30/07/2004

Indígenas se articulam para o Fórum Social Mundial

Os povos indígenas e as organizações que lhes representam tiveram grande destaque no desenvolvimento dos trabalhos no I Fórum Social das Américas que chega ao final na tarde de hoje, 30/07, com a cerimônia de encerramento na Casa da Cultura Equatoriana. Segundo os promotores, mais de 10 mil pessoas participaram das oficinas, seminários, conferências e demais eventos iniciados no domingo passado, 25, com uma concentração na Plaza San Francisco, no centro histórico de Quito.


Do Brasil, participaram representantes do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Associação de Mulheres Indígenas Sateré Mawé (Amism), do Amazonas, Frente de Resistência Pataxó, da Bahia, e um representante do povo Itapeba, do Ceará. A maioria dos integrantes da delegação brasileira ainda não havia participado de um evento com as dimensões do Fórum Social das Américas.


Para eles das muitas tarefas que o evento enseja a mais urgente é articular as organizações indígenas de todo o Brasil para participação no Fórum Social Mundial, cuja quinta edição se realizará na cidade de Porto Alegre em janeiro do próximo ano. Para isto, iniciaram contatos com lideranças e representantes de organizações indígenas do Equador e de outros países. Ontem pela manhã, reuniram-se com Blanca Chancoso, uma das organizadoras do Segundo Encontro Continental das Povos e Nacionalidades Indígenas de Abya Yala, realizado entre os dias 21 e 25 também em Quito.


A presença indígena no Fórum Social Mundial tem sido bastante expressiva. Na opinião dos indígenas do Brasil, ainda falta maior articulação para definir uma agenda de ações para o enfrentamento de problemas comuns entre os diversos povos do continente, como a crescente militarização – sobretudo com a instalação de bases militares norte americanas em vários países, algumas delas localizadas em territórios indígenas. “As iniciativas no Fórum Social Mundial, envolvendo a participação indígena, só irão avançar com o fortalecimento das alianças em nível continental e mundial quando tivermos um agenda ou plano de ação comum para superarmos os grandes desafios, como o respeito e garantia dos nossos territórios, retirada dos invasores, das bases militares e das grandes empresas mineradoras, petrolíferas e daquelas que exploram a biodiversidade”, avalia Dionito Souza, do povo Makuxi, representante do Conselho Indígena de Roraima.


O Secretário do Cimi – Conselho Indigenista Missionário-, Éden Magalhães, avaliou como bastante positiva a participação dos indígenas do Brasil no Encontro Continental e Fórum Social Mundial. “Estes eventos mostraram que a realidade indígena em vários países é muito parecida. Seus maiores inimigos são os mesmos que querem impor a Alca e os Tratados de Livre Comércio, entre outras iniciativas de dimensão continental”, disse ele. “Acredito que uma sólida articulação entre os povos indígenas desses países será decisiva para acabar com muitos desses problemas. Os povos indígenas do continente americano deram o passo inicial na luta contra a globalização desde o começo da década de 90 e com certeza têm muito a contribuir com os demais setores organizados da sociedade envolvidos nessa luta”, concluiu.


Quito, Equador – 30 de julho de 2004.

J. Rosha/Cimi Norte 1 

Fonte: J. Rosha/Cimi Norte 1
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