Povos Indígenas no Congresso Nacional: afastando os maus espíritos
Final de tarde
Era o espírito da Constituinte baixando no Congresso, 24 anos depois. Os repórteres que estavam tocaiados na casa à espera de notícias, surpresos, viraram imediatamente suas câmeras e filmadoras para os indígenas
Os indígenas diziam, com satisfação, que estavam afastando os maus espíritos, aqueles que tentavam lhes fazer mal, ou melhor, procuravam desconstituir seus direitos constitucionais.
Foi o momento forte do dia. Aliás, eles têm sido incansáveis nessa luta pela manutenção de seus direitos na Constituição e na exigência do respeito às suas vidas e ao que lhes garante não apenas a Constituição mas também a legislação internacional da qual o Brasil é signatário. Faça sol ou faça chuva, as duas centenas de indígenas têm buscado compreensão, manifestando sua indignação e revolta, exigido cumprimento das leis. Estiveram em inúmeros gabinetes de parlamentares, de ministros do Supremo Tribunal Federal, de órgãos do governo.
Na Comissão de Direitos Humanos (CDH)
Plenário 1 do anexo 2 lotado. A Comissão de Direitos Humanos garantiu espaço para ouvir os representantes indígenas que vieram a Brasília dar seguimento às manifestações que dezenas de povos de todo o Brasil tem feito no decorrer desse ano, denunciando todos os atos, portarias, projetos de lei e propostas de emenda à Constituição que visam caçar direitos dos povos indígenas. Além de dar visibilidade às violências e violações dos direitos humanos a que estão submetidos, denunciaram a omissão do Estado brasileiro, a presteza da justiça em decisões contrárias aos direitos indígenas e as inúmeras iniciativas no Congresso que visam tirar direitos duramente conquistados na Constituição de 1988.
Dentre todas as iniciativas antiindígenas a que se sobressai é a Portaria 303 da Advocacia Geral da União (AGU). Foram unânimes em suas falas – rasguem, queimem, revoguem essa "porcaria". Nisso fizeram coro a presidência da CDH através das manifestações de seu presidente, deputado Domingos Dutra, através de mensagem por vídeo. Os deputados Érica Kokay e Pe. Ton se comprometeram em dar encaminhamentos, procurando colocar em pauta projetos de interesse dos povos indígenas, como o Estatuto dos Povos Indígenas e a criação do Conselho Nacional de Política Indigenista e procurar impedir que sejam votados os famigerados projetos oriundos principalmente da bancada ruralista, que pretendem inviabilizar a demarcação das terras indígenas (PEC 215 e 038) e escancarar o saque dos recursos naturais em terras indígenas, como o PL 1610 que permite da mineração em terras indígenas sem nenhuma salvaguarda. Pe. Ton, que preside a Comissão Especial a esse respeito, anunciou que esse ano esse projeto não será votado.
No Palácio do Planalto
Nas inúmeras manifestações das lideranças em Brasília não faltou a cobrança à presidente Dilma. A omissão do governo, as obras do PAC invadindo terras indígenas, a falta de decisão política em demarcar as terras indígenas, a falta de diálogo com o movimento indígena foram duramente cobrados. “Dilma: nos existimos”, dizia faixa voltada para o Planalto.
Uma comissão de representantes indígenas teve, na tarde de ontem, audiência com os ministros Luis Adams, da AGU, e Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República. Para os indígenas o diálogo foi positivo, mas não acreditam nas justificativas que o ministro Adams tenta dar para a manutenção da Portaria 303. Porém, garantiram que após a votação da matéria das condicionantes pelo Supremo Tribunal Federal a portaria não entrará em vigor automaticamente. Irão dialogar com o movimento indígena.
Hoje, dia 09, somos todos convidados a gestos de solidariedade com o povo Kaiowá Guarani.