Comunicação Sociotransformadora é tema de encontro entre comunicadoras e comunicadores de pastorais sociais
Reunido em Brasília, o coletivo refletiu sobre a Comunicação como ferramenta essencial com poder de envolver, sensibilizar e mobilizar a Igreja, comunidades e sociedade
Nesta quarta-feira (11), comunicadoras e comunicadores de diversas entidades pastorais ligadas à Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Cepast/CNBB) participaram de um encontro presencial na Casa Dom Luciano, em Brasília (DF). O objetivo do evento é fortalecer a caminhada por meio de pautas em comum e do diálogo junto às instâncias da Igreja, na missão de proclamar e reivindicar direitos e justiça junto aos povos e comunidades.
Estiveram presentes representantes da Cáritas Brasileira, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP), Pastoral Carcerária, Pastoral da Criança, Pastoral do Menor, Pastoral do Povo da Rua e Serviço Pastoral do Migrante (SPM), além da equipe da Cepast, organizadora do encontro.
“Objetivo é fortalecer a caminhada por meio de pautas em comum e do diálogo junto às instâncias da Igreja”
O que seria uma Comunicação Sociotransformadora?
A comunicação sociotransformadora é apresentada como uma estratégia essencial para as pastorais sociais se conectarem à Igreja e à sociedade com esperança e compromisso. Para o padre Dário Bossi, assessor da Cepast, essa abordagem abre caminhos para uma atuação transformadora. “A comunicação sociotransformadora é o rosto das pastorais sociais que se apresentam à Igreja e à sociedade com esperança e compromisso: estamos abrindo caminhos para o Evangelho da Vida e o sonho de Deus, seu Reino tomando forma no mundo”, afirmou.
Ele destacou ainda que a comunicação vai além de informar, pois tem o poder de envolver, sensibilizar e mobilizar. “Comunicar é contagiar, envolver mais pessoas para a missão e a profecia da Igreja, oferecer uma leitura crítica da sociedade, reafirmar a opção pelos empobrecidos, fortalecer a pastoral de conjunto e dar visibilidade a tantas ações concretas e criativas que as pastorais sociais realizam na sociedade”, disse.
“Comunicar é contagiar, envolver mais pessoas para a missão e a profecia da Igreja, oferecer uma leitura crítica da sociedade”
A assessora da Comissão Sociotransformadora da CNBB, Alessandra Miranda, destacou a importância da comunicação como uma ferramenta de diálogo e reflexão sobre os desafios que permeiam as pastorais sociais. “A comunicação sociotransformadora nos possibilita encontrar e conversar sobre os principais assuntos que estão em torno das pastorais sociais, que nos desafiam na perspectiva de compreensão, mas também de atualização das ações, metodologias e espiritualidades”, afirmou Alessandra, enfatizando o papel estratégico da comunicação para renovar as práticas pastorais.
Segundo Alessandra, esse processo exige novas elaborações e construções, e a equipe tem se dedicado com competência e dedicação a essas tarefas. “A médio e longo prazo, a Comissão Sociotransformadora, juntamente com a Comissão de Enfrentamento ao Tráfico Humano e a Comissão de Ecologia Integral e Mineração, ganha muito com a capacidade desses colaboradores e comunicadores em construir coletivamente”, reforçou, apontando para a sinergia entre as comissões na promoção de ações transformadoras.
“A comunicação sociotransformadora nos possibilita encontrar e conversar sobre os temas que estão em torno das pastorais sociais”
Uma comunicação comprometida com o Bem Viver dos povos
O encontro entre comunicadores e comunicadoras foi marcado por momentos de troca e reflexão sobre o papel transformador da comunicação na Igreja e na sociedade. Segundo Cláudia Pereira, comunicadora da Cepast, o evento proporcionou um espaço leve e oportuno para pensar estratégias que conectem as realidades locais à construção de uma comunicação comprometida. “Foi um momento de pensar a comunicação inteligente a partir de suas realidades para compartilhar e fortalecer esta comunicação que, a partir de hoje, denominamos de comunicação sociotransformadora na Igreja”, destacou.
Cláudia ressaltou que o objetivo central é a construção de alianças que contribuam para pautas de cidadania e o Bem Viver dos povos. “Refletimos sobre novas estratégias e, sobretudo, sobre a construção de uma aliança forte para contribuir nas pautas de cidadania e para o Bem Viver dos povos. Inspirados na provocação do Papa Francisco, pensamos na comunicação para a educação e a consciência política”, afirmou, destacando a relevância desse compromisso para o contexto atual.
