22/04/2020

Pernambuco registra seus dois primeiros casos de coronavírus entre indígenas

Um dos infectados, do povo Pankararu, trabalha como enfermeiro no município de Arcoverde; o outro, do povo Atikum, não teve nome divulgado

Povos indígenas estão desassistidos e isso poderá motivar a saída das aldeias em busca de alimentos e remédios. Crédito da foto: Matheus Alves/MNI

Por Maria Fernanda Ribeiro, para o De Olho nos Ruralistas

O coronavírus chegou aos povos indígenas do Pernambuco. Os primeiros dois casos foram confirmados ontem em boletim da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme). Até então só havia um registro no Nordeste, no estado do Ceará. Os testes positivos são de dois homens, um da etnia Pankararu, o outro da etnia Atikum.

Os números diferem do último boletim epidemiológico da Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai), divulgado nesta terça-feira (21), que aponta apenas um caso em Pernambuco. De acordo com o documento, disponibilizado diariamente, o Brasil contabiliza até o momento 34 casos confirmados, a maioria dos registros na região da Amazônia. Manaus é o caso mais crítico, com 17 confirmações. Até agora, em todo o país, foram oficialmente registradas três mortes entre os indígenas e há 25 casos suspeitos sendo investigados.

Um dos infectados em Pernambuco é Fagner Luciano, enfermeiro Pankararu do hospital regional Ruy Barbosa, no município de Arcoverde — a 256 quilômetros do Recife. Ele divulgou um vídeo nas redes sociais em que confirma a testagem e comenta sobre seu estado de saúde. Luciano teve muita febre e dor no corpo nos primeiros dias, mas os sintomas já diminuíram. Ele teceu elogios ao tratamento que tem recebido do hospital: os profissionais foram todos capacitados e os equipamentos de proteção individual, disponibilizados. A unidade hospitalar de Arcoverde montou um hospital de campanha para dar suporte aos casos suspeitos de Covid-19, tornando-se referência na região.

De acordo com a nota da Apoinme, a confirmação da doença em Luciano veio pela Secretaria da Saúde do Estado de Pernambuco. No caso do indígena Atikum, cujo nome não foi divulgado, o resultado foi divulgado pela Secretaria de Saúde de Carnaubeira da Penha, município a 501 quilômetros da capital.

Alexandre Pankararu, da comunicação da Apoinme, informou que todas as aldeias do estado estão fechadas. As três da etnia Atikum estiveram entre as últimas a proibir a entrada de não-indígenas. Segundo ele, há uma dificuldade do Distrito Sanitário de Saúde Indígena Pernambuco (Dsei) em encontrar kits de higiene para comprar e distribuir nas aldeias. O estado abriga treze povos indígenas, distribuídos em quinze territórios.

Confira, na íntegra, a nota da Apoinme, assinada por Alexandre Pankararu:

“Urgente, chegam aos povos indígenas de Pernambuco os primeiros casos de infecções por coronavírus. No dia 19 de abril a Secretaria de Saúde de Pernambuco anunciou o primeiro caso de um indígena Pankararu, ele é servidor da saúde no hospital de Arcoverde -PE, é da aldeia Saco dos Barros, mas no momento se encontra em isolamento na sua casa em Arcoverde. O segundo caso foi informado hoje, dia 20, pela Secretaria de Saúde de Carnaubeira da Penha-PE, que informou que nessa manhã saiu o resultado positivo de um indígena Atikum, da aldeia Serra Umã. Esse indígena já vinha com os sintomas há mais ou menos 10 dias, fez o exame na última quinta feira e hoje saiu o resultado dele. O indígena se encontra no momento sendo monitorado em sua casa na aldeia.

Há exatamente uma semana o povo Atikum fechou três aldeias de seu território, mas infelizmente não impediu que o coronavírus entrasse em suas aldeias. Segue a preocupação, pois muitas das cidades e municípios do sertão pernambucano não existem leitos de unidades intensivas.

Por conta disso devemos seguir as recomendações da Organização Mundial de Saúde. Fiquem em casa, evitem aglomerações sociais e mantenham a higiene básica, pois só assim poderemos enfrentar essa pandemia, não somos imunes e todos são sujeitos a serem infectados”.

Fonte: De Olho nos Ruralistas
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