07/12/2022

Reunião com Sesai é marcada por protestos de delegações indígenas

A reunião, agendada há mais de uma semana, só ocorreu após mobilização dos indígenas que não aceitaram entrar em grupo reduzido

Mobilização das delegações indígenas na porta da Sesai

Por Maiara Dourado, da Assessoria de Comunicação do Cimi

Foi só após protestos, cantos, palavras de ordem e muita pressão que indígenas de Goiás, Tocantins, Acre e Santa Catarina conseguiram entrar no prédio da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). As quatro delegações indígenas estão em Brasília, para cumprimento de agenda com diversas instituições. Dentre elas, a Sesai, com a qual tinham, há mais de uma semana, reunião agendada, e que foi realizada no dia de ontem (06).

O motivo dos protestos se deu em razão da tentativa, por parte da instituição, de limitar o número de participantes na reunião. A Sesai “é um prédio em benefício dos indígenas”, protestavam. “Como que diz que a casa é nossa e não tem espaço”. A situação só se resolveu após manifestação do grupo, que não aceitou entrar em número reduzido, tampouco serem recebidos em espaço improvisado, “do lado de fora, que nem cachorro”, como a eles fora proposto.

“Como que diz que a casa é nossa e não tem espaço”

As delegações formavam um grupo de mais de 80 pessoas, compostas por lideranças  de 21 povos: Jaminawa, Apurinã, Kanamari, Nawa, Nukini, Manchineri, Kuntanawa, Sharanawa, Shanenawa, Apolima Arara, Huni Kuin, Jamamadi, Apinajé, Karaja, Krahô, Xerente, Krahô Kanela, Kanela do Tocantins, Takaywrá, Tapuia e Xokleng. A diversidade de povos presentes para participar da reunião denota a complexidade das questões que envolvem a saúde indígena, de modo que a restrição ao número de participantes parecia, de algum modo, soar como uma forma de restringir o atendimento à saúde de suas comunidades. “Essa é só uma demonstração da forma como os povos indígenas são tratados”, bradavam.

A manifestação garantiu aos povos indígenas acesso ao auditório, onde, finalmente, puderam se reunir com a equipe da instituição, bem como com Reginaldo Ramos, secretário da Sesai.  “A Sesai é que nem feijão. Só vai se for na pressão”, definiu assim, Wilson –  liderança Nukini do município de Mâncio Lino, no Acre – a relação com a instituição. “Mas o índio tem gás. Nós vamos botar pressão”, atestou a liderança.

“A Sesai é que nem feijão. Só vai se for na pressão”

Indígenas foram conduzidos ao auditório da Sesai, após manifestação

Mesmo com os protestos, o secretário não se constrangeu em colocar o limite de tempo de uma hora para escutar as demandas dos povos das delegações, dos quais dispôs menos de 30 minutos para responder e explicar a desassistência à saúde a esses povos. As delegações se organizaram em representantes regionais para expor os casos de emergência que acometem suas comunidades, uma lista longa que inclui falta de medicamentos, de saneamento básico, de combustível para transporte de pacientes para cidades vizinhas e agentes de saúde para amplo atendimento das populações.

As soluções apresentadas pelo secretário, no entanto, são incompatíveis ao regime de urgência na qual se encontra a situação de saúde desses povos. O programa proposto pela Sesai, por exemplo, que visa aumentar, no prazo de 20 anos, o número de comunidades indígenas com acesso a água potável de 45% para 95%, não dá conta da gravidade na qual se encontra a saúde dessas populações.

Mesmo com os protestos, o secretário não se constrangeu em colocar o limite de tempo para escutar as demandas dos povos das delegações

“Nós pegamos água nas cabeceiras [dos rios] para levar de balde para uma senhora que não tem água para banhar”, relata Elza Nãmnãdi Xerente, cacica e conselheira de saúde local. “Nós, povos indígenas tem muito amor com nossos anciãos, com as nossas anciãs. Nós trazemos para você [secretário] um problema para resolver para nós”. Mas “nós não vamos esperar muitos dias. Eu quero [saber] hoje como vai ficar.  Por que a nossa vida, será que vai esperar? ”, termina enfática.

Devida a pressa e o tempo escasso dedicado aos indígenas pelo secretário, a reunião foi finalizada sem grandes encaminhamentos e sem a deliberação quanto a prazos para se resolver as questões de saúde apresentadas pelos indígenas, que queriam um documento “com tudo que nós falamos aqui, protocolado com vocês, com assinatura entregue paras lideranças” exigiu Wilson. O documento, contudo, não foi entregue.

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