A Oktoberfest na terra dos Xokleng: comemoração de uns, enchentes pra outros
A cidade de Blumenau,
O curioso é que esta festa iniciou a partir de uma catástrofe. Em 1983 e1984 enchentes aterrorizam a população, destruíram a cidade e quando perecia que tudo estava perdido o pode público local organizou uma festa para apaziguar os espíritos das águas e quem sabe recuperar economicamente da cidade.
Ocorre que a partir de então a cidade ficou protegida, não apenas porque os espíritos das águas ficaram agraciados com a festa, mas porque as águas ficaram presas no complexo de três barragens construídas nas cabeceiras dos principais rios que formam a bacia do Itajaí. Em novembro de
Também é desde a época da construção das barragens que o povo Xokleng enfrenta a cada outubro sua enchente, sem festa, sem tradição, sem bebida, sem alimentos e nesse momento sem remédios, completamente isolados. A água que não desce a Blumenau fica presa e alaga as terras indígenas e isola comunidades, como é denunciado todos os anos pelas lideranças daquela comunidade. A principal barragem fica exatamente no limite da Terra Indígena e nunca havia subido tanto como nesse ano. Uma comunidade está totalmente isolada há duas semanas, sem qualquer acesso. Solicitaram do governo do estado um barco pra transportar doentes e conseguir alimentos, mas ainda não foram atendidos. A escola de ensino médio recebe alunos de 6 aldeias, destas, pelo menos duas acrescem o percurso diário em
Se a Oktoberfest é o ícone que reaviva o orgulho germânico, revive a história da colonização, para os Xokleng é o ícone da desgraça, porque desde 1850 quando Hermann Blumenau iniciou a destruição da floresta e penetrou no território Xokleng criando a colônia que levaria seu nome, o povo Xokleng não teve mais paz.
São mundos separados não apenas pela história e cultura, mas especialmente pela memória. A memória que engrandece e traz orgulho a alguns se projeta sobre a desgraça do outro. Reconciliar-se com a história não se faz pelo esquecimento, mas pela memória viva.
É necessário que todos os povos tenham direito as suas festas. Que os erros sejam reparados o mais rápido possível pelas autoridades competentes – governo estadual e governo federal – e que jamais sejam repetidos.
Cimi Sul Florianópolis
Marina de Oliveira e Clovis Brighenti