização política tradicional da etnia para dividir as comunidades. “Até mesmo criaram um Conselho de Anciãos para promover a manipulação dos indígenas”, sustenta Lorenzo Ramos. Desta forma, somente as comunidades onde estes agentes do diretor de Assuntos Guarani estão “infiltrados” recebem ajuda governamental.


 


Contudo, a intervenção oficial não se limita a este mecanismo. “Os Mbya estão sendo despojados das florestas do território e mesmo da organização tradicional. O governo de Carlos Eduardo Rovira criou instituições que os Guaranis não possuíam para poder intrometer-se em sua vida institucional. O Ministério da Ecologia protege os interesses das madeireiras e a Direção de Assuntos Guaranis se dedica a acabar, com total impunidade, os modelos tradicionais de vida Mbya”, esclarece Montenegro, explicando porquê os Mbya se lançaram à cidade para protestar.


 


Até o momento, Rovira persiste em negar-se a dialogar com as comunidades Guarani. Para Ariel Araujo, da Coordenadora de Povos e Organizações Indígenas da região do Chaco e Misiones (COPIRECHA), a atitude do governador “respalda a gestão de um funcionário suspeito de corrupção”.


 


 

Fonte: Adital
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