30/10/2020

Empresas envolvidas em violações de direitos indígenas receberam bilhões de grandes fundos financeiros, mostra estudo

O relatório “Cumplicidade na Destruição III – Como corporações globais contribuem para violações de direitos dos povos indígenas da Amazônia Brasileira” foi publicado por Apib e pela Amazon Watch nesta terça (27)

Garimpo ilegal na Terra Indígena Munduruku, em Jacareacanga (PA), em setembro de 2020. Foto: Marizilda Cruppe/Amazônia Real/Amazon Watch

Garimpo ilegal na Terra Indígena Munduruku, em Jacareacanga (PA), em setembro de 2020. Foto: Marizilda Cruppe/Amazônia Real/Amazon Watch

Por Assessoria de Comunicação do Cimi, com informações de Apib e Amazon Watch

O relatório Cumplicidade na Destruição III – Como corporações globais contribuem para violações de direitos dos povos indígenas da Amazônia Brasileira, publicado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e pela Amazon Watch nesta terça (27), revelou a conexão de grantes fundos financeiros com empresas associadas a conflitos em territórios indígenas e violações de direitos.

Segundo o estudo, que está em sua terceira edição, seis instituições financeiras estadunidenses lideram os aportes a estas empresas e somam, juntas, investimentos de mais de US$ 18 bilhões, entre 2017 e 2020. São elas BlackRock, que sozinha investiu US$ 8,2 bilhões, Citigroup, J.P. Morgan Chase, Vanguard, Bank of America e Dimensional Fund Advisors.

O relatório mapeou conflitos com povos indígenas na Amazônia envolvendo os setores de mineração, agronegócio e energia e sistematizou casos de invasões, desmatamento e violações de direitos. Entre as empresas envolvidas diretamente nos conflitos estão as mineradoras Vale, Anglo American e Belo Sun; as empresas do agronegócio Cargill, JBS e Cosan/Raízen; e as companhias de energia Energisa Mato Grosso, Equatorial Energia Maranhão e Eletronorte, abrangendo os estados do Pará, Maranhão, Mato Grosso, Amazonas e Roraima.

Os casos abordados no estudo incluem situações como a da Terra Indígena (TI) Urubu Branco, do povo Tapirapé, onde a Energisa Mato Grosso foi indiciada pelo Ministério Público Federal (MPF), no ano passado, por fornecer energia elétrica a fazendeiros e posseiros que promovem invasões ao território indígena.

“A empresa negou acesso aos dados pessoais dos invasores, ao mesmo tempo que negou consistentemente eletrificação às comunidades indígenas, alegando que esse território estava sob disputa”, informa o relatório.

Embora muitas dessas corporações tenham feito promessas e comprometimentos públicos com questões ambientais, sociais e, em alguns casos, com direitos indígenas, elas continuam investindo em um modelo de negócio que apoia empresas que colecionam violações de direitos socioambientais

O estudo partiu de pesquisas feitas pelo observatório De Olho nos Ruralistas e pela instituição de pesquisa holandesa Profundo. Outras denúncias apresentadas pelo relatório incluem a compra de gado criado ilegalmente dentro das TIs Uru-Eu-Wau-Wau (RO) e Kayabi (MT) pela JBS, e os processos de mineração das mineradoras Belo Sun, Potássio do Brasil e Vale sobrepostos diretamente territórios indígenas.

Além dos seis grandes fundos que, sozinhos, investiram mais de R$ 18 bilhões na compra de ações e títulos dessas empresas e de outras envolvidas em conflitos com povos indígenas na Amazônia brasileira, o estudo indica que os investimentos vêm de corporações de variados países e inclui grandes bancos e fundos de investimento da França, Japão, Inglaterra, Espanha, China, Canadá, Holanda, Noruega, Espanha, Suíça, Alemanha, Austrália e do próprio Brasil.

“Embora muitas dessas corporações tenham feito promessas e comprometimentos públicos com questões ambientais, sociais e, em alguns casos, com direitos indígenas, elas continuam investindo em um modelo de negócio que apoia empresas que colecionam violações de direitos socioambientais. É importante que essas corporações sejam responsabilizadas, que seus investidores saibam para onde está indo o seu dinheiro, e que o público em geral tome conhecimento disso”, afirma o relatório.

Saiba mais e acesse o estudo na íntegra

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