Caciques Munduruku: “Não aceitamos que nenhum vereador fale sobre regularização de garimpo nas nossas terras”
O povo Munduruku tem realizado inúmeros protestos contra a legalização dos garimpos e a mineração em Terras Indígenas
Depois dos protestos em Itaituba (PA), durante audiência pública da subcomissão de mineração da Câmara Federal, o povo Munduruku segue com mobilizações contra a liberação dos garimpos e a mineração em Terras Indígenas.
Nesta quarta-feira (2), cerca de 200 Munduruku protestaram na Câmara dos Vereadores de Jacareacanga, sudoeste do estado, para levar a mensagem de 140 caciques das aldeias da Terra Indígena Munduruku do Alto Tapajós aos vereadores do município.
“Não aceitamos que nenhum vereador fale sobre regularização de garimpo e mineração nas nossas terras e nem sobre o processo de indenização das Itīn’a Wuy jugu (urnas funerárias do povo Munduruku). Nenhum vereador está autorizado em falar em nome do nosso povo Munduruku”, diz trecho da carta divulgada logo após o protesto.
Na manhã desta quinta-feira (3), os Munduruku se dirigiram à sede do Ministério Público Federal (MPF) para solicitar uma audiência.
Leia a íntegra da carta dos caciques Munduruku:
Carta dos caciques Munduruku
Ajebuyxi gu ekawen tup: o papel dos caciques
Nós, do povo Munduruku, estamos manifestando pelo desrespeito que está acontecendo com as autoridades do nosso povo. Os pariwats garimpeiros e políticos estão explorando a nossa casa e o nosso território agindo com suas mentiras, sem nos consultar.
Somos 14 mil Munduruku, um só povo e o nosso território é único. Karosakaybu e nossos antepassados que deixaram de herança para cuidarmos, vivermos e criarmos nossos filhos. Não apoiamos as leis e projetos que nos ameaçam.
A nossa luta não é de agora, é muito antiga. Cansamos de ouvir os pariwat falar que somos incapazes, e por isso, sempre mostramos a nossa capacidade. São os nossos antepassados que nos ajudam a proteger o nosso território.
Estamos aqui manifestando e pedindo socorro, porque os próprios políticos e vereadores estão nos matando, ajudando a poluir nossos rios, dialogando com governo em nome do nosso povo. Não aceitamos que nenhum vereador fale nem sobre regularização de garimpo e mineração nas nossas terras e nem sobre o processo de indenização das Itīn’a Wuy jugu (urnas funerárias do povo Munduruku) . Nenhum vereador está autorizado em falar em nome do nosso povo Munduruku.
Temos o nosso protocolo de Consulta, de acordo com a 169 da OIT e antes de qualquer intenção que afete a vida do nosso povo tem que consultar os caciques, cacicas, lideranças, pajés, professores, e até nossas crianças tem que ser ouvidas. Não aceitamos reuniões em Brasília só com pariwat. Qualquer decisão importante tem que ser tomada dentro do nosso território.
Cadê os projetos de lei voltados para o povo Munduruku?
Nós não negociamos a vida e o direito do nosso povo. Exigimos respeito. Não queremos que se repita o que já aconteceu no governo passado em Jacareacanga, que nós Munduruku manifestamos para defender nossos direitos e conseguimos reverter a demissão de 70 professores Munduruku.
Por isso, comunicamos a população de Jacareacanga que, são nossos parentes que dependem dos rios, peixes, roças, caças e da floresta para viver.
Estamos cansados de não sermos escutados. Cansados de esperar os políticos trazerem as informações. Sabemos que o governo atual está ameaçando nossos direitos, nosso território, nossa vida.
Queremos uma audiência urgente com os vereadores junto ao Ministério Público Federal, para que possam ouvir o que temos para falar.
Vamos continuar lutando na defesa dos nossos direitos e da vida do nosso povo!
Jacareacanga, 02 de outubro de 2019