22/06/2020

Nota de pesar do Cimi Regional Sul pela morte do cacique Lourenço Amantino

O cacique Lourenço Amantino, da TI Sêgu (Xingu), no Rio Grande do Sul, foi o primeiro cacique Kaingang a morrer vítima da covid-19

O cacique Lourenço Amantino, da Terra Indígena Sêgu (Xingu), foi o primeiro cacique Kaingang a falecer por covid-19. Foto: Ivan Cesar Cima/Cimi Regional Sul

O cacique Lourenço Amantino, da Terra Indígena Sêgu (Xingu), foi o primeiro cacique Kaingang a falecer por covid-19. Foto: Ivan Cesar Cima/Cimi Regional Sul

Com profunda tristeza recebemos a notícia do falecimento de Lourenço Amantino, cacique da TI Sêgu (Xingu), em Constantina/RS. Ele estava internado em Passo Fundo desde o dia 13 de junho, depois de ter contraído o novo coronavírus, causador da covid-19.

Seu Lourenço, como o chamávamos, foi o primeiro cacique Kaingang a morrer vítima da covid-19. O Cimi Sul expressa sua solidariedade à família de Seu Lourenço, à comunidade Sêgu (Xingu) e a todo o povo Kaingang.  Perde-se um homem lutador, um guerreiro incansável. Perde-se um homem que teve sua vida dedicada à demarcação da terra. Ele era um esperançoso, sempre procurava acreditar na palavra das pessoas, nas autoridades que lhe prometiam a demarcação da terra. Nutria-se na esperança de que um dia pudesse viver na Mãe Terra.  Existia por ela. Seu Lourenço passou quase toda sua existência, 62 anos de idade, em acampamentos de beira de estrada, em áreas degradadas, sem saneamento básico, sem água potável e habitando moradias improvisadas. O sonho de Seu Lourenço, de um dia poder entrar, cultivar e se alimentar dos bens da terra originária o fez superar a insalubridade sanitária. Ele constituiu família, organizou-se com seus parentes, com seu povo e empreendeu uma luta bonita de vida e resistência.

Não se poderia imaginar, que nessa trajetória, um vírus estrangeiro, trazido ao Brasil por pessoas ricas, chegasse nas comunidades indígenas e passasse a vitimar os Filhos da Terra.

Seu Lourenço, assim como tantos outros homens e mulheres, morreu sem ter tido a possibilidade de retornar ao território de onde foi arrancado pelos colonizadores, aqueles que originaram a elite dominante que contaminou o país com o vírus estrangeiro.

Segue Lourenço, segue para a Casa de Tupé – Deus – e de lá acompanhe e abençoe os que aqui ficaram, pois estes darão continuidade a luta pela Mãe Terra, na qual participou e pela qual dedicou seus 62 anos.

Chapecó, SC, 22 de junho de 2020

Conselho Indigenista Missionário – Cimi Regional Sul

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