Saída de cubanos tira 90% dos profissionais do Mais Médicos em áreas indígenas
Esses médicos atendem 642 mil pessoas em 34 Distritos Sanitários Especiais, conforme dados da Organização Panamericana de Sáude, frente a uma população total, no Brasil, de 896 mil indígenas
A saída dos médicos cubanos do Programa Mais Médicos deve ter impacto no atendimento aos povos indígenas. Segundo dados de 2017, 90% dos médicos que atuavam pelo programa em áreas indígenas eram cubanos. Os números são do monitoramento do Mais Médicos feito pela Organização Panamericana de Saúde (Opas) e pela Organização Mundial de Saúde.
O atendimento a essa população específica é feito por 321 profissionais, segundo a Opas. Desse total, 289 deles são cubanos. Eles estão divididos entre os 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) e atendem, ao todo, 642 mil pessoas. O Ministério da Saúde considera que existem 818 mil indígenas no Brasil, 758 mil deles distribuídos em 5.366 aldeias. O Censo IBGE apontou 896 mil indígenas em 2010.
O Mais Médicos é considerado fundamental para o atendimento a esta população, pois aumentou em 79% o número de médicos que atuam nos DSEIs.
Especialistas em medicina familiar e comunitária, alguns dos médicos cubanos foram elogiados por conseguir resgatar saberes tradicionais dos indígenas brasileiros. Foi o caso de Javier Lopez Salazar, que atuou na aldeia Kumenê, na Reserva Uaçá, em Oiapoque, a 590 quilômetros de Macapá (AP). Ele ajudou a criar uma horta comunitária medicinal.
Algumas aldeias, como a Tupiniquim Irajá, localizada a 12 quilômetros do centro de Aracruz (ES), passaram a ter pela primeira vez um médico para atendimento exclusivo e em tempo integral.
No Parque Indígena do Xingu, na Aldeia Aiha Kalapalo, o médico cubano atendia os indígenas apesar da carência de materiais. Ele constatou que a falta do peixe, diante da contaminação dos rios, causa diabetes e problemas cardíacos na população, que passou a consumir alimentos baseados em carboidratos.
Governo Bolsonaro começa antes de seu início
A saída dos profissionais cubanos é uma das primeiras respostas na saúde à eleição do presidente Jair Bolsonaro (PSL). O governo cubano anunciou nesta quarta-feira sua saída do programa brasileiro, no qual atuava desde 2013, quando foi criado, em razão das “referências diretas, depreciativas e ameaçadoras” feitas pelo presidente eleito aos médicos cubanos.
Em agosto, Bolsonaro falou que expulsaria os profissionais cubanos, obrigando-os a passar pelo exame Revalida, usado para autorizar o exercício profissional comercial de médicos no país. Após o anúncio das autoridades cubanas, ele criticou, no Twitter, a decisão. “A ditadura cubana demonstra grande irresponsabilidade ao desconsiderar os impactos negativos na vida e na saúde dos brasileiros e na integridade dos cubanos”.