ABYA YALA AMERÍNDIA
FORJANDO UM NOVO AMANHECER
Evocam-se os quatro elementos da natureza – terra, água, fogo e ar – em todos os quadrantes do planeta terra, do nascer ao pôr-do-sol, do Canadá à Patagônia – para que os espíritos dos ancestrais estejam presentes neste momento em que os povos nativos de todo o continente americano se juntam em Quito, no centro do mundo, no território Kitukar.
Acende-se o fogo, que tornará presente todo o passado de luta e esperança de milhares de povos deste continente, ainda na paixão, mas firmemente decididos a forjar um novo amanhecer, superando o império da morte.
O fogo que aquece os corações, esclarece as mentes, fortalece os braços e abrasa os pés é o fogo sagrado que milenarmente tem acompanhado os povos nativos desta Abya Yala (continente americano). Ele foi aceso na I Cumbre dos Povos e Nacionalidades Indígenas realizada no México, em 2001, e que continuou aceso nesta II Cumbre que se encerrou no dia 25 de julho de 2004.
Foi também esse fogo que percorreu as principais ruas de Quito em grito de protesto e esperança, lançado por centenas de vozes altivas e reprimidas, seculares e de utopia. Esse fogo estará presente em todo o continente, nas aldeias e cidades onde estiverem indígenas carregando essa chama junto com os demais excluídos e oprimidos desta Ameríndia, outra América possível.
Além da condenação veemente da política neoliberal globalizante que condena os povos e as culturas à sepultura massificada, os povos reunidos e unidos aos espíritos guerreiros dos seus ancestrais veneraram a pachamama (mãe-terra) e todo o universo e o planeta Terra cada vez mais ameaçado. A espiritualidade, numa profunda relação com toda a vida existente, em harmonia com os criadores e todas as criaturas, na busca da paz e felicidade, foi proclamada como uma das condições fundamentais para se reconstruir o continente em outras bases e valores que não as vigentes e impostas pelo atual sistema dominante. O tom celebrativo deste II Encontro Continental foi uma clara demonstração disso.
Seguidas vezes os líderes espirituais dos povos chamaram atenção para essa necessidade. E foi nesse espírito que o mestre espiritual Jaime Pilacunha fez o encerramento deste grande Encontro, quando o sol se encontrava reto, neste coração do mundo.
Ali estavam, além dos participantes, aliados como as madres da Praça de Maio, do Chile, e o prêmio Nobel da Paz, Perez Esquivel, da Argentina, além de grupos afro-descendentes da Venezuela e de vários países que vieram prestar sua solidariedade aos povos indígenas de Abya Yala. Esquivel ressaltou que apesar dos sinais de morte, dominação, desunião, podemos perceber muitos sinais de esperança. “Os povos colocaram-se de pé e estão construindo essa nova América possível que queremos deixar para nossos filhos”.
Apesar do momento difícil que passam os povos indígenas, submetidos a toda sorte de pressões, prisões, desunião e violência por parte dos Estados Nacionais e das multinacionais que sustentam as elites corruptas e sanguinárias, os povos indígenas resistentes e insurgentes aqui afirmaram para o mundo: “Aqui estamos e não somos apenas portadores de um passado glorioso de harmonia e de luta, mas portadores do futuro, da utopia de um novo amanhecer”!
Quito, 25 de julho de 2004.
Egon D. Heck – Cimi Norte 1