Cimi Regional Maranhão promove encontro com jovens Memortumré-Canela
O encontro aconteceu entre os dias 15 e 18 de junho, na aldeia Escalvado, Terra Indígena Kanela, com o objetivo de discutir sobre política e direitos coletivos
“Traga a bandeira de luta, deixa a bandeira passar, essa é a nossa conduta, vamos unir para mudar!”. Entre os dias 15 e 18 de junho, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão promoveu o I Encontro de Jovens Memortumré-Canela, na aldeia Escalvado, Terra Indígena (TI) Kanela, com o tema “Política e Direitos Coletivos”.
O encontro, que contou com cerca de 65 participantes, teve o objetivo de debater a questão política na aldeia na perspectiva do povo Memortumré-Canela, e compreender o sistema político brasileiro. De acordo com Ricardo Capêrkô Canela, o encontro é importante, pois muitos jovens não possuíam o conhecimento sobre os temas debatidos e puderam, nesse momento, aprender sobre as questões políticas. “Essa capacitação é fundamental para nós, povos indígenas, aprimorarmos o nosso conhecimento para a defesa dos nossos direitos”, afirmou.
“Essa capacitação é fundamental para aprimorarmos o nosso conhecimento para a defesa dos nossos direitos”
As atividades do encontro tiveram início na sexta-feira (16) com uma apresentação sobre o Cimi e os seus mais de 50 anos de trabalho com os povos indígenas. Durante a manhã do primeiro dia, o enfoque foi sobre o jeito de fazer política dos próprios indígenas que já possuem uma organização própria, suas normas internas. “A forma como tomam as suas decisões são herança de seus ancestrais, e que antecede a formação do Estado brasileiro. Tudo isso são formas de fazer política na aldeia”, enfatizou Madalena Borges, do Cimi Regional Maranhão.
“A forma como tomam as suas decisões são herança de seus ancestrais, e que antecede a formação do Estado brasileiro”
Os jovens Memortumré-Canela falaram sobre a organização política do povo Memortumré Canela, na aldeia Escalvado. Após o momento de reflexões, os participantes apresentaram aspectos da política do seu povo, que acontece conforme a sua cultura e a sua identidade. “Os mais velhos fazem reunião e decidem no pátio o que vão fazer, como por exemplo, as festas de nossa cultura”, evidenciaram os jovens Memortumré.
Na parte da tarde, as discussões giraram em torno da organização política do Estado brasileiro. Em relação ao tema, o povo Memortumré-Canela destacou as ações que realizam para obter os seus direitos, as inúmeras denúncias ao MPF, as muitas idas à Secretaria Estadual de Educação do Maranhão (Seduc-MA) para cobrar a construção de uma escola digna na aldeia. Outro exemplo destacado foi a ocupação feita na Unidade Regional de Educação, no município de Barra do Corda (MA), em 2022, pela construção da escola na aldeia, que está fase final.
Para Suely Konikrê Canela, o encontro é importante para os jovens compreenderem os assuntos relacionados à política brasileira. “Precisamos disso para a juventude entender a preocupação com a nossa aldeia, pois as coisas não estão fáceis para nós”, destaca a liderança.
“Precisamos disso para a juventude entender a preocupação com a nossa aldeia, pois as coisas não estão fáceis para nós”
Na ocasião, a equipe do Cimi Regional Maranhão apresentou aos jovens Memortumré-Canela o atual cenário político do Brasil em 2023, e frisou a importância da luta dos povos indígenas pela manutenção dos seus direitos coletivos. Segundo Rosana Diniz, da coordenação colegiada do Cimi Regional Maranhão, os direitos dos povos originários são um guarda-chuva que protege todos os indígenas. No entanto, há diversos ataques, inclusive no Congresso Nacional, que buscam destruir essa proteção.
A liderança Oscar Cogoxe Canela destacou que o encontro promovido pelo Cimi trouxe elementos para os jovens indígenas conhecerem mais sobre os seus direitos. “Muitos dos parentes não têm esse conhecimento, temos pouca experiência com a política externa e, para mim, o encontro foi proveitoso no sentido de aprender esses temas”.
Já no segundo dia, o debate seguiu com a discussão sobre a política do Estado brasileiro. A equipe do Cimi Regional Maranhão expôs os partidos que votam contra o direito dos povos indígenas, com destaque para a votação do Projeto de Lei (PL) 490/2007, aprovado pela Câmara de Deputados, que estabelece um marco temporal para a demarcação de terras indígenas, e que agora tramita no Senado Federal sob o título de PL 2903/2023.
No momento, os jovens Memortumré-Canela falaram da sua preocupação com a aprovação do marco temporal, porque o território poderá ser atingido com a aprovação dessa lei.
O último momento do encontro contou com a discussão em grupo sobre temas relacionados às eleições; aos diálogos entre os governantes e outros representantes com essa comunidade indígena; às políticas públicas desenvolvidas no território; e a contribuição do debate do encontro para a manutenção dos direitos coletivos no território. De acordo com o povo Memortumré-Canela, as leis são, atualmente, o seu arco, sua flecha e a sua borduna que têm para se defender.
As atividades do encontro foram finalizadas com rituais dos povos. Segundo Claudilucia Cuxwa Canela, a capacitação forneceu mais elementos para compreender o cenário político brasileiro. “Eu não conhecia muito sobre política, mas, através do Cimi, pude aprender mais e quero continuar aprendendo”, ressalta.
“Eu não conhecia muito sobre política, mas, através do Cimi, pude aprender mais e quero continuar aprendendo”
Madalena Borges faz um balanço das ações do Encontro ressaltando que “o I Encontro de Jovens Memortumré-Canela superou as nossas expectativas, pois os jovens demonstraram um grande interesse de conhecer sobre a política, de fortalecer a política Memortmuré e saber mais sobre a política dos não-indígenas e das ameaças em nível nacional, como a aprovação em caráter de urgência do PL 490 e do julgamento de repercussão geral, que envolve a política indigenista”, explicou, acrescentando que os encontros são fomentados pelo Cimi para qualificar e fortalecer o debate junto à juventude indígena sobre temas que perpassam a sua vida.