13/10/2021

15 anos da perda de Dom Franco e de sua apaixonada atuação missionária

“A verdadeira morte acontece quando colocamos a nossa esperança e o sentido de nossa vida na posse, no poder”

Dom Franco no encontro de Teologia Índia, em Manaus, abril de 2006 – Foto: Fernando Lopez

Por Assessoria de Comunicação do Cimi – MATÉRIA PUBLICADA ORIGINALMENTE NA EDIÇÃO 438 DO JORNAL PORANTIM

Na tarde de domingo do dia 17 de setembro de 2006, a triste notícia da perda de Dom Gianfranco Masserdotti, aos 65 anos de vida, 40 anos de jornada sacerdotal e sete anos como presidente do Cimi. “Na perspectiva de seu lema episcopal: “Para que tenham vida”, assumiu a causa indígena com a suavidade de seu jeito amigo e com a leveza do peregrino. Sabíamos que, na balsa da vida deste jovial e alegre missionário, caberia ainda a causa indígena, uma causa pesada numa sociedade que considera os povos indígenas como um estorvo para o progresso”, disse Paulo Suess, Assessor teológico do Cimi, em artigo publicado em 2016.

Em meio às lembranças da travessia missionária de Dom Franco junto aos povos indígenas, seus sonhos de resistência são mais uma vez honrados, tanto nesta data que nos remete aos 15 anos de vazio e saudade, quanto na continuidade de sua jornada. Seus ensinamentos são como voz que não se cala e seu exemplo guiará para sempre a missão de semear palavras e ações de testemunho, no diálogo como metodologia de luta, no respeito como princípio de vida e no sorriso como estratégia de convencimento.

 

Vida missionária*

Em abril de 2000, durante a Marcha Indígena, em Porto Seguro, a Polícia Militar baiana atacou violentamente milhares de indígenas, negros e camponeses enquanto as elites celebravam 500 anos do início da invasão.
Missionários e missionárias do Cimi foram cercados por policiais armados e encurralados na estrada, ameaçados por metralhadoras, bombas, cassetetes. Ao ver o bispo no meio do grupo, o comandante da tropa o convidou para sair dali. Dom Franco recusou o convite e disse ao militar que não iria abandonar seu povo naquela hora, pois era parte dele. Este foi, segundo ele mesmo, seu batismo na causa indígena.

Quando foi convidado para acompanhar o Cimi, ele disse que, nesta nova missão, era um eterno aprendiz junto aos povos indígenas, pois o respeito aos povos e a suas diversas culturas, eram um desafio para a Igreja e para toda a sociedade quando o senso comum quer unificar e anular o diferente.

*Relato de Sara Sanchez e Egon Heck para o Porantim de outubro de 2006, que trouxe uma homenagem a Dom Franco.

 

Dom Franco nasceu em Brescia, Itália. Foi ordenado sacerdote em 1966, em Padova, Itália. Chegou ao Brasil em 1971, em plena época da ditadura militar. Aprendeu os caminhos missionários junto ao povo do Maranhão, como pároco em Pastos Bons. Em 1995, foi nomeado Bispo e, no ano seguinte, foi ordenado em Balsas (MA). Ele também é autor do livro “A missão a serviço do Reino”, publicado pela Paulus, em 1996.

Dom Franco, presente

No último texto que escreveu para o Cimi, um texto em memória de Dom Luciano, disse: “A verdadeira morte acontece quando colocamos a nossa esperança e o sentido de nossa vida na posse, no poder, no prazer desregrado, quando fechamos o nosso coração ao próximo e nos deixamos levar pelo egoísmo. Por isso Dom Luciano não morreu”.

Também por isso, Dom Franco não morreu!

Dom Franco também foi membro do Conselho Geral dos Missionários Combonianos (1979-1985), viveu o bom combate e bebeu na fonte o lema de Comboni: “Morro, mas minha obra não morrerá”. E ela continuará, como legado da sua experiência.

“Ele morreu como um índio, atropelado; dado comum e revoltante do Relatório de Violência contra os Povos Indígenas. Mas, também como um índio, ele andava de bicicleta, tal como os Kaiowá/Guarani que foram retomar seu tekoha Guaiviri: 40 pessoas de bicicleta em plena madrugada. Morte e vida entrelaçadas na esperança”, disse a antropóloga e assessora antropológica do Cimi, Lúcia Rangel, para o Porantim de outubro de 2006.

Em dezembro de 2012, a Diocese de Balsas/MA lançou um livro que conta a história de Dom Franco: “A Flauta em lugar do Cajado”, de autoria dos escritores Giovanni Munari e Francesco Pierli. O livro, escrito em Italiano e traduzido para português, reflete o legado deixado por Don Franco e pode ser encontrado na Livraria diocesana, Diocese de Balsas e Rádio Boa Notícia.

No dia 12 de setembro desse ano, mais de 70 ciclistas em Balsas/MA prestaram uma homenagem a Dom Franco

Foto: Diocese de Balsas

No dia 12 de setembro desse ano, mais de 70 ciclistas em Balsas/MA prestaram uma homenagem a Dom Franco, que era apaixonado pelo esporte e morreu vítima de um acidente de trânsito na BR-230, quando pedalava sua bicicleta. O evento foi realizado pela Secretaria Municipal de Juventude, Esportes e Lazer também em comemoração ao dia municipal do ciclista em Balsas.

Ainda em setembro, a Diocese de Balsas e a Congregação dos Missionários Combonianos realizou uma grade de programação em homenagem a Dom Franco. No dia 18, um passeio ciclístico fez parte do “Tríduo Vocacional em memória aos 15 anos da Páscoa definitiva de Dom Franco”.

“Dom Franco teve importante contribuição na dimensão missionária. Deixa não apenas um testemunho e um desafio para nós que lutamos ao lado dos povos indígenas na luta pela vida e seus direitos, mas para todos os brasileiros, que lutam por um Brasil plural, justo e solidário”, escreve Egon Heck ao lembrar o 10º ano da morte de D. Franco.

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