Semana dos Povos Indígenas 2024: Casa Comum – Todas e Todos Parentes
O Cimi, na Semana dos Povos Indígenas 2024, apresenta o tema: “Casa Comum – Todas e Todos Parentes”, e o lema “Razão da nossa esperança!”; confira o material especial
A “Semana dos Povos Indígenas 2024” desdobra aspectos da Campanha da Fraternidade da CNBB (cujo tema desse ano é “Fraternidade e Amizade Social”) para a pastoral em defesa dos povos indígenas. O Cimi propõe para esta finalidade o tema: Casa Comum – Todas e Todos Parentes, e o lema: Razão da nossa esperança! (Cf 1Pd 3,15). Tema e lema são marcados pelo objetivo da fraternidade na Casa Comum e da esperança como razão da nossa presença pastoral.
A Semana dos Povos Indígenas é uma oportunidade para nos perguntar: Como podemos viver melhor o parentesco com os povos indígenas no térreo da Casa Comum, que é a natureza, e no primeiro andar dessa casa, na dimensão cosmológica?
Contra a luta dos povos indígenas para conquistar sua autonomia e protagonismo são manejados preconceitos e falas discriminatórias dos diferentes atores sociais que, muitas vezes, utilizam seus cargos para ludibriar a sociedade em geral contra os mesmos e suas culturas, que se dinamizam para manter seu modo de ser e estar. Falas como “esse não é mais índio, porque está usando celular”, “índio vive pelado no meio do mato”, dentre outras, são expressões fortes de caráter discriminatório que quebram a relação fraterna de comunhão e solidariedade entre todos os seres humanos.
Historicamente, os povos originários vivem a negação e discriminação provenientes de uma sociedade que os afasta da relação fraternal que Papa Francisco nos apresenta na Encíclica Fratelli tutti. Anualmente, no Relatório de Violência contra os Povos Indígenas no Brasil, são citados vários casos de violências que comprovam as ações e tentativas da elite financeira e agrária, inclusive por meio de seus representantes no Congresso Nacional, em deslegitimar e extinguir os direitos dos povos indígenas. Um exemplo disso é a Lei 14.701/2023, conhecida como “lei do marco temporal”, mais uma investida para negar o direito dos indígenas de existir.
Em meio a tantas situações não fraternais que acometem os povos indígenas, percebemos sinais de esperança. Percebemos setores da sociedade envolvidos na luta indígena, somando forças para garantir que os direitos indígenas sejam e estejam assegurados. Percebemos pessoas que se sensibilizam e mobilizam um contingente de outros “parentes” para se somar à causa que, como diz Pedro Casaldáliga, “é uma causa perdida (aliás, como o Evangelho!) e é simultaneamente uma causa subversiva, libertadora”.
A soma destes esforços coloca indígenas no nível de irmãos e irmãs com igual valor, com a mesma capacidade de existir. A reafirmação dos indígenas como sujeitos de sua história mostra que a cultura se molda, ao passo que há a necessidade de viver e garantir a sobrevivência. Que a dependência não se sustenta quando se tem as mesmas oportunidades de qualquer pessoa não indígena.
É preciso promover uma mudança pessoal e coletiva no modo de se relacionar com os povos indígenas para que haja transformação comunitária e social. Diante de tantas catástrofes ambientais decorrentes das mudanças climáticas provocadas pela destruição da criação pelos seres humanos, os povos indígenas, com seu modo de ser e relacionar-se com a natureza, com o Criador e com os irmãos e irmãs, se apresentam como a solução para o futuro da humanidade.
A expressão “parente” significa ser ao mesmo tempo igual e diferente. Ser igual não é questão de homogeneizar a todos, pois a homogeneização empobrece, domina e nega o diferente. Mas, entre os povos, se aceita o diferente, a diversidade, o modo complementar, enriquecedor e inclusivo. Neste sentido, podemos dizer que os povos indígenas vivenciam a Amizade Social como fraternidade aberta a todos, onde se entende o outro, se ama e cuida do outro.
Os povos indígenas, suas organizações e seus apoiadores, no esforço de disseminar a fraternidade universal pela manutenção do direito originário, buscam avançar na compreensão e na convicção de que a demarcação dos territórios tem importância fundamental para garantir os projetos de vida destes povos e confirmar a configuração plural e diversa do país que somos.