02/07/2004

Roraima – Arrozeiro envia indígenas para o confronto



Às quatro e meia da tarde de hoje, 1º de julho, o administrador interino da Funai em Boa Vista, Benedito Rangel, recebeu telefone do servidor César Augusto Júnior lotado no Posto Indígena Urucurí (Raposa Serra do Sol), comunicando que ele e o chefe de posto, Gilberto Pereira da Silva tinham sido rendidos pelo rizicultor Paulo César Quartieiro e um grupo aproximado de 300 índios.


Os dois servidores foram conduzidos até o local onde 360 índios favoráveis à homologação contínua constroem nova comunidade para conter o avanço das lavouras de arroz dentro da TI Raposa Serra do Sol. Os grupos se encontraram na aldeia São Francisco por volta das seis da tarde e a informação que chegou ao Conselho Indígena de Roraima é que não houve conflito.


Às 19 horas, viaturas e agentes da Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal deslocaram-se para o local com a intenção de evitar o confronto. Segundo informações repassadas através de radiofonia, os servidores da Funai estão na comunidade São Francisco e não sofreram agressões.


A tensão entre os grupos poderá resultar em perdas humanas para os dois lodos, principalmente devido ao fato dos indígenas contrários à homologação contínua ingerirem bebidas alcoólicas fornecidas pelos rizicultores e nessas condições praticarem atos violentos.


O administrador da Funai e o Procurador da República em Roraima, Marcus Gonzaga Goulart, comunicaram o ocorrido à Polícia Federal. Gonzaga disse que o possível conflito será tratado como “um caso de polícia”.


A ocupação na margem do igarapé Juarí começou ontem com a participação de 360 indígenas das regiões da Raposa, Baixo Cotingo, Serras e Surumu.  As lavouras de arroz irrigado ficam do outro lado do igarapé. (Ver mapa no site www.cir.org.br)


Inconformadas com o avanço das plantações, as comunidades decidiram chamar a atenção para os graves problemas que resultam da demora da homologação de Raposa Serra do Sol, sejam os danos ambientais ou a iminência de conflitos entre comunidades e invasores.


Em documento enviado no dia 18 de maio ao Palácio do Planalto, intitulado “Somos filhos desta terra, aqui nascemos, aqui morreremos”, o Conselho Indígena de Roraima (CIR), a Associação dos Povos (Apir) e a Organização das Mulheres (Omir) e dos Professores Indígenas de Roraima (Opir), responsabilizaram o presidente Lula da Silva por qualquer violência que viesse a ocorrer na Raposa Serra do Sol, conseqüência da não assinatura da homologação.


“Responsabilizamos o Governo Federal, em especial o presidente Luis Inácio Lula da Silva por qualquer violência contra índios ou não-índios, que venha ocorrer na TI Raposa Serra do Sol, conseqüência da disputa por terra e dos conflitos patrocinados pela classe política local, fazendeiros, grileiros de terras da União e índios por eles ‘cooptados’”, informava o documento.


O Conselho Indígena de Roraima novamente responsabiliza o Governo Federal pela situação criada com a demora na homologação da TI Raposa Serra do Sol, afinal foram 14 meses do atual governo sem qualquer Liminar da Justiça Federal que o impedisse de assinar o decreto homologatório.


O CIR envidará todos os esforços para que não ocorram conflitos entre os irmãos indígenas incentivados a se conflitarem para satisfazer o desejo daqueles que pregam a violência e o desrespeito aos direitos indígenas em Roraima, sejam as autoridades públicas ou a classe empresarial e latifundiária do estado.

Fonte: CIR - Conselho Indígena de Roraima
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