“Seguiremos lutando pela terra”, afirmam Xokleng da Retomada de São Francisco de Paula
Após determinação de reintegração de posse, povo Xokleng deixou a Floresta Nacional de São Francisco de Paula (RS). Retomada continua, agora com acampamento do lado de fora da Flona
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Retomada Xokleng na Flona São Francisco de Paula. Foto: Alass Derivas/Amigos da Terra Brasil
Sem tempo hábil para reverter as decisões judiciais que determinaram sua reintegração de posse e buscando evitar a violência, a comunidade Xokleng retirou-se nesta sexta-feira (1º) da Floresta Nacional (Flona) de São Francisco de Paula (RS), reivindicada como parte de seu território tradicional e retomada no dia 12 de dezembro.
Neste sábado (2), a Polícia Federal chegou ao local para executar a ordem de despejo. Os indígenas, entretanto, já se encontravam do lado de fora da Flona, onde afirmam que permanecerão acampados como ato de resistência. A retomada, portanto, continua, e os indígenas buscarão novos recursos no Supremo Tribunal Federal (STF). O ICMBio, autor do pedido de reintegração de posse, é órgão responsável pela gestão da área, e já se movimenta para concedê-la à iniciativa privada.
Saiba mais nas páginas do portal Desacato e Amigos da Terra Brasil. Confira abaixo a nota da comunidade Xokleng:
Nota da comunidade Xokleng, Retomada de São Francisco de Paula
Nós, da retomada Xokleng, de São Francisco de Paula, viemos a público para informar que, diante da decisão da Justiça Federal de Caxias do Sul e referendada provisoriamente pelo Ministro Luís Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal, a qual concede a reintegração de posse ao ICMBio, contrariando, portanto, o direito originário sobre nossas terras e que foram sobrepostas pela Floresta Nacional, vamos nos retirar voluntariamente de dentro dos limites da Flona e, provisoriamente, ocuparemos algum espaço de terra pública, até que a Funai assuma suas responsabilidades no sentido de nos prestar apoio. Também, com o acompanhamento do Ministério Público Federal, exigimos que a Funai proceda aos estudos circunstanciados de identificação e delimitação de nossa terra. Jamais abriremos mão desse direito!
Nós decidimos retomar a terra, em 12 de dezembro, para atender ao chamado de nossos ancestrais, eles nos guiam, nos dão força e querem que façamos a proteção desse território, porque está ameaçado pela política predatória e devastadora do governo federal, que, inclusive, já determinou que a Floresta Nacional seja desestabilizada, vendida, privatizada e, portanto, entregue para a exploração econômica. Eles querem destruir nossa terra, a mesma de onde arrancaram nossas famílias no passado. Mas nós não desaparecemos, estamos aqui vivos, fortes e protegidos por nosso Espírito Maior e nossos ancestrais.
Seguiremos lutando pela terra. A retomada foi uma sinalização aos poderes públicos e aos nossos inimigos de que nossa presença se faz forte e clama por justiça.
Não vão nos amedrontar com ameaças de remoção forçada e muito menos nos intimidar através de medidas judiciais protelatórias ao nosso direito.
Nossa retomada é sopro de vida, sinal de esperança e símbolo de luta e resistência.
Seguiremos unidos aos demais Povos do Brasil contra as injustiças, pela demarcação de todas as terras, defendendo-as e combatendo a tese do marco temporal e as demais manobras políticas e jurídicas criadas para nos roubar a terra e inviabilizar a Constituição Federal de 1988.
Nem um palmo de terra a menos e nem uma gota de sangue a mais. Convocamos a todos a unir forças contra as políticas de governo que violam nossos direitos e com coragem e determinação vamos combater as ações genocidas do Bolsonaro.
São Francisco de Paula, 02 de Janeiro de 2021.
Povo Xokleng, em luta pela terra e pela vida