24/06/2022

Indígenas Kaiowá e Guarani retomam parte de seu território ancestral e sofrem ataques pesados em Naviraí (MS)

Segundo a comunidade, mulheres e crianças seguem desaparecidas após o ataque

Guarani e Kaiowá manifestam-se durante visita à TI Guyraroka. Foto: CIDH/divulgação

Guarani e Kaiowá manifestam-se durante visita de comitiva da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) à TI Guyraroka. Foto: CIDH/divulgação

Por Cimi Regional Mato Grosso do Sul

Cerca de 30 indígenas Kaiowá e Guarani retomaram, na noite desta quinta-feira (23), parte de seu território ancestral denominado Kurupi/São Lucas, localizado dentro do macro território Dourados-Amambai Pegua II, em Naviraí (MS). Após a retomada, teve início um pesado ataque armado, que começou ainda na madrugada de quinta-feira e se estendeu até o início da manhã desta sexta-feira (24). Lideranças da comunidade denunciam que três pessoas seguem desaparecidas após o ataque, sendo elas mulheres e crianças.

A comunidade, confinada à beira de uma rodovia, aguarda há décadas a conclusão dos estudos que já identificaram a área como de posse tradicional dos Guarani e Kaiowá. Na noite de quinta-feira, haviam avançado preliminarmente apenas até uma área de pastagem, vizinha à faixa de mata que já ocupavam, e decidiram ocupar a sede de uma fazenda que se encontra dentro de seu território.

Os indígenas identificaram entre seus agressores fazendeiros locais e seguranças que, segundo eles, podem se tratar de segurança privada uniformizada ou até mesmo indivíduos ligados à força de segurança pública. Muitos disparos foram efetuados, forçando os indígenas a deixarem a sede da fazenda e retornar para a beira da rodovia, no acampamento Kurupi.

A comunidade aguarda há décadas a conclusão dos estudos que já identificaram a área como de posse tradicional dos Guarani e Kaiowá.

A retomada, segundo os indígenas, se justifica pelas diversas ameaças que voltaram a sofrer dos fazendeiros na região e, ao mesmo tempo, por medo das demarcações sofrerem retrocessos no atual cenário político em que a Funai está inserida e com a retirada de pauta do julgamento do Recurso Extraordinário. Ainda segundo eles, a ocupação da sede foi pacífica, e o caseiro que lá se encontrava foi imediatamente liberado.

Pela vulnerabilidade do local onde os indígenas se encontram, que permite o acesso tanto pela rodovia quanto pela mata próxima à fazenda, a comunidade de Kurupi teme por ataques ao longo dos próximos dias. Vale ressaltar que existe contra este território um longo histórico de violência e violações, como queima deliberada de barracas e até mesmo casos de tortura.

A comunidade de Kurupi pede socorro e solicita das autoridades, em especial do Ministério Público Federal, que possam ser deslocados até o local forças de segurança, para garantir a integridade das famílias indígenas e ajudar na localização dos desaparecidos.

Ao longo do dia, a equipe do Cimi Regional Mato Grosso do Sul estará buscando mais informações sobre o caso.

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