“Refletimos sobre novas estratégias e a construção de uma aliança forte para contribuir nas pautas comuns”
Avaliação dos comunicadores
A relevância do encontro de formação e debate promovido pela Cepast foi ressaltada como um espaço para a construção de uma comunicação com propósito transformador. Henrique Cavalheiro, da assessoria de comunicação do Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP), destacou a importância do evento nesse sentido. “Este encontro nos inspira a pensar o processo de comunicação de forma diferente, compreendendo que este serviço é instrumento na luta por vida, teto, terra, território, trabalho e tantas outras formas de superar opressões e vencer as violências”, afirmou, destacando o papel essencial da comunicação no enfrentamento das desigualdades sociais.
Para Henrique, a comunicação sociotransformadora deve ser guiada pela verdade, ética e libertação. Ele também destacou o impacto desse processo tanto nos profissionais quanto no público alcançado. “Outro ponto é perceber que esta comunicação primeiro nos toca, até enquanto profissionais da área, e depois se torna um instrumento de encantamento para quem recebe nossos produtos e notícias. É uma comunicação que vale a pena ser feita e vivida”, concluiu.
“Outro ponto é perceber que esta comunicação primeiro nos toca”
Já para Carlos Henrique, assessor de comunicação da Comissão Pastoral da Terra (CPT), a importância do encontro é por ser um espaço de reflexão e planejamento conjunto entre as pastorais sociais. “Foi um momento em que pudemos nos reunir para pensar tanto nos desafios que temos em comum quanto nas nossas diferenças, além de pautas que podemos trabalhar coletivamente, como a defesa da natureza, dos direitos humanos e das comunidades que acompanhamos. São desafios que exigem que reverberemos as vozes dessas comunidades e estejamos ao lado delas”, afirmou. Ele também ressaltou a necessidade de a Igreja reconhecer e potencializar a comunicação das pastorais sociais, ampliando sua conexão com movimentos sociais, dioceses e paróquias, tanto entre as lideranças religiosas quanto entre os fiéis leigos.
Carlos enfatizou que o encontro foi proveitoso para fortalecer parcerias e planejar ações conjuntas que promovam a visibilidade das comunidades em luta por seus direitos, frequentemente ameaçadas por grandes interesses econômicos. “É preciso garantir visibilidade às causas e aos povos que estão sofrendo ataques aos seus direitos, enfrentando uma verdadeira campanha de extermínio promovida pelo agronegócio e pelo capital. Além disso, aproximar-nos de outras pastorais, como a Pastoral Carcerária, a Pastoral da Criança, a Pastoral do Menor, e incluir pautas como as das juventudes e das pessoas vivendo com HIV e aids, é essencial. Esses temas atravessam tanto o ambiente da Igreja quanto da sociedade e precisam estar no centro do debate”, finalizou.
“É preciso garantir visibilidade às causas e aos povos que estão sofrendo ataques aos seus direitos”
Maria Ritha Paixão, comunicadora da Pastoral Carcerária, destacou o quanto desafiador tem sido aproximar a juventude do trabalho desenvolvido junto às populações privadas de liberdade. Ao avaliar o encontro ela destacou o quão importante é falar sobre esse papel de comunicador que também é militante, “é desafiador, mas o encontro se revela um espaço de partilha, trocas e de fortalecimento de nós quanto pessoas. É muito importante este momento e novas oportunidades de se encontrar são fundamentais”, destacou.
“O encontro se revela um espaço de partilha, trocas e de fortalecimento que são muito importantes”
O encontro também buscou refletir sobre o papel político e estratégico de quem se dedica à comunicação sociotransformadora a que essas organizações se propõem a fazer na convivência com os povos e comunidades tradicionais em seus territórios, suas lutas e vivências. Com isso, um planejamento de ações para 2025 foi listado pelos participantes.
Os comunicadores e comunicadoras participam nesta quinta-feira (12), do Seminário de Incidência Política Compartilhada, que analisa a conjuntura atual sociopolítica do país. Para além das pautas que envolvem os povos da cidade, do campo, das águas e das florestas, o grupo irá pautar a comunicação nas ações de incidência política.