01/03/2022

Aty Guasu e Movimentos Sociais repudiam o despejo ilegal das famílias indígenas na retomada do tekoha Laranjeira Nhanderu, no MS

A ordem de despejo foi executada pela Polícia Militar no sábado, 26, deixando indígenas feriados; os Guarani e Kaiowá haviam retomado uma área do tekoha Laranjeira Nhanderu naquele dia

Indígenas ficaram feridos por disparos de balas de borracha, e idosos também passaram mal em decorrência do gás lacrimogênio. Fotos: comunidade Laranjeira Nhanderu

Indígenas ficaram feridos por disparos de balas de borracha, e idosos também passaram mal em decorrência do gás lacrimogênio. Fotos: comunidade Laranjeira Nhanderu

Por Assessoria de Comunicação do Cimi

Em nota de repúdio conjunta, a Aty Guasu – a Grande assembleia Guarani e Kaiowá, e mais de 140 organizações e movimentos sociais, indígenas e indigenistas se pronunciaram nesta terça-feira, 1º de março, denunciando o despejo ilegal das famílias indígenas Guarani e Kaiowá na retomado de uma parte de seu território ancestral de Laranjeira Nhanderu, em Rio Brilhante, no Mato Grosso do Sul. Denunciam ainda, uso da força desproporcional empenhada pela tropa de choque da Polícia Militar, que se deslocou sem mandado da capital Campo Grande. A ação deixou pelo menos três indígenas feridos.

Conforme o documento, os indígenas “ocuparam na pratica além de uma pequena porção territorial a sede da fazenda Inho – que está sobretudo localizada dentro do Território Indígena em reivindicação”. O fazendeiro em questão responde judicialmente por despejos aéreos de agrotóxico contra a aldeia e há tempo impede que os Guarani e Kaiowá plantar suas sementes e ramas, mesmo em períodos de fome.

“Denunciamos o despejo ilegal das famílias indígenas Guarani e Kaiowá na retomado de uma parte de seu território ancestral de Laranjeira Nhanderu, em Rio Brilhante, no Mato Grosso do Sul”

Crianças e idosos integram comunidade que pode ser despejada no Mato Grosso do Sul. Foto: tekoha Laranjeira Nhanderu

Crianças e idosos integram comunidade que pode ser despejada no Mato Grosso do Sul. Foto: tekoha Laranjeira Nhanderu

“A retomada foi uma reação à iniciativa do próprio fazendeiro junto a políticos e agentes de sindicatos patronais locais de criar um assentamento rural dentro da terra indígena – ação ilegal tem o objetivo de prejudicar o processo demarcatório”, consta a Nota. A retomada do território tradicional Guarani e Kaiowá e as razões pelos quais os indígenas optam pela ação, foram amplamente divulgadas.

Os indígenas vêm denunciando há meses a utilização da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (AGRAER) e do Crédito Fundiário, por parte das forças do agronegócio, com o desígnio de usar pessoas em situação de vulnerabilidade como motivação para assediar a Terra Indígena, em ato intencional e premeditado. A ação ilegal e violenta da tropa de choque da Polícia Militar tem sido denunciada pelos indígenas e organizações parceiras da causa indígena.

“Os indígenas vêm denunciando há meses a utilização da AGRAER e do Crédito Fundiário, por parte das forças do agronegócio, com o desígnio de usar pessoas em situação de vulnerabilidade para assediar a TI”

Em 2011, quando retornaram ao tekoha Laranjeira Nhanderu, Guarani Kaiowá lutavam contra o risco de novo despejo, suspenso pela Justiça no ano seguinte. Foto: arquivo Cimi

Em 2011, quando retornaram ao tekoha Laranjeira Nhanderu, Guarani Kaiowá lutavam contra o risco de novo despejo, suspenso pela Justiça no ano seguinte. Foto: arquivo Cimi

Além de denunciar a pratica já recorrente de uso de forca pública para fins privados, a “Aty Guasu e o conjunto de movimentos sociais e organizações que assinam esta carta se une à voz da Comunidade de Laranjeira Nhanderu, que EXIGE a imediata responsabilização do Governo do Estado do MS [Mato Grosso do Sul] pela ação e que o Ministério Público Federal tome todas as atitudes cabíveis em relação ao comando da PM [Polícia Militar], do BOPE e de todos que agiram ilegalmente contra esta comunidade”, destaca o documento.

