28/04/2025

Myky denuncia violação de Declaração da ONU pelo Estado brasileiro e exige conclusão de demarcação

Typju Myky falou durante Diálogo Temático da 24ª Sessão do Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas

Por Assessoria de Comunicação – Cimi

Typju Myky se pronunciou na semana passada, dia 23 de abril, durante Diálogo Temático da 24ª Sessão do Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas (UNPFII), que acontece até o próximo dia 2 de maio na sede da ONU, em Nova Iorque (EUA).

Esta sessão do Fórum Permanente tem como tema: “Implementando a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas nos Estados-Membros da ONU e no sistema ONU, incluindo a identificação de boas práticas e a abordagem de desafios”.

Trata-se de um momento histórico: é a primeira vez que o povo Myky se dirige à comunidade internacional no Fórum Permanente. Typju, cineasta de 28 anos, vive na aldeia Japuíra, na Terra Indígena que fica a 53 km do município de Brasnorte, no norte do Mato Grosso.

“Exigimos que se retome imediatamente o processo para que se garanta os nossos direitos e para que haja vida e dignidade para todos os seres que habitam os mais de 100 mil hectares em nosso território na Amazônia”, diz Typju Myky

Demarcada ainda na década de 1970, o procedimento de delimitação da Terra Indígena do povo Myky teve uma série de irregularidades e ilegalidades. Razão pela qual precisou ser refeito a partir de 2007, sendo paralisado em 2022 pelo governo Bolsonaro.

No Fórum Permanente, Typju denunciou a violação pelo Estado brasileiro da Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas (UNDRIP, na sigla em inglês) no caso Myky e exigiu a retomada do procedimento demarcatório pelo atual governo.

Leia o pronunciamento na íntegra:

 

Olá, meu nome é Typju Myky.

É uma alegria estar aqui participando neste Fórum com tantos povos indígenas que mostram sua força, respeito e dignidade. Hoje trago comigo, pela primeira vez na história, mensagens sobre as lutas do povo Myky.

Tendo em conta a necessidade de implementar a Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, no artigo 4 temos o direito à autodeterminação, mas para se efetivar, base fundamental de todos os direitos indígenas, precisamos estar em nosso território.

Vivemos na Amazônia brasileira e somos sobreviventes de muitos massacres e enfermidades que reduziram nosso povo a nove pessoas. Nosso contato com a sociedade brasileira foi em 1971. Pouco depois, nosso território foi invadido, demarcado ilegalmente, por seu primeiro invasor: fazendeiro que demarcou seus limites de acordo com seus interesses.

Naquele momento não falávamos português e o governo brasieliro não nos participou do processo de demarcação. Como resultado, deixaram fora lugares sagrados que eram essenciais para garantir nossa sobrevivência física e cultural.

Finalmente em 2007 tivemos o direito a um estudo adequado reconhecendo que a terra foi invadida. A terra foi identificada em 2012, mas em 2022 o governo brasileiro continuava com o processo de demarcação e o ministro da Justiça de Bolsonaro cancelou o procedimento, que permanece cancelado no atual governo.

Por isso exigimos que se retome imediatamente o processo para que se garanta os nossos direitos e para que haja vida e dignidade para todos os seres que habitam os mais de 100 mil hectares em nosso território na Amazônia.

Obrigado!

 

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