18/06/2019

Garimpeiros ameaçam indígenas no Vale do Javari

De acordo com lideranças, os garimpeiros estão entrando na aldeia, levando bebidas alcóolicas, assediando mulheres e ameaçando os indígenas que reagem ao assédio

Aldeia Jarinal, na TI Vale do Javari. Foto por José Rosha, do Cimi Norte I

Aldeia Jarinal, na TI Vale do Javari. Foto por José Rosha, do Cimi Norte I

Por José Rosha, Cimi Regional Norte I

Indígenas do povo Tsohom Djapa, da aldeia Jarinal, na Terra indígena Vale do Javari, estão sendo ameaçados por garimpeiros que se instalaram ao longo do rio Jutaí. As lideranças indígenas locais contaram no trecho ao menos dez dragas, embarcações projetadas para tirar areia ou lodo do fundo de cursos de água e aumentar portos.

A aldeia fica a cinco dias da sede do município de Jutaí viajando de embarcação pequena. Ali vivem 150 indígenas Kanamary e 42 do povo Tsohom Djapa, que é um povo de pouco contato com não-indígenas. De acordo com lideranças, os garimpeiros estão entrando na aldeia, levando bebidas alcóolicas e assediando as mulheres. Sob efeito do álcool, passam a ameaçar os indígenas que reagem ao assédio feito às suas esposas e filhas.

A informação foi divulgada inicialmente pelo vereador Adelson Korá Kanamary (PT) que é também membro da Associação Kanamary do Vale do Javari – Akavaja. O Coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Paulo Dollis Barbosa da Silva, disse que já comunicou o ocorrido à Coordenação Técnica Local da Fundação Nacional do Índio (Funai) e ao Ministério Público Federal da cidade de Tabatinga (AM).

A coordenadora da Funai local, sediada em Atalaia do Norte, disse que operações para retirada de garimpeiros costumam envolver vários órgãos governamentais naquela região em virtude das dificuldades de acesso aos locais onde os invasores se instalam.

Organizações indígenas têm denunciado invasões à TI Vale do Javari com frequência. Pescadores, caçadores, traficantes e garimpeiros vem causando conflito em várias localidades, afetando inclusive povos de pouco ou nenhum contato com a sociedade envolvente. De acordo com a coordenação da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari ali existem ao redor de 18 povos que se mantém sem contato com a sociedade não indígena.

Em setembro de 2017, o Ministério Público Federal (MPF) do Amazonas chegou a confirmar a ocorrência de um massacre contra índios isolados na terra indígena. Segundo o MPF, garimpeiros teriam assassinado índios conhecidos como “flecheiros”, em agosto daquele ano, no rio Jandiatuba, afluente do rio Solimões, no município de São Paulo de Olivença, na fronteira com Peru e Colômbia.

A coordenação da Univaja diz que está aguardando um posicionamento oficial da Funai e do MPF quanto às providências a serem tomadas para resguardar o território e a integridade dos moradores da aldeia Jarinal.

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