“Aty Guasu e o conjunto de movimentos sociais e organizações exigem a imediata responsabilização do Governo do estado pela ação e que o MPF tome todas as atitudes cabíveis em relação ao comando da PM”

Indígenas Guarani Kaiowá de Laranjeira Nhanderu, município de Rio Brilhante. Crédito da foto: Thomas Bauer

 Confira a carta na integra, em anexo, ou baixe o PDF aqui:

NOTA DA GRANDE ASSEMBLEIA DA ATY GUASU E DOS MOVIMENTOS SOCIAIS EM REPUDIO AO DESPEJO ILEGAL, PROMOVIDO PELO ESTADO, ATRAVES DA POLICIA MILITAR, CONTRA FAMILIAS KAIOWA E GUARANI DE LARANJEIRA NHANDERU NO MUNICIPIO DE RIO BRILHANTE – MS

 

No Mato Grosso do Sul opera uma Força Pública de Segurança ou uma Milícia Privada com orçamento e gestão Pública?

No último sábado, dia 26, cerca de 20 indígenas Kaiowá e Guarani retomaram uma parte de seu território ancestral de Laranjeira Nhanderu, em Rio Brilhante (MS). Ocuparam na pratica além de uma pequena porção territorial a sede da fazenda Inho – que está sobretudo localizada dentro do Território Indígena em reivindicação. O fazendeiro é um antigo conhecido dos Indígenas, responde judicialmente por despejos aéreos de agrotóxico contra a aldeia e há muito impede que os Kaiowá possam plantar suas sementes e ramas mesmo em períodos de fome.

Os indígenas deixaram claro que a retomada foi uma reação à iniciativa do próprio fazendeiro junto a políticos e agentes de sindicatos patronais locais de criar um assentamento rural dentro da terra indígena – ação ilegal que tem o objetivo de prejudicar o processo demarcatório.

Há meses os Kaiowá vêm denunciando a utilização da AGRAER, e do Crédito Fundiário, por parte das forças do agronegócio, no intuito de utilizar pessoas em situação de vulnerabilidade como motivação para assediar a Terra Indígena, em ato intencional e premeditado.

Após diversas ameaças proferidas pelo fazendeiro, políticos de Rio Brilhante e demais “leões de chácara“ os indígenas sofreram uma ação de despejo ilegal por parte da tropa de choque da Policia Militar, que se deslocou sem mandado da capital Campo Grande, a 160 km do local.

A exemplo do que aconteceu recentemente contra indígenas Kinikinau, a ação policial não se deu em cumprimento de uma ordem de reintegração de posse. Foi, mais uma vez, o Estado tomando partido a favor de um particular, no caso o proprietário rural, e em desfavor de uma comunidade indígena que possuía pauta legitima, estava denunciando abusos contra seu povo e reivindicando a demarcação de seu território, um direito concreto e previsto na constituição.

A força de Segurança Pública do Mato Grosso do Sul, paga com recursos públicos, agiu em favor de interesses privados e sem amparo da Constituição Federal de 1988, a qual definiu que as questões indígenas são de responsabilidade da União federal.

A ação ilegal e arbitrária, ainda teve tons piores. Servidores da FUNAI foram constrangidos e humilhados pelo destacamento da PM que os impediu de dialogar com os indígenas buscando uma resolução pacifica e dentro da lei para a situação. Os servidores do órgão foram hostilizados, receberam ordem para deitar no chão e mesmo alertando o tempo todo sobre a ilegalidade do processo, tiveram de assistir ao despejo impotentes e inertes.

Como se pode notar, as forças de segurança pública agiram no arrepio da Lei e/ou contra a Lei Maior. Como pode? Quem deu a ordem, sobre qual justificativa?

