Aldeia Kriimpej, do povo Kanela do Araguaia, é atacada após visita de arrendatário
O ataque se deu após ameaças de expulsão proferidas por criador de gado, que arrenda área de pastagem sobreposta à terra indígena; com medo, moradores se deslocaram para comunidade vizinha
Na madrugada da última sexta-feira (12), o povo Kanela do Araguaia, da aldeia Kriimpej, localizada na gleba federal Tapirapé I, em Luciara, Mato Grosso, sofreu um ataque a tiros empreendido por dois homens armados. No dia anterior ao atentado (11), os indígenas foram ameaçados pelo arrendatário que aluga uma área de pastagem sobreposta à terra indígena. O episódio foi registrado pela comunidade em Boletim de Ocorrência à Polícia Civil (PC).
Na ocasião das ameaças, uma moradora da aldeia, que não será identificada por motivos de segurança, com o intuito de dialogar com o arrendatário, apresentou um documento que comprova a destinação da gleba,pertencente à União, à comunidade. O documento, no entanto, foi ignorado pelo criador de gado, que admite não ser dono das terras mas afirma possuir retiros dentro da gleba. “Ele disse que se não saíssemos do local iríamos sofrer ações e passou ameaçar com palavras”, contou Rodrigo Lopes Alencar, professor e liderança da aldeia. O ataque se deu logo em seguida, naquela madrugada, e espalhou pânico e terror dentre os moradores.
“Ele disse que se não saíssemos do local iríamos sofrer ações e passou ameaçar com palavras”
“Por volta das três horas da manhã pistoleiros dispararam rajadas de tiros em direção às casas. As barracas ficaram peneiradas de balas”, conta uma das moradora da aldeia Kriimpej. Nove pessoas se encontravam no local no momento da investida. Ninguém ficou ferido.
Receosos de um novo ataque, os moradores da aldeia Kriimpej se deslocaram para comunidade vizinha. “Estamos com medo, resolvemos nos acomodar em uma comunidade próxima para reservar nossas vidas”, explicou Rodrigo. No dia seguinte(13), os indígenas retornaram à aldeia e se depararam com suas casas incendiadas. “Estava tudo destruído e com muitas rajadas de balas como forma de ameaça”, relatou.
“As barracas ficaram peneiradas de balas”
Segundo a liderança, apesar do recente atentado, as ameaças são constantes e se tornaram mais frequentes após a retomada da terra indígena em outubro do ano passado . “Ele [ arrendatário] sempre fez ameaça com quem está naquela região. Ele se diz dono das terras federais”, denunciou a liderança. A comunidade busca proteção do Ministério Público Federal (MPF) e investigação da Polícia Federal (PF), “pois não confiamos na Polícia Militar e Policia Civil de nossa região”, considerou a liderança.
A desconfiança se deve ao suposto envolvimento de um policial em ações criminosas cometidas anteriormente contra a comunidade.Em meio às ameaças, o arrendatário falou que “ele e o policial derrubaram e queimaram as casas que tinham na gleba da União. Por isso pedimos a PF”,explicou a moradora.
Além da atuação da PF, a comunidade pede também a retirada dos invasores, uma vez que se sentem ameaçados por eles. “Queremos que [as instituições] resolvam a nossa situação urgente, retirando os arrendatários e criadores de gado e que nos dê resposta urgente. Estamos vulneráveis e desprotegidos”, explica.
A comunidade Kanela do Araguaia reivindica há anos a demarcação da terra por eles ocupada, cujo processo aguarda a abertura de Grupo de Trabalho (GT) para delimitação e identificação da terra. Para comunidade, é urgente a regularização fundiária de suas terras, uma vez que a sua não demarcação tem sido a principal geradora de conflitos na região.