Publicada portaria que institui GT para demarcação de território do povo Tremembé do Engenho, no Maranhão
No dia 15 de agosto, a presidente substituta da Fundação Nacional do Índio (Funai), Elisabete Ribeiro de Alcântara Lopes, instituiu Grupo de Trabalho (GT) para as ações referentes à demarcação
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O despejo dos indígenas Tremembé do Engenho, no Maranhão, foi um dos que contribuiu para o aumento de famílias despejadas no ano de 2018. Foto: Ana Mendes
Após mais de três anos de luta, o povo Tremembé do Engenho, do município de São José de Ribamar, no Maranhão, vê o sonho de ter o seu território delimitado e homologado cada vez mais próximo de ser concretizado. No dia 15 de agosto, a presidente substituta da Fundação Nacional do Índio (Funai), Elisabete Ribeiro de Alcântara Lopes, instituiu o Grupo de Trabalho (GT) para as ações referentes à demarcação do território dessa comunidade indígena.
De acordo com o Decreto nº. 1.775, de 8 de janeiro de 1996, o GT, que visa realizar os estudos antropológicos, históricos, fundiários, cartográficos e ambientais – elementos que fundamentam a identificação e a delimitação da área indígena –, é a primeira fase do procedimento demarcatório.
Após a fase de estudo, seguem as etapas de delimitação, declaração, homologação e, por fim, a regularização da Terra Indígena demarcada. “Essa é uma vitória do povo Tremembé depois de muita luta, muita violência sofrida e de questionamento de sua identidade”, evidencia Lucimar Carvalho, da Assessoria Jurídica (Asjur) do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – Regional Maranhão.
“Essa é uma vitória do povo Tremembé depois de muita luta, muita violência sofrida”
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Indígena do povo Tremembé do Engenho tenta impedir a passagem das tropas, que destruíram plantações com as próprias mãos. Foto: Ana Mendes
A Portaria, publicada na quinta-feira, 18 de agosto, considerou a decisão do juiz federal Lino Osvaldo Serra Sousa Segundo, da 6ª Vara Federal Cível, da Seção Judiciária do Maranhão (SJMA), deferida em 17 de setembro de 2021, que garante a identificação, a delimitação e a demarcação do território reclamado pela comunidade indígena Tremembé do Engenho.
A primeira decisão referente à demarcação do território do povo Tremembé de Engenho foi outorgada em março de 2020. No entanto, a Funai não cumpriu com o disposto pela Justiça à época. “A Funai vinha protelando essa decisão com vários argumentos, inclusive com o processo de repercussão geral no STF [Supremo Tribunal Federal]”, destaca Lucimar Carvalho.
A morosidade no processo e a omissão da Funai gerou muito sofrimento ao povo Tremembé do Engenho. Durante todos esses anos, desmatamentos, loteamentos ilegais e as constantes invasões ameaçam a vida dessa comunidade. Em 2018, uma truculenta reintegração de posse, despejou o povo de sua terra tradicional, além de destruir as suas plantações com tratores de posseiros que diziam ser donos do território. “Foram nove reintegrações de posses feitas a pedido de um empresário da região”, acrescenta Lucimar Carvalho.
“Foram nove reintegrações de posses feitas a pedido de um empresário da região”
Lucimar Carvalho ressalta, ainda, o cotidiano de medo vivenciado pela comunidade indígena Tremembé perante a não demarcação do território. “Com o não cumprimento da decisão, foram, cada vez mais, acirradas as situações de violência e ameaças sofridas pelo povo Tremembé do Engenho”.
A sentença favorável é resposta à Ação Civil Pública impetrada pelo Ministério Público Federal (MPF) em julho de 2021, que solicitava a demarcação do território indígena reclamado; a proteção territorial, por conta dos atos de violência e ameaça de não indígenas; e denunciava a ausência de uma Coordenação Técnica Local ou Núcleo de Apoio Técnico por parte da Funai, para orientar o povo Tremembé do Engenho.
“Passados mais de um ano desde a decisão liminar, nenhum avanço consistente foi verificado por parte da Funai, razão a justificar o incremento das medidas executórias pelo Juízo, com vistas a zelar pela autoridade de suas decisões”, diz trecho da manifestação do MPF em relação ao caso, de julho do ano passado.
Sem cumprimento da primeira decisão, de março de 2020, o Cimi – Regional Maranhão continuou denunciando a situação do povo Tremembé de Engenho e solicitando urgência nos trâmites de demarcação. “O Cimi vem apresentando as situações de violência e invasões contra esse povo e o seu território, mas a Funai seguiu com várias situações para se omitir do cumprimento da decisão”, aponta Lucimar Carvalho.
“A Funai seguiu com várias situações para se omitir do cumprimento da decisão”
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Servidores da Funai estenderam faixa durante audiência pública na Câmara dos Deputados. Foto: Tiago Miotto/Cimi
São três anos de reivindicação do território, a Ação Civil Pública do MPF foi ajuizada em 2019, após denúncia da comunidade Tremembé de Engenho e de instituições de proteção aos povos indígenas. “Desde 2019, o povo fica refém dessa decisão judicial, porque há um descumprimento do procedimento de demarcação por parte da Funai”, acrescenta Lucimar Carvalho. Com o início dos trabalhos, o povo Tremembé do Engenho está mais próximo de realizar o sonho de viver em sua terra ancestral e, assim, poder viver plenamente a sua ancestralidade, cultura e manifestar a sua identidade.