Como é possível ainda a utilização do Estado em estratégias que visem colocar camponeses contra indígenas e que pretendam prejudicar processos de demarcação de Terras Indígenas, como no caso citado nesta carta?

A Grande Assembleia da Aty Guasu e o conjunto de movimentos sociais e organizações que assinam esta carta vem denunciar a pratica já recorrente de uso de forca pública para fins privados e se une a voz da Comunidade de Laranjeira Nhanderu que EXIGE a imediata responsabilização do Governo do Estado do MS pela ação e que o Ministério Público Federal tome todas as atitudes cabíveis em relação ao comando da PM, do BOPE e de todos que agiram ilegalmente contra esta comunidade.

 

ASSINAM:

  1. Aty Guasu – Grande Assembleia Guarani e Kaiowa
  2. Abong- Associação Brasileira de ONGs
  3. Acadêmicos do Teko Arandu UFGD
  4. ADUF – DOURADOS
  5. ADUFMS – Seção Sindical ANDES – Associação dos Docentes da UFMS
  6. ADUFMS – Seção Sindical do Andes SN
  7. Amigos da Terra Brasil
  8. Apoms
  9. Articulação dos povos Indígena do Brasil (APIB)
  10. Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul – ARPINSUL
  11. Articulação Nacional de Marchas da Maconha
  12. Articulação para o Monitoramento dos Direitos Humanos no Brasil
  13. ASSINDAR – (ASSOCIAÇÃO INDÍGENA DE ARAÇATUBA E REGIÃO)
  14. OCCA= ORGANIZAÇÃO DE CULTURA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA
  15. Associação Brasileira de Agroecologia – ABA Agroecologia
  16. Associação Brasileira de Reforma Agrária
  17. Associação Cultural Esportiva Social Amigos
  18. Associação Cultural José Martí do RS
  19. Associação Cultural Sarau de Segunda
  20. Associação Cultural Vila Maria Zélia
  21. Associação do Carimbó do Estado do Pará
  22. Associação dos Docentes da Universidade Federal de Rondônia – ADUNIR- Seção Sindical do ANDES-SN
  23. Associação Multiétnica Wyka Kwara
  24. Associação dos Advogados e Advogadas pela Democracia, Justiça e Cidadania (ADJC)
  25. Bibliopong
  26. Black Lab RJ
  27. Caritas RS
  28. CEBI-MS
  29. CEBs
  30. CEMPREMATA
  31. Centro de Cultura Luiz Freire
  32. Centro de Direitos Humanos Dom Máximo Biennès
  33. Centro de direitos humanos Dom Pedro Casaldaliga
  34. CENTRO ECUMÊNICO DE CULTURA NEGRA – CECUNE
  35. CIMI/MA
  36. CIMI/MS
  37. CIMI/RO
  38. CIMI/Sul
  39. Círculo Operário Leopoldense
  40. CNLB Regional Oeste I
  41. CNLB Regional Sul 1
  42. Coletivo Alicerce
  43. Coletivo CLanDesTino
  44. Coletivo Cultural de Tanquinho
  45. Coletivo de Direitos Hunanos de Sarandi PR
  46. Coletivo Taquara
  47. Coletivo Terra Femini
  48. Coletivo Terra Vermelha
  49. Comissão de Promoção da Dignidade Humana (CPDH) – Arquidiocese de Vitória – ES
  50. Comissão Diocesana Justiça e Paz de Barreiras – Bahia
  51. Comissão Guaraní Yvyrupa
  52. Comissão Justiça e Paz Regional Norte 3
  53. Comissão Pastoral da Terra – CPT/MS
  54. Comissão Regional de Justiça e Paz de Mato Grosso do Sul – CRJPMS
  55. Comitê Estadual Contra os Agrotóxicos – MS
  56. Comunidade Quilombo do Mata Cavalo
  57. Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal – Condsef
  58. Congregação das Irmãs da Imaculada Conceição – CIIC
  59. Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora Aparecida
  60. CONSELHO DO POVO TERENA
  61. Conselho Regional de Psicologia – 14a Região / Mato Grosso do Sul
