02/01/2021

“Seguiremos lutando pela terra”, afirmam Xokleng da Retomada de São Francisco de Paula

Após determinação de reintegração de posse, povo Xokleng deixou a Floresta Nacional de São Francisco de Paula (RS). Retomada continua, agora com acampamento do lado de fora da Flona

Retomada Xokleng na Flona São Francisco de Paula. Foto: Alass Derivas/Amigos da Terra Brasil

Retomada Xokleng na Flona São Francisco de Paula. Foto: Alass Derivas/Amigos da Terra Brasil

Por Assessoria de Comunicação do Cimi, com informações do Cimi Regional Sul, portal Desacato e Amigos da Terra Brasil

Sem tempo hábil para reverter as decisões judiciais que determinaram sua reintegração de posse e buscando evitar a violência, a comunidade Xokleng retirou-se nesta sexta-feira (1º) da Floresta Nacional (Flona) de São Francisco de Paula (RS), reivindicada como parte de seu território tradicional e retomada no dia 12 de dezembro.

Neste sábado (2), a Polícia Federal chegou ao local para executar a ordem de despejo. Os indígenas, entretanto, já se encontravam do lado de fora da Flona, onde afirmam que permanecerão acampados como ato de resistência. A retomada, portanto, continua, e os indígenas buscarão novos recursos no Supremo Tribunal Federal (STF). O ICMBio, autor do pedido de reintegração de posse, é órgão responsável pela gestão da área, e já se movimenta para concedê-la à iniciativa privada.

Saiba mais nas páginas do portal Desacato e Amigos da Terra Brasil. Confira abaixo a nota da comunidade Xokleng:

Nota da comunidade Xokleng, Retomada de São Francisco de Paula

Nós, da retomada Xokleng, de São Francisco de Paula, viemos a público para informar que, diante da decisão da Justiça Federal de Caxias do Sul e referendada provisoriamente pelo Ministro Luís Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal, a qual concede a reintegração  de posse ao ICMBio, contrariando, portanto, o direito originário sobre nossas terras e que foram sobrepostas pela Floresta Nacional, vamos nos retirar voluntariamente de dentro dos limites da Flona e, provisoriamente, ocuparemos algum espaço de terra pública, até que a Funai assuma suas responsabilidades no sentido de nos prestar apoio. Também, com o acompanhamento do Ministério Público Federal, exigimos que a Funai proceda aos estudos circunstanciados de identificação e delimitação de nossa terra. Jamais abriremos mão desse direito!

Nós decidimos retomar a terra, em 12 de dezembro, para atender ao chamado de nossos ancestrais, eles nos guiam, nos dão força e querem que façamos a proteção  desse território,  porque está ameaçado pela política  predatória e devastadora do governo federal, que,  inclusive,  já determinou que a Floresta Nacional seja desestabilizada, vendida, privatizada e, portanto, entregue para a exploração econômica. Eles querem destruir nossa terra, a mesma de onde arrancaram nossas famílias no passado.  Mas nós  não  desaparecemos, estamos aqui vivos, fortes e protegidos por nosso Espírito Maior e nossos ancestrais.

Seguiremos lutando pela terra. A retomada foi uma sinalização aos poderes públicos e aos nossos inimigos de que nossa presença se faz forte e clama por justiça.

Não vão nos amedrontar com ameaças de remoção forçada e muito menos nos intimidar através de medidas judiciais protelatórias ao nosso direito.

Nossa retomada é sopro de vida, sinal de esperança e símbolo de luta e resistência.

Seguiremos unidos aos demais Povos do Brasil  contra as injustiças, pela  demarcação de todas as terras, defendendo-as e combatendo a tese do marco temporal e as demais manobras políticas e jurídicas  criadas  para nos roubar a terra e inviabilizar a Constituição Federal de 1988.

Nem um palmo de terra  a menos e nem uma gota de sangue a mais. Convocamos a todos a unir forças contra as políticas de governo que violam nossos direitos  e com coragem e determinação vamos combater as  ações genocidas do Bolsonaro.

São Francisco de Paula, 02 de Janeiro de 2021.

Povo Xokleng, em luta pela terra e  pela vida

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