15/07/2019

Primeira Assembleia de Mulheres Munduruku discute demarcação, resistência e cultura

Atividade ocorreu entre 5 e 7 de julho e teve participação de indígenas dos povos Arapiun, Tupinambá, Kumaruara, Munduruku do Planalto, Guarani e Kaiowá

I Assembleia de Mulheres Munduruku. Foto: Rosamaria Loures

I Assembleia de Mulheres Munduruku. Foto: Rosamaria Loures

Por Associação de Mulheres Munduruku Wakoborun

Entre os dias 5 e 7 de julho, aconteceu na aldeia Nova Trairão a I Assembleia de Mulheres Munduruku, organizada pela Associação de Mulheres Munduruku Wakoborun, presentes em torno de trezentos participantes do Médio, Alto e Baixo Tapajós, com representantes dos povos Arapiun, Tupinambá, Kumaruara e Munduruku do Planalto, além das parentes Guarani e Kaiowá, todos aliados importantes para nossa luta.

As pautas foram de demarcação das nossas terras aos projetos e ações de fortalecimento do artesanato, da agroecologia, da comunicação e dos nossos direitos. Estamos na caminhada de mais um tempo de resistências. Construímos grupos de discussão para trocar conhecimentos e destas conversas saíram trocas muito importantes para nossa luta, como a possibilidade de ouvir as parentes Guarani e Kaiowá que nos mostraram coragem e um exemplo de força. Estamos construindo nosso Bem Viver, por isso falamos sobre saúde e o necessário retorno a nossa alimentação tradicional e costumes, também sobre educação, as professoras e professores discutiram sobre a importância urgente de regularizar as escolas indígenas para mais autonomia no sistema educacional, além da construção de um plano político pedagógico que respeite a identidade do povo em uma aliança entre o alto e o médio.

I Assembleia de Mulheres Munduruku. Foto: Rosamaria Loures

I Assembleia de Mulheres Munduruku. Foto: Rosamaria Loures

A assembleia foi muito importante para nós mulheres nos ouvir e fortalecer, conversamos ainda, sobre nossas urnas sagradas, itin’a, que o governo e as empresas destruíram a morada dos nossos espíritos. Não vamos desistir de cobrar o governo e as empresas pela destruição de nossos lugares sagrados. Mas avisamos que não negociamos nossa mãe terra, nossas mães das caças, dos peixes. Enquanto isso nossos parentes do médio Tapajós estão lutando, sem cansar, contra os diversos empreendimentos, protegendo assim as portas da terra Daje Kapap Eipi contra esta grande arma de destruição que chamam de desenvolvimento. Fizemos a carta de nossa I Assembleia de Mulheres para reforçar que vamos continuar lutando, pois somos a vida. Nossa assembleia foi muito bonita, parabéns. Ayacuya soat, Sawe!

Aldeia Nova Trairão. Foto: Valdenir Cosme Kaba Munduruku

Aldeia Nova Trairão. Foto: Valdenir Cosme Kaba Munduruku

 

Carta da I Assembleia das Mulheres Munduruku

Pintamos como a mulher guerreira Wakoborun, nós mulheres munduruku do alto, médio e baixo Tapajós, junto com os parentes Kumaruara, Arapiuns, Borari, Tupinambá, Guarani e Kaiowa tivemos a I Assembleia de Mulheres Munduruku, na aldeia Nova Trairão, de 05 a 07 de julho 2019. Contou com a presença de quase trezentas pessoas, quarenta e cinco aldeias do médio e alto Tapajós, incluindo a presença do cacique geral Arnaldo Kaba, representações das associações Pariri, Wuyxaxima, Cimat. Construímos esse momento importante para continuar a resistência das mulheres guerreiras, pajés, guerreiros e caciques. Nós sempre vamos falar da nossa luta e cuidar dos nossos territórios, que agora ele está doente pelas invasões, pelo mercúrio, contaminando e envenenando as nossas crianças e os nossos rios. E vamos continuar firmes, sem negociar jamais o nosso território, a nossa vida e o futuro do nosso povo.

Exigimos que empresas e o governo respeitem nosso modo de vida, nossas decisões, como está no protocolo de consulta do povo Munduruku. Já construíram as barragens no nosso território no Teles Pires, e destruíram os nossos locais sagrados Karobixexe e Dekoka’a. Nós não vamos desistir de exigir que o governo e as empresas que dinamitaram a morada dos nossos espíritos, devolvam ao nosso território nossas urnas sagradas, senão nós vamos sofrer também com essas consequências.

Nós construímos esse momento para resistência. Pensamos em projetos para construirmos cada vez mais autonomia para nossa luta. Trabalhamos juntos na construção do nosso plano de vida, com grupos de trocas para garantir o futuro das nossas gerações, fortalecendo o nosso artesanato, a agroecologia, os direitos de nossos professores e professoras que precisam de regularização das escolas indígenas para terem mais autonomia para trabalhar com a cultura e com nossa identidade.

Um momento muito forte para todos nós, na Assembleia, foi a troca de experiência com as parentes Guarani e Kaiowa, que nos contaram da sua luta no Mato Grosso do Sul, onde as suas terras foram roubadas para os fazendeiros. Ficamos muito emocionados com a coragem das parentes e a violência que sofrem com os fazendeiros, o governo, a polícia, nas retomadas de terras. Vimos que a nossa luta é uma só, e que sem luta, nós indígenas não conseguimos nada.

Agora querem acabar com mais um local sagrado: Daje kapap Eipi. Nós vamos sempre continuar na luta pela demarcação das nossas terras Sawre Maybu, Sawre Jaybu, Sawre Apompu e outros territórios, que nós sofremos com essas leis de morte querendo arrancar a nossas raízes.

Os nossos direitos que estão na Constituição são resultado de muita luta dos que vieram antes de nós. Vamos continuar lutando por eles, pelos nossos filhos e netos. Estamos construindo caminhos de vida, e não vamos parar, mesmo com esse governo que nos odeia e quer a nossa morte. Nós vamos continuar lutando pelo nosso território, pelas nossas florestas, pelo nosso rio que é como o sangue que corre no nosso corpo, que dá força para o nosso povo resistir. Sawe!

Aldeia Nova Trairão, 7 de julho de 2019

 

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