Plenária de abertura do ATL 2018 reúne quase três mil indígenas por Demarcação Já!
Mais de 100 povos de todo o país se preparam para uma semana de lutas, discussões e reivindicações
“A luta é o legado que nós povos indígenas deixamos para os nossos filhos”, destacou Kretã Kaingang na Plenária de Abertura do 15º Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília. Organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o ATL reúne há 15 anos delegações de povos indígenas vindos de todas as regiões do país. Perto de 3 mil indígenas se credenciaram no evento até o final da tarde desta segunda-feira (23).
Dando início a uma semana de lutas, discussões e reivindicações a plenária contou com rituais de povos de todas as regiões do país. Se apresentaram os Krahô-Kanela, Tapayuna, Xakriabá, Fulni-ô, Panará, Tabajara, Guarani, Guajajara, Potiguara, Tapeba, Tremembé, Kanindé, Pitaguary, Kalabaça, Kariri Xocó, Gavião, Tapuya, Awá Guajá, Pataxó e Munduruku.
Logo após os rituais, representantes da coordenação executiva da Apib se dirigiram às centenas de indígenas, apoiadores e jornalistas presentes. Kretã Kaingang, Davi Guarani, Alberto Terena, Valéria Paye, Kleber Karipuna, além das lideranças históricas Álvaro Tukano, diretor do Memorial dos Povos Indígenas, e Megaron Txucarramãe, falaram de forma enfática o significado deste ATL, que ocorre num momento do país de desmonte de direitos constituídos.
Kretã Kaingang, da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (ArpinSul), deu boas-vindas aos participantes e contou um pouco da história de luta dos povos do Sul desde a primeira edição do acampamento em 2003. “O ATL começou em 2003 com uma estrutura pequena e tivemos a coragem e audácia de naquela conjuntura pedir a demarcação das nossas terras. Hoje eu fiz questão de trazer a minha filha de 11 anos aqui para ela ver que a luta dos nossos povos não é fácil. E a luta é o legado que nós povos indígenas deixamos para os nossos filhos”, afirma Kretã.
Davi Popygua, da Comissão Guarani Yvyrupa, falou da luta pela demarcação da Terra Indígena Jaraguá, em São Paulo. Foram palavras de encorajamento àqueles que ainda almejam ter o direito ao seu território tradicional garantido. Popygua destacou: “Ano passado estivemos aqui ocupando o Ministério da Justiça cobrando uma resposta sobre a anulação da portaria da TI Jaraguá. Hoje temos uma vitória para contar aqui de toda essa luta que a gente faz, que é coletiva, de todos os povos indígenas do Brasil. A Portaria Declaratória do Jaraguá voltou a valer, a Justiça foi a nosso favor e hoje conseguimos essa vitória”.
Alberto Terena, do Conselho Terena, agradeceu aos mais jovens por estarem lá e os pediu para aprenderem com os mais velhos como fazer para conquistar seus direitos. “Ninguém tem que dizer como devemos viver, mas nós mesmos. Esse Estado entra nas nossas terras para roubá-las. Para dizer o que tem que se fazer com elas. Não aceitamos. Os Guarani Kaiowá morrem no Mato Grosso do Sul. Não aceitamos”, desabafou Alberto.
Valéria Paye, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), reafirmou a necessidade da união para construir a luta por direitos:
“Nós que vivemos nas terras indígenas sabemos o que sofremos. Três mil presentes nesse ATL 2018 é uma construção da nossa luta, das várias mãos. É preciso ter clareza disso. A Apib somos todos nós”.
Em homenagem às lideranças tradicionais, Kleber Karipuna, também da Coiab, relembrou a importância das lutas desde a Constituinte e convidou Álvaro Tukano para fazer uma fala representando as dezenas de lideranças, presentes ou encantadas, que construíram tal história. “Temos companheiros antigos aqui nessa longa luta travada pelos povos indígenas: Megaron, cacique Raoni e tantos outros e outras. Vocês agora, novas lideranças, são nossos filhos e filhas. Viva a Apib! Viva a nossa história de lutas!”, concluiu o Tukano.
Seguindo a programação do dia aconteceu ainda a Plenária das Mulheres Indígenas e na parte da noite rituais, danças, cerimônias e atividades culturais. O acampamento vai até sexta-feira (27) e apresenta na programação plenárias, debates, encontros temáticos, audiências com parlamentares, rituais e atos culturais, além dos livres espaços de vivência entre os mais diversos povos presentes.