  62. Cordão de Bruta Flor
  63. CPMA
  64. CUT MS
  65. Democracy for BRASIL UK
  66. Deputado Estadual Pedro Kemp
  67. Diversas Feministas/MS
  68. Do Mar Produções
  69. Esquadrão da Vida grupo de teatro
  70. FAIND/UFGD
  71. FAOR Fórum da Amazônia Oriental
  72. FLD-COMIN-CAPA (Fundação Luterana de Diaconia – Conselho de Missão entre Povos Indígenas – Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia)
  73. FONSANPOTMA-SP
  74. Fórum de Direitos Humanos e da Terra, FDHT
  75. Fórum Memória Verdade e Justiça do ES
  76. FORUM NACIONAL RENOVA ANDES-SN
  77. FÓRUM PARAIBANO DE EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREOTO ANIMAL
  78. Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro MS
  79. FPI/Instituto ECOS
  80. Frente dos Coletivos de Familiares do Cárcere do RS – FCCRS
  81. Frente em Defesa da Democracia e Soberania Nacional de Assis-SP FDSN
  82. Frente Quilombola RS.
  83. GPEA-UFMT
  84. Grupo de estudos culturais (GEC)/UFPB
  85. Grupo de teatro de pernas pro ar
  86. Grupo Lacqua-UFRJ
  87. Grupo Tarahumaras
  88. IAC Instituto de Ação Comunitária
  89. Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – Ibase
  90. Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico
  91. Instituto Madeira Vivo IMV
  92. Instituto Misericordes
  93. Instituto sócio cultural Dandara / CONAQ
  94. ISCI Instituto Social Capital dos Ipês
  95. JUPIC (Justiça, Paz e Integridade da Criação) BRC Missionários do Verbo Divino
  96. Juristas pela Democracia MS
  97. Lacarta Circo Teatro
  98. Conselho Guató
  99. LBL Liga Brasileira de Lesbicas
  100. Mandato Camila Jara
  101. Marcha da maconha Joinville
  102. Móveis Nacional da População de Rua
  103. Movimento de Mulheres Camponesas – MMC
  104. Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
  105. Movimento LUTA PELA VIDA Contra o Marco Temporal, Direito Ancestral a Mãe Terra
  106. Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH Brasil
  107. Movimento Xingu Vivo para Sempre
  108. Mulheres EIG – evangélicas pela igualdade de gênero
  109. Nuances – grupo pela livre expressão sexual
  110. Núcleo de Agroecologia Apetê-Caapuã – UFSCar/ Sorocaba/SP
  111. Núcleo de Estudos Amazônicos/UnB
  112. Observare
  113. Observatório da Temática indígena na AL
  114. Observatório Nacional de Justiça. Socioambiental Luciano Mendes de Almeida OLMA
  115. ODH Projeto Legal
  116. ONG UCAMEPA
  117. Paroquia Anglicana da Inclusão
  118. Partido dos Trabalhadores-Campo Grande
  119. Pastoral Carcerária Nacional para Questão da Mulher Encarcerada
  120. Pastoral Indigenista da Arquidiocese de Porto Velho Rondônia
  121. Pastoral Mobilidade Humana e Carcerária
  122. Pela Defesa da Democracia no Brasil- Florida
  123. Projeto Mulheres Solidárias
  124. PSOL, RUA juventude anticapitalista
  125. PSOL/Bahia
  126. Quilombo flores
  127. Rede Brasileira de Conselhos -RBdC
  128. Rede dos Povos do Espinhaço
  129. Revolução Solidária /NFF
  130. Serviço de Paz – SERPAZ
  131. Sintsep/MS
  132. Sspantal
  133. Teatro Imaginário Maracangalha
  134. Teko há Laranjeiras Nhanderu
  135. Tv Imbaú
  136. UBM Juiz de Fora MG
  137. União Brasileira de Mulheres RS
  138. União da Juventude Comunista em Rondônia
  139. Unidos Pra Lutar – Tendência Sindical
  140. Wika Kwara
  141. ŸTKA
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