Roraima – Rizicultores e índios seqüestram servidores da Funai e equipe de saúde que fazia remoção de doentes
Os servidores da Funai, César Augusto Júnior e Gilberto Pereira da Silva são mantidos reféns desde ontem à noite na aldeia Contão, 200 quilômetros de Boa Vista. Eles foram seqüestrados pelo rizicultor Paulo César Quartieiro e índios contrários à homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol de forma contínua.
No final da tarde de hoje, os seqüestradores apreenderam um veículo da Fundação Nacional de Saúde – Funasa, que fazia remoção de pacientes da aldeia Waromadá para o Hospital do Índio, em Boa Vista. Duas pessoas doentes e os funcionários do Convênio CIR-Funasa, Lauro Pereira e Lourenço Cândido também estão em cárcere privado.
O Conselho Indígena de Roraima – CIR, comunicou o seqüestro da equipe de saúde ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal. Através do sistema de radiofonia chegam informações de que os seis seqüestrados estão juntos num bloqueio feito na estrada de acesso à Uiramutã feito por moradores da aldeia Contão.
Para despistar a opinião pública da prática de seqüestro, o rizicultor Paulo César Quartieiro fez circular num jornal de Boa Vista a notícia de que também teria sido seqüestrado, fato que não aconteceu. “Ele ta querendo inverter as coisas”, comenta Dionito José de Souza, liderança do CIR.
Desde ontem a noite a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal estão no local para evitar conflitos entre indígenas ou com os invasores da TI Raposa Serra do Sol. A PF deve solicitar reforço para libertar os reféns.
Em janeiro de 2004, o mesmo grupo que mantém os servidores da Funai e da Funasa reféns, invadiu a Missão Surumu, seqüestrou três missionários católicos e os manteve reféns por 60 horas na aldeia Contão. Os missionários, depois de libertados foram conduzidos a Boa Vista no helicóptero do Governo do Estado.
O Conselho Indígena de Roraima comunicou a possibilidade real de ocorrerem conflitos com mortes na TI Raposa Serra do Sol ao Ministério da Justiça, Procuradoria Geral da República e presidência da Funai.
O recrudescimento do movimento contra a homologação da TI Raposa Serra do Sol iniciou quando as comunidades indígenas resolveram ocupar a margem do igarapé Jauarí, no dia 30 de junho, para conter o avanço das lavouras de arroz irrigado na região. As lavouras causam danos ao patrimônio ambiental e cultural dos povos indígenas.
As comunidades que defendem a homologação de forma contínua decidiram chamar a atenção do Governo Federal para os graves problemas que resultam da demora da homologação de Raposa Serra do Sol.
Em carta ao Palácio do Planalto, enviada em 18 de maio, as principais organizações indígenas de Roraima responsabilizam “o Governo Federal, em especial o presidente Luis Inácio Lula da Silva por qualquer violência contra índios ou não-índios, que venha ocorrer na TI Raposa Serra do Sol, conseqüência da disputa por